03/05/2014
As estrelas e as algemas
Noite quente e abafada de verão. Deixo a janela aberta para suportar o clima seco.
Minha cama permite observar aqueles pontos brilhantes viajantes do céu.
É muito raro olharmos mais do que alguns minutos para o alto.
Nossa vida, sempre na horizontal rouba esse ponto de vista.
Com a enorme distância, pensamos que tudo aquilo piscando permanece estático.
Nossos sentidos não são confiáveis, apesar de acreditarmos nisso.
Antes do meu nascimento aquelas coisas já estavam lá. Quando eu não mais existir, elas continuarão lá.
Quando criança, nunca passou pela minha cabeça e ninguém me contou que aqueles corpos celestes, com luz própria, tão longínquos, eram na verdade sóis parecidos com o nosso sol, situados uns mais pertos, outros mais longe de nosso planeta.
Através dos livros, aprendi que quase todos os elementos que existem na natureza foram criados pelas estrelas. Isso quer dizer que cada estrela é um pedacinho da gente. Somos seus descendentes casuais olhando para o seu passado. Muita gente nasce e parte, sem pensar nisso. A luta pela sobrevivência deixa pouco tempo para contemplação da natureza! Vivemos numa caixa de alvenaria e os compromissos assassinam o tempo. Contemplar hoje em dia virou palavra mal vista.
Às vezes dá vontade de caminhar livremente, colocar os pés descalços no chão, sem chinelos, tênis ou qualquer barreira que impeça colocar os sentidos em alerta máximo. Sentir o cheiro do mato, o ruído do vento, a maciez da terra entre os dedos sob o céu estrelado...
Liberdade é ter a opção de escolher o próprio caminho e sair da cama à noite, numa noite silenciosa e segura sem precisar explicar ao mundo ou dar satisfação para aonde você vai. (Praticamente impossível quando se é casado)
O mundo vai te rotular de louco, por caminhar sozinho num momento em que todos dormem. Vai também tentar controlar o seu pensamento e sua liberdade.
A ordem é padronizar o seu tempo, ritmo, velocidade, vontade... tudo!
Tente ser livre...
Antes que se acostume com suas algemas,
Antes que fique impossibilitado de percebê-las,
Antes que ame suas correntes e acredite que não vive sem elas,
Antes que se transforme em mais um escravo voluntário.
Alex Gil 22/02/2014
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