03/05/2014

Ressonância Magnética - Uma experiência estranha






Logo que me mudei para a cidade de Araras, em 2009, precisei realizar um exame de ressonância magnética.

Naquela época, ainda não existia este equipamento por aqui e o local indicado era uma pequena clínica na cidade de Limeira, distante 30 Km, com aproximadamente 300.000 habitantes.

Convidei meu amigo Geovane Pinheiro para ajudar-me a encontrar o endereço naquela cidade, até então desconhecida.

Geovane era um sujeito muito prestativo e conterrâneo de Barra Mansa. Ajudou-me muito no encerramento das atividades da fábrica onde trabalhamos juntos.

Eu não possuía GPS e o Geovane conhecia a cidade tão mal quanto eu. Entramos em tantas ruas erradas que prometi a mim a compra de um GPS na semana seguinte.

Voltando ao assunto, essa foi a primeira vez que realizei um exame de ressonância magnética na vida e vou relatar como foi a experiência dentro daquele túnel frio.

A sala era climatizada e a temperatura extremamente baixa - e olha que não costumo reclamar de ar condicionado - e realmente chegava a incomodar.

O enfermeiro ou assistente sei lá, me informou que o exame duraria entre cinquenta a sessenta minutos.

Entrei na posição de cadáver, naquela máquina fria, cilíndrica, com os pés amarrados, numa espécie de maca, vestindo apenas um roupão branco e sapatilha. Tremia de frio!

Fui orientado que a respiração deveria ser bem lenta, quase parando, para que a resultado fosse eficiente e não precisasse recomeçar.

Recebi ordem para não mexer nem um fio do cabelo. Estava proibido de coçar e espirrar. A sensação era surreal.

E é justamente nessa hora que a coceira aparece...

O enfermeiro disse que voltaria logo que terminasse.

Não existia relógio no ambiente e isso também me perturbou muito, pois perdi a referência do tempo e queria saber quantos minutos faltavam para sair daquela caverna. A solidão era grande e a ansiedade maior.

O silêncio inicial foi interrompido por um ruído estranho, aleatório e pausado que a máquina emitia. A mente não conseguia relaxar. Eu ficava tentando adivinhar o tempo entre um ruído e outro, mas o intervalo não era constante. Desisti de contar ruídos e tentei pensar em outra coisa mais interessante, mas não conseguia.

Precisava saber quantos minutos faltavam, mas não tinha como.

Eram duas torturas simultâneas. Física devido a imobilização do meu corpo e psicológica por não saber quanto tempo faltava, enfiado naquele túnel solitário.

Os pés e as mãos começaram adormecer. Meu nariz começou a coçar... Engoli um espirro nem sei como. Nunca tinha engolido um!

Restava apenas torcer para o tempo passar rápido e desviar a mente. Tentei o tal pensamento positivo que me ensinaram quando era mais jovem, mas naquele estado até o pensamento positivo me abandonou. Estava preso naquela máquina desconfortável, sem liberdade e com frio.

Não sabia que uma hora demorava mais do que sessenta minutos! Pensava: Calma Alex, fique quieto, isso não é nada. Vai passar.

Depois de um longo tempo, o tal enfermeiro apareceu todo agitado para me libertar, puxando-me rapidamente para fora da máquina, desligando tudo, com cara de assustado e me pedindo desculpas, pois havia me esquecido além do tempo.

Olhei bem para ele, suspirei e perguntei quanto tempo.

Ele falou que fiquei duas horas dentro do túnel, mas rapidamente justificou de que não existia perigo, que eu podia ficar sossegado.

Olhei para ele mais uma vez e contei até 10 para não xingá-lo pela falha, mas na minha mente eu o xinguei com todas as letras!

Minha coluna doía, meus pés adormeceram, mas a sensação de liberdade foi tão boa que perdi a vontade de meter a mão dormente naquele cidadão desatento!

Fui para a sala de espera e encontrei o coitado do Geovane mexendo em seu celular na maior tranquilidade, que riu muito ao saber do esquecimento do tal enfermeiro.

Nota: Infelizmente o Geovane faleceu mês passado (Fevereiro) com trinta e poucos anos e deixo aqui registrado essa breve passagem como lembrança.


Alex Gil 25/03/2014

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