27/12/2017

Flores Negras


Caminho por becos escuros e pedras molhadas
Rochas lisas e paredes mofadas
Noite fria e silenciosa
Flores negras cravadas nas pedras 
Selva com flores mortas 
Muitos gritos abafados 

Gritos sem necessidade 
Gritos sem desculpas 
Gritos sem piedade
Gritos que machucam

Flores murchas pelo caminho
Flores negras sob a chuva
Flores sem perfume
Flores sem vida
Flores,flores,flores!

Gritos que matam
Gritos que enterram o prazer
Flores negras pisadas no escuro
Flores negras que adornam o túmulo
Silêncio absoluto! 
O grito não é mais ouvido
O grito não mais importa
Nunca mais desrespeitado
Gritos sem ecos
Flores negras sobre a pedra
Ah! como eu gostaria de me encontrar
Antes que eu desapareça.



Esses versos são de autoria de Alex Gil

17/12/2017

Tua força de vontade te salvou


Madrugada de sábado.
Disparo da cama sonolento em direção ao banheiro. 
Estico a mão na torneira e aciono a alavanca que libera o seu jato.
Um pequeno inseto pretinho parecido com um besouro sobe pela louça da pia úmida.
A minha mão de forma automática obedece a um desejo inexplicável de direcionar a água em sua direção.
A operação impensada foi um sucesso. Não comemoro e também não me entristeço. 
Apenas lavo as mãos de forma automática, fecho o torneira e retorno à cama.
O relógio avança pela noite silenciosa e estou de volta ao mesmo ritual.
Ao lavar as mãos, vejo o insistente inseto na pia tentando escalar aquela superfície lisa com pouco sucesso.
Novamente direciono o fluxo de água até o corpo do inseto, empurrando-o em direção ao fundo da pia até desaparecer.
Adormeço pela segunda vez.
Amanhece e sigo meu ritual ao banheiro.
Lá está o inseto agitando suas patas freneticamente na pia sem sucesso.
Pela primeira vez consigo pensar sobre aquele momento e do alto de minha "onipotência" determino: 
- Esse inseto merece viver!
A mesma mão que tentou eliminá-lo o transporta até um local seguro fora da casa e o deixa salvo à sombra do muro.

- Tua força de vontade te salvou! Merece viver. Vá em paz!



Alex em 17/12/2017

08/10/2017

Anjos de férias?





Recentemente, conversei com uma pessoa muito próxima que acredita em anjos e perguntei por que esses supostos anjos não atuaram na tragédia da creche de Janaúba, onde um funcionário colocou fogo em crianças e em si, matando 8 crianças, a professora, ele próprio e deixando 24 pessoas internadas.
É claro que as respostas não me convenceram.
Sou uma pessoa cheia de defeitos e limitada, mas certamente arriscaria a minha vida para salvar as crianças das chamas. Eu não suportaria assistir ao sofrimento com o poder de evitar e não fazer nada.
Quando um evento termina BEM, logo é atribuído à ação de forças sobrenaturais ou que tudo está sob "controle"...
Quando algo NÃO termina bem, SILÊNCIO, DESCULPAS CONTRADITÓRIAS ou DESONESTIDADE intelectual. Definitivamente meu cérebro funciona de forma diferente.
Estou com pouco paciência para explicações convenientes!


20/08/2017

Melancolia



Uma breve entrevista sobre a melancolia. Acho Pondé arrogante mas nessa matéria até que ele foi desafetado. Gostei!




12/08/2017

Papai, a culpa não é sua!






