03/05/2014

Escrevendo um livro


Raros leitores!

Estou escrevendo um livro. 



Sempre que sobra um tempo entre os compromissos e os aborrecimentos, vou escrevendo. É uma forma de lazer.

Ainda falta polir e solicitar a revisão do texto a algum especialista, mas isso poderá ser feito no futuro... ou não!

Por enquanto, publico apenas a introdução.

Meus raros leitores, eu me chamo Zara Crotone e aproximo dos 80 anos. Não quero ser exemplo de nada e nem peço a sua compaixão pela minha idade. Preciso contar urgente a minha história, antes do meu retorno implacável ao grande nada. Meu prazo de validade está chegando ao fim, como tudo que nasce, cresce e desaparece na natureza. Com o decorrer dos anos, somos esquecidos ainda em vida de forma lenta e gradual. Primeiro pelas pessoas que não obtêm mais nenhuma vantagem com nossa existência, depois por aqueles que de alguma forma ajudamos, em seguida pelas amizades circunstanciais e por último por aqueles que amamos. Não necessariamente nessa ordem.
Daqui a duas gerações ninguém mais saberá o que signifiquei e realizei enquanto respirei. Mas isso não terá importância alguma.
Talvez algum descendente encontre minha última fotografia esquecida no meio dos documentos da família, no fundo de uma gaveta. Quem sabe até perca preciosos segundos repousando os olhos sobre aquela fisionomia desconhecida, impressa em papel amarelado pela ação do tempo. E isso também não será importante.
E provavelmente, meu herdeiro genético, num gesto desinteressado, descartará esse papel insignificante na lata de lixo e assim consolidar definitivamente  a extinção de minha última imagem. Nada disso também terá importância. Então, porque hei de me preocupar com a extinção se no final, perdemos tudo.
Para me confortar, penso, enquanto existo, nas palavras de Epicuro:
“O mais terrível dos males, a morte, nada representa para nós, pois enquanto estamos vivos a morte não existe e quando a morte acontece nós deixamos de existir”
Diante desse quadro pintado com tintas cinzentas, só me resta dedicar a minha vida aos poucos que me toleraram ao segundo verme que roer as frias carnes do meu cadáver, pois o primeiro foi inesquecivelmente dedicado à Bras Cubas, de Machado de Assis.
Fiódor Dostoiéviski, outro escritor desconhecido pela maioria, cita em  seu romance  “Memórias do Subsolo” que algum segredo da vida de um homem perece junto dele.
Porém, contrariando o mestre da literatura russa, pretendo perecer sem os meus.



                                                            CAPÍTULO I
A ambulância e sua sirene estridente interrompem o silêncio da noite escura e avança em alta velocidade com destino ao Hospital Santa Ágata.
Sigo afundado no banco carona do condutor com as pupilas dilatadas e o coração disparado, pressionando o meu pé involuntariamente contra o fundo do veículo, como se fosse um acelerador imaginário. O vento invade agressivamente as janelas e quase me tira o fôlego. A iluminação frenética do giroflex rodopiando seus raios ofuscantes na rodovia, transforma a corrida em um espetáculo angustiante e depressivo.
Alice, minha esposa, encontra-se desmaiada e sendo transportada na traseira da ambulância, ao hospital mais próximo de nossa casa.  Ela sentiu uma dor aguda no peito e foi foi reanimada a tempo com a chegada imediata da equipe de socorro.
Chegamos às 23:00h no portão principal da emergência do hospital particular, exatamente oito minutos após o seu desmaio. O condutor do veículo entra de ré, com as sirenes desligadas e estaciona próximo à porta de emergência. Salto da cabine segurando a maçaneta, com muita dificuldade e finalmente apoio meu peso no chão, reencontrando meu equilíbrio. Passo a mão no rosto para limpar a poeira da viagem e sinto minha pele fria como de um cadáver. Por pouco quase necessito de uma maca para receber cuidados ou ser notícia da seção necrológica do jornal da cidade.
Enfermeiros ágeis abrem a porta traseira, deslizam a maca com diligência e transporta Alice pelo corredor até desaparecer completamente. Imediatamente um funcionário uniformizado orienta direcionar-me à recepção para aguardar o atendimento.
Entro na sala ampla, asséptica e refrigerada. Na parede, um quadro branco revela o rosto de uma enfermeira linda, sorrindo com os olhos e o dedo indicador tocando suavemente seus lábios pedindo silêncio. 
Procuro acomodar-me no confortável sofá duplamente preocupado. Primeiro pelo estado de saúde de Alice e depois por...
Bem! Não quero pensar sobe isso agora... – desviei o pensamento
Espero que Alice se recupere o mais breve possível e possamos voltar para a nossa casa. – pensei.
Enquanto isso, o segurança do hospital estica o braço em direção ao balcão para preenchimento da ficha cadastral. E essa é justamente a minha segunda preocupação!
Obedeço a orientação recebida e me dirijo até a cadeira em frente ao balcão. Comunico que estou acompanhando a minha esposa que acabara de entrar na emergência do hospital.
Uma recepcionista com rosto andrógino, mãos compridas e olhar imponente, dispara a primeira pergunta de forma robotizada:
- Boa noite senhor! Para que possa ser atendido com todo o conforto e eficiência no Hospital Santa Ágata, necessito que me forneça, por gentileza, seus dados para iniciarmos o cadastro.
- É a primeira consulta, senhor? – emendou.
- Sim. É a primeira vez que entro aqui. - respondi

...........

Escrito por Alex Gil em 02/02/2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário