Título: Contra um mundo melhor.
Autor: Luiz Felipe Pondé
Trecho do livro:
O grande escritor pernambucano Nelson Rodrigues costumava
falar que vivemos numa época dominada pelos idiotas. Quem são esses idiotas?
Como reconhecê-los? O que eles costumam falar? Antes de tudo, eles são maioria
esmagadora e, como a democracia é um regime fundamentado na maioria, são
vencedores pela simples força numérica. A luta contra os idiotas é uma batalha
perdida. Falam demais. Acreditam que, apenas porque têm boca, podem emitir
opiniões sobre tudo. Como viraram engenheiros e médicos e professores, porque o
“conhecimento” virou ferramenta de ascensão social, hoje os idiotas têm
diplomas. Mais um dos danos da sociedade do “acesso” em que todo mundo tem
“acesso”, na qual quase não há conteúdos que valham qualquer “acesso”. A
maioria da humanidade sempre foi ignorante (nascia, reproduzia e babava na
gravata, como dizia Nelson), mas, com o advento da sensibilidade democrática
para o número e a estatística, essa maioria tomou a palavra. Toda a “ética”
democrática é voltada para a banalização do conhecimento a serviço da
autoestima dos idiotas. Não os ofenda porque eles venceram. Acreditam
firmemente no que pensam enquanto veem novelas na TV. Deduzem argumentos sobre
a vida a partir de suas experiências paroquiais. Quando se sofisticam, isto é,
quando atingem um tipo de cartão de crédito mais “exclusivo” ou “esquentam”
seus diplomas tirados em universidades periféricas, tornam-se mais ruidosos. E
aí pensam que se tornaram indivíduos. Pensam que têm vida interior própria. Sou
daquele tipo de pessoa que simpatiza fortemente com o mundo da aristocracia
(não necessariamente de sangue nem de dinheiro, às vezes apenas de mérito puro
e simples) simplesmente porque julgo que a minoria sempre carregou a humanidade
nas costas. Isso acontece desde o recinto doméstico da sala de aula (poucos
alunos valem a pena) até os grandes fatos históricos (fruto do esforço de
poucos homens e mulheres).
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