Papai, ainda estou aqui!
Quanto tempo não te vejo!
Parece que foi ontem o seu último dia!
Jamais esquecerei! 
Eu tinha apenas 14 anos quando você se foi embora para sempre! 
É duro dizer "para sempre", mas a vida real é assim. 
Muita gente vai dizer que um dia nos encontraremos, mas não tenho essa ilusão. 
Dizem às crianças que as pessoas quando morrem se transformam em estrelas no céu. 
Entretanto, aprendi nos livros de ciência que estrelas não são pessoas. 
Papai, eu já cresci e aprendi também que devo aceitar a finitude da vida como um processo natural e inevitável. 
Quando você nos deixou, eu acreditava em algumas fantasias atraentes e reconfortantes, mas durante a sua ausência, tive que buscar explicações racionais sobre o mundo. 
A literatura e alguns autores me apresentaram algumas respostas mais coerentes para as minhas necessidades. Do céu recebi apenas o silêncio, mas disso também não reclamo. A vida é assim e pronto! 
Infelizmente tenho que aceitar que nunca mais vamos nos encontrar, por mais fascinante e encanto que a ideia ao contrário possa seduzir. 
Hoje interpreto a vida de uma forma diferente, mas a culpa não é sua. 
Aceito a beleza do jardim sem as fadas como bem disse Douglas Adams e estou bem assim. 
Sei que você jamais lerá essas palavras e nem saberá como foi a nossa vida depois que partiu, mas se pudesse te "dizer" algo, seria para agradecer por tudo e que você fez muita falta, além de sentir saudades até hoje. 
Uma pena não estar mais aqui papai! 
A culpa não é sua! 
Não foi fácil viver sem você, mas sobrevivemos. 
Ainda guardo muitas memórias de sua existência e como gostaria que estivesse almoçando com a gente. 
Depois que você se foi, passamos por muitas dificuldades, mas hoje estamos bem. 
Mamãe ficou viúva com três filhos adolescentes e fez de tudo para nos criar com dignidade, honestidade e com poucos recursos financeiros. 
Na época, com quatorze anos, eu não me conformava com a sua partida. Eu pensava que a vida era controlada por um Deus. Com o tempo, descobri que não existe ninguém no controle e que os eventos da vida não são programados e, portanto, a culpa não é de ninguém. Eu sou pai e jamais deixaria três crianças em dificuldades e sem o seu pai. 
De toda dificuldade que passamos, a sua presença foi a nossa maior carência e a que mais sentimos. 
Hoje eu sei que a natureza é cega, indiferente e implacável às nossas necessidades e que os humanos criam fantasias e outro mundo para suportar melhor a vida e por não aceitar a finitude. Sei também que a natureza não é justa e nem injusta, somos nós humanos quem criamos conceitos, classificamos e rotulamos as coisas. 
O roteiro da vida não é escrito por ninguém e a história de cada um é resultado de uma série de eventos e escolhas que realizamos durante a nossa existência. Não temos controle sobre grande parte de nossa vida e tentamos sobreviver fazendo o melhor que podemos (nem sempre), trabalhando incessantemente para termos uma vida satisfatória. 
Papai, dizem que nada acontece por acaso. 
Eu não acredito nisso. Muita coisa acontece por acaso, todos os dias. 
Inclusive mortes prematuras como a sua. 
Como disse anteriormente, a natureza não tem culpa. 
Todos somos vítimas. 
A culpa não foi sua. Aliás, a culpa não é de ninguém! 
A morte faz parte do processo da vida. 
Lembro também que nunca me deu um tapa, mas com o tempo levei alguns tapas da vida e isso também faz parte do aprendizado. 
Bem, tenho que terminar esse texto, antes que pensem que eu não esteja bem de saúde mental, escrevendo coisas para um pai que não existe mais... Mas isso não tem importância. Por uns instantes pude me lembrar de meu pai e sentir grato por ter existido, recebido o seu amor e a sua carga genética. Ainda sinto muito a sua falta, mesmo depois de tanto tempo! Teria muitas coisas para conversar, mas a nossa história foi interrompida e nunca conseguiremos colocar os assuntos em dia. Sinto muito, mas a culpa não é sua! 

Beijos imaginários de seu primogênito Alex! 
  
Papai e mamãe
Visita à Aparecida-SP
Papai adolescente



Casamento de papai e mamãe



No Jardim das Preguiças
Papai rapaz

Ele gostava de carnaval
Papai com 26 anos

Foto rara dele sorrindo






06/08/2017

Ferro velho, eu voltei!



