Caro leitor, hoje contarei uma
história particular com uma foto que possui um significado todo especial para a
minha vida.
Quando eu
era menino, passava pela calçada da fábrica desta fotografia em preto-e-branco,
parava no portão e ficava olhando aí para dentro, exatamente nessa área onde aparece esse caminhão. É claro que o cavalo não é de minha época!
Com
as mãos apoiadas no portão de entrada, eu ficava olhando e admirando as pessoas
com uniforme branco, botas, “quepe” na cabeça igual “soldado” e pensava: Quando
crescer vou trabalhar nessa fábrica!
Ali
onde está encostado o caminhão era a Recepção de Leite com seu teto construído
em formato de abóboda, inventado pelos povos mesopotâmicos e difundidos pelo
império romano (fonte Wikipédia). Em frente ao cavalo situava-se a janela do
Laboratório. Logo atrás da Recepção de Leite, se vê as duas chaminés das
Caldeiras, sendo uma de tijolinho e outra de metal. Aquela construção lá no
alto do morro era o tratamento de água da cidade.
Quando
completei 19 anos consegui realizar esse sonho e comecei a trabalhar nessa
fábrica no dia 1º de dezembro de 1986 e fui muito feliz na minha carreira
profissional.
O
tempo passou e em 2009 tive a missão de ser o último colaborador dessa fábrica,
pois as atividades desta unidade seriam transferidas para outro estado.
Não
foi fácil ser o último a apagar a luz do Escritório Técnico até chegar ao ponto
de não ter mais ninguém para me despedir...
Todos
meus colegas e amigos foram partindo aos poucos até que me vi só, ocupando uma
sala, sem nenhum “colaborador” para falar “bom dia e até amanhã”...Tudo estava desligado
e desértico.
Andava
pelos corredores e o silêncio gritava nos meus ouvidos.
O
último dia foi o mais difícil de toda a minha vida profissional. O relógio
marcava 17:30h quando desci os dois lances de escada, caminhei pelo corredor e fiquei
parado na portaria, naquele mesmo portão que um dia quando menino ficou olhando
para dentro da fábrica para dar a última olhada!
Foram
momentos de muita tristeza observar essa mesma área que vemos nessa foto. Senti
um nó na garganta e parti definitivamente, deixando para trás e para sempre a
segunda fábrica Nestlé no Brasil, minha primeira escola profissional, a minha
segunda casa, sonhos, amigos e 24 anos de história. Felizmente o tempo passou, as
lágrimas secaram e o sol voltou a brilhar!
Hoje
tenho 50 anos de idade e aproveito este dia para registrar que nesta data, 1º
de dezembro de 2016, completei 30 anos de trabalho na mesma fábrica, um fato
inédito nos dias atuais, porém em outra cidade (Araras-SP). Não tenho vergonha
ou necessidade nenhuma de demagogia para registrar que essa empresa é a minha
segunda "família" e onde passei a maior e melhor parte da minha vida.
Entrei
solteiro, casei e tive filhos trabalhando na mesma empresa, tenho muito orgulho
disso e pretendo ficar por muito tempo!
Os
jovens podem até julgar estranho um profissional ficar tanto tempo na mesma
empresa, dada a velocidade, ansiedade e insatisfação que a atual geração
carrega, mas olhe, preciso dizê-los uma coisa: Para mim, esse tempo não foi um
fardo como muitos podem considerar, pelo contrário, depois de 30 anos posso
atestar que a chave para uma vida profissional ética e satisfatória é ter muita
boa vontade, humildade, honestidade, querer aprender todos os dias, respeitar o
outro e sempre dar o melhor de si. Agindo assim, as nuvens e as dificuldades ficam para trás até que um dia olhamos orgulhosos e recompensados, com
a certeza de que a luta valeu e que as tristezas inevitáveis e dissabores
serviram de aprendizados e fortalecimento.
Queria
dizer também que o prazer de trabalhar não se encontra atrás dos muros, marcas,
produtos ou portões de outras empresas. Essa busca está bem mais perto do que
imaginamos e essa energia que nos move e impulsiona, junto com a satisfação de
realizar um trabalho bem feito está dentro
da gente e quem não consegue perceber isso, infelizmente não encontrará
em lugar nenhum, por mais que procure.
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