Fazia muito tempo que eu não entrava num "Ferro-velho", mas a vida dá voltas e a necessidade nos obriga a procurar por estes lugares. 

Hoje vou contar uma história recente que ninguém está interessado, mas que apesar disso, gosto de registrar. hehe

Meu filho teve o seu carro furtado enquanto trabalhava e felizmente conseguimos recuperar o veículo abandonado na vizinha cidade de Limeira, no interior de São Paulo. Isso só foi possível porque o motor quebrou durante a fuga do ladrão. 

O carro é um Volkswagen Gol antigo e tive que procurar um bloco num ferro-velho, pois a compra de um novo é inviável. 

O ambiente do Ferro-velho é o mesmo de três décadas atrás quando eu precisava encontrar peças para o meu velho fusquinha. Nenhuma evolução ou organização. Peças espalhadas e amontoadas em tudo quanto é lugar, no piso, nas paredes, no balcão e onde o nariz apontar. 

Entrei, cumprimentei a pessoa do balcão e perguntei se ele possuía um bloco de motor para o Gol 1.0. 

O sujeito, do alto de sua preguiça e sentado num banco de madeira, apenas levantou o braço e apontou aos fundos da pocilga. 

Fui sozinho até o local onde seu dedo indicava, para procurar a peça! Logicamente eu não consegui identificar qualquer coisa no meio daquela bagunça. Eu esperava que pelo menos ele me acompanhasse até o local! 

Depois de alguns minutos procurando a esmo um bloco no meio de um monte de tralha, desisti e quando já estava saindo finalmente o sujeito reapareceu e me perguntou: 

- O bloco que você procura é para qual Gol? 

- É um bloco para um Gol 1.0, 16 válvulas. - respondi 

- Mas você não sabe se é Gol Bola, Geração 2, 3, 4, 5...? 

- Não, eu não sei. - respondi naturalmente. 

- MAS VOCÊ NÃO CONHECE CARRO? - perguntou-me quase gritando e surpreso pela minha ignorância nessa área. 

Nesse momento, respirei fundo e me arrependi de ter entrado, mas já era tarde. Ele deduziu que se eu não conhecesse a bosta das gerações do veículo Gol eu era um idiota, só pode! 

E a coisa não parou por aí. 

- Está vendo aquele carro ali? É um Gol Bola. - ensinou-me o rei da sucata. 

E prosseguiu transmitindo seu maravilhoso conhecimento sobre modelos de carros! 

Está vendo aquele carro ali na calçada? É um XXX! - Continuou o sujeito em tom professoral, tentando me salvar da ignorância de não ter esse "valioso" conhecimento. 

- Respondi a ele que aquele carro que ele apontava eu conhecia bem, afinal era o meu e perguntei-o também irritado se ele estava me achando idiota por não conhecer os tipos de Gols existentes!!! 

Como a conversa não estava sustentável, fui embora com o "conhecimento" de merda adquirido e torcendo passar mais 30 anos para não precisar entrar novamente num ferro-velho. 

Bem, antes de terminar, gostaria de registrar que não tenho os talentos que gostaria, mas até que consigo fazer algumas coisas satisfatórias. Até gostaria de ter determinados talentos, mas infelizmente talento não depende do desejo. 

Existe gente que escreve muito bem. Outros tocam instrumentos musicais que encantam. Há gente que fala inglês de forma invejável. E há aqueles que pintam quadros ou esculpem de forma extraordinária. Algumas pessoas possuem uma memória prodigiosa. Esses são exemplos de talentos que eu gostaria de ter ao invés de saber as gerações ou tipos de motores de carros que nada acrescentam na minha vida! 

Por hoje é isso!


22/07/2017

Na floresta não existe censor





Na floresta não existe nem rebanho, nem pastor. Quando o inverno caminha, segue seu distinto curso como faz a primavera. Na floresta não existe ignorante ou sábio. Quando os ramos se agitam, a ninguém reverenciam. 

O saber humano é ilusório como a cerração dos campos que se esvai quando o sol se levanta no horizonte.
Na floresta não há crítico nem censor.

Gibran, Khalil


Nota do autor do Blog Banal: Os rebanhos se organizam em qualquer lugar.


21/07/2017

Quem é Deus segundo Ludwig Feuerbach



Recentemente conheci um autor chamado Ludwig Feuerbach, nascido em 1804 e falecido em 1872 com umas ideias bem interessantes. 

A sua obra defende, entre outras coisas, que Deus é uma criação humana e que foi o ser humano que criou Deus, ou seja que Deus foi criado pelo homem à imagem e semelhança da própria personalidade humana! 

Interessante esse ponto de vista. Acho que poucos pensaram dessa forma. Segundo ele, a criação de Deus foi bem simples. O homem pegou a sua própria personalidade, retirou todos os vícios, deixou apenas as virtudes e idealizou essa mesma personalidade humana destituída de defeitos e dotada apenas de virtudes como pertencendo a um ser eterno divino chamado Deus. 

Para criar o Diabo, o ser humano pegou exatamente aquelas características negativas de sua própria personalidade, removeu todas as características positivas e considerou apenas os defeitos de sua própria personalidade! 

Assim sendo, o Diabo seria a representação, digamos assim, substantivada dos próprios defeitos da personalidade humana e quanto que Deus seria a substantivação de todas as características positivas da própria personalidade humana!


02/07/2017

Schopenhauer sendo Schopenhauer



É realmente inacreditável como a vida da maioria dos homens flui de maneira insignificante e fútil, quando vista externamente, e quão apática e sem sentido pode parecer interiormente. As quatro idades da vida que levam à morte são feitas de ânsia e martírio extenuados, além de uma vertigem ilusória, acompanhada por uma série de pensamentos triviais. Assemelham-se ao mecanismo de um relógio, que é colocado em movimento e gira, sem saber por quê. E toda a vez que um homem é gerado e nasce, dá-se novamente corda ao relógio da vida humana, para então repetir a mesma cantilena pela enésima vez, frase por frase, compasso por compasso, com variações insignificantes.


Arthur Schopenhauer


18/06/2017

Conhecendo a Biblioteca de Araras-SP



Depois de algum tempo morando na cidade de Araras, tive a curiosidade de conhecer as várias salas da Biblioteca Municipal Martinico Prado. 

O espaço é limpo e bem organizado. Para testar a disponibilidade de livros, perguntei à bibliotecária se existiam livros de Nietzsche. Após consultar no sistema, ela disse que existiam apenas três, sendo uma biografia, Nietzsche para estressados e Quando Nietzsche Chorou. Nenhuma obra escrita pelo filósofo do martelo! Sem problemas, isso de forma alguma diminui a importância do local.

Ainda bem que possuo muitos livros em minha casa e esse é um dos motivos que levei muito tempo para conhecer a biblioteca da cidade. Antes de me despedir, agradeci e perguntei-a se eu podia tirar uma fotografia do ambiente para guardar de lembrança. Ela respondeu de forma lacônica que não!

Fiquei surpreso e perguntei a razão dessa negativa. Ela me explicou que existe muita gente "má intencionada" /sic/ e que por isso não podia!

Falei que não via motivo para tal proibição pois o espaço estava muito bem apresentado e que se ainda fosse um museu onde o flash pudesse causar algum dano à obra, mas não era o caso... Enfim, comentei que não vi nada que desabonasse o local, pelo contrário a minha intenção era a melhor possível, mas mesmo assim ele foi firme e me disse que eu deveria ter uma autorização especial da prefeitura para registrar fotografias daquele ambiente público! É claro que desisti da fotografia. Será que terei que solicitar autorização para registar fotografias do Lago Municipal, do Parque ecológico e do Caça Mirage em frente ao Ginásio Municipal também? Estranho né?

A história é irrelevante, mas achei importante deixar aqui no Blog Banal como recordação dos conceitos dessa época.



10/06/2017

Sobre o paraíso



Imagine que você acorda meio sonolento, abre os olhos e percebe que está num lugar paradisíaco. 

Temperatura agradável, visão deslumbrante e uma sensação de bem estar nunca antes sentida. 

Você olha em volta e percebe a existência de outas pessoas nas proximidades mas não reconhece nenhum rosto familiar. 

Um pouco mais distante, vários grupos conversando animadamente demonstrando alegria e amizade. 

Diante da solidão, você resolve caminhar entre os jardins floridos para encontrar algum parente ou amigo naquela agradável manhã. 

Depois de um longo tempo procurando, finalmente percebe que não existe ninguém conhecido naquele lugar deslumbrante. Parece que você está numa festa de gente estranha. 

Apesar do local ser maravilhoso, você sente necessidade de reencontrar pessoas que tornaram a sua existência mais suportável e compartilhar aquelas sensações. 

Finalmente você descobre que os seus filhos, parentes e amigos não estão naquele lugar maravilhoso e, pelo contrário, encontram-se num outro muito desagradável, com calor insuportável e sentindo muita dor. Todos os dias e para sempre! 

Mas, a parte disso, você ouve uma pessoa querendo te consolar dizendo para não se incomodar com a situação dessas pessoas queridas, pois você conseguiu salvar a sua "vida" e isso é o mais importante. 

- Seja feliz eternamente, afinal você foi salvo! 

- Seus filhos e amigos tiveram a mesma chance do que você e portanto estão recebendo o castigo que merecem. A culpa não é sua! Sorria, você conseguiu o seu maior prêmio, a vida eterna! 

Eu hein! Prefiro dormir eternamente do que "esperar" por este pesadelo! 


03/06/2017

O problema é a vida?


Primeiro eu achava que o problema era a segunda-feira.
Depois pensei que era o mês de maio.
Hoje desconfio que o problema seja a vida!



07/05/2017

Meu celular, meu carrasco.



O celular desobediente despertou-me às 6:30h! Que absurdo! Hoje é domingo e por um lapso de minha parte, esqueci de desprogramá-lo. Acordo cedo todos os dias mas hoje eu não queria ser lembrado pelo carrasco que me acompanha e determina o meu precioso e finito tempo. Tudo bem, acontece. Percebi que com a passagem do tempo, suportamos melhor a vida metódica, programada e cheia de normas! Não quero dizer que aceitamos, disse apenas que "suportamos".

Pensando bem, estou exagerando um pouco, no fundo já me acostumei com o destino. Seria essa reconciliação com o destino o tal "amor fati" cujo filósofo do martelo conceituava?

Considerando que a cama estava agradável e favorável, estiquei meu braço e com a ponta dos dedos silenciei fulminantemente o meu tirano com a satisfação de quem vence o inimigo.

Ah, se eu tivesse o poder de silenciar tudo aquilo que não quero com apenas um toque no gatilho da justiça!


Alex, Outono de 7/5/2017. 


06/05/2017

É sexta-feira!





Missão cumprida. O corpo caminha lentamente pelos corredores, acompanhado por diálogos internos e eterna esperança por dias melhores. Anoiteceu rápido. O crachá na ponta dos dedos na expectativa de liberar a saída provisória como uma chave que abre as algemas. A moto solitária e molhada aguarda no estacionamento feito um cavalo mudo e obediente. Sexta-feira o trânsito é mais intenso. Do lado de fora, rostos estranhos e olhos arregalados atrás dos capacetes, avançam com mais vontade pelo asfalto. Os ponteiros do relógio giram sem parar. O tempo e a necessidade são algemas invisíveis. Sigo entre o asfalto, a cama e a catraca. Anoitece de novo. Sigo novamente 
entre o asfalto, a catraca e o asfalto... Eterno retorno!

Alex 05/05



17/04/2017

Pássaro que não voa



À medida que o tempo passa nossas asas ficam pequenas, podadas e não arriscamos voar mais alto e distante. Os voos acontecem de forma comedida e por pequenas distâncias. O trabalho, as obrigações e a falta de recursos financeiros deixam poucas oportunidades para aventuras. A prole e o sistema limitam a liberdade e mantêm uma cordinha invisível amarrada aos pés. O dia amanhece e não se ouve mais o canto. Perde-se a vontade de voar para outros lugares. Os pássaros daquele ambiente tornaram-se silenciosos e extintos. Além disso, os poucos que ainda voam, não possuem interesses e cantos similares. O isolamento ao ninho torna-se inevitável. As obrigações diárias exaurem a energia, restando apenas o exercício intelectual introspectivo, a contemplação da natureza e a vasilha cheia de sementes de girassol.
A vida segue enquanto observa o sol através das frestas da gaiola. Os sonhos, reflexões e voos ficam restritos apenas à imaginação desse pássaro encarcerado que já não canta e não mais se encanta.
Muito tempo sem bater as asas nos tornam mansos, apáticos, resignados e sem vontade de voar.


Alex 17/04



09/04/2017

Sobre a amizade


Amizade é uma coisa legal mas nem sempre é possível ter amigos. 


Desde criança, sempre tive poucas amizades e meus contatos se resumiam aos meus irmãos, primos e eventualmente algum vizinho. Quando adolescente, morando no interior do Rio, o aglomerado de casas e pessoas vivendo muito próximas, em tese favorecia a aproximação. Porém, mesmo nesse ambiente fértil eu não conseguia fazer parte de um grupo maior que duas ou três pessoas, sendo bem otimista. Minha interação com as pessoas sempre foram limitadas e circunstanciais. 


O tempo passou e hoje vivo praticamente para o trabalho, minha pequena família, um cachorro, um gato, meus livros e a internet. No trabalho, tenho amizades que duram o tempo exato da carga horária. É um tipo de aliança e interesses mútuos dentro das paredes corporativas. Existe certo companheirismo, respeito, colaboração e até certa dose de humor, mas a pressa e o foco no trabalho não deixam espaço para uma conversa mais elaborada, reflexiva e tranquila sobre a vida. Tudo ocorre na velocidade dos ponteiros do relógio... Na vizinhança eu também não possuo amigos. Apenas compartilhamos a mesma rua e o ar que respiramos.

Não critico as alianças no trabalho pois são extremamente importantes. Ajudam, sustentam, protegem e possibilitam a sobrevivência. Acredito que na selva do mercado, uma boa aliança possui papel mais importante do que a "amizade tradicional". Durante a minha existência tive muitos conhecidos, poucos amigos e boas alianças. 

Na juventude, eu gostava muito de sair de casa e ir às festas tradicionais da cidade. Essa era a diversão da época. Hoje esse divertimento deve ser considerado um programa de "Jeca" pelos jovens contemporâneos, mas na época, sem dinheiro e sem carro, era o possível para sair de casa para fazer algo diferente da rotina. Lembro que naquele tempo eu possuía apenas dois colegas na mesma situação e saíamos juntos para conhecer meninas... franguinhos de granja estreando e treinando na arte da paquera, com muita vergonha, pouco dinheiro e muitos hormônios. 

Com o passar do tempo, fui me tornando bem independente. Os amigos se foram e aprendi a gostar de ir sozinho aos lugares. Escolher o próprio caminho não tem preço e esta é a sina dos espíritos livres. Em minha cidade natal, ainda tenho um amigo de longa data e costumo visitá-lo apenas uma vez por ano durante as férias, mas a distância geográfica não contribui para um contato mais frequente e a vida vai passando. 

Conhecidos, tenho muitos...herdados do bairro, escola ou trabalho, mas são relações com encontros casuais e breves. No geral, a gente quase nada sabe sobre a vida do outro, no máximo o seu local de trabalho, o bairro onde mora ou o seu “time de futebol”. Resumindo, descubro apenas se estão vivos, doentes, velhos ou mortos. 

E por falar em velhice, mudando um pouco de assunto...minha mente funciona assim e vou registrando conforme penso... Outro dia li umas coisas de um autor já falecido chamado Rubem Alves sobre o envelhecer. Ele contava que a famigerada frase “melhor idade” deve ter sido feita “por um demônio zombeteiro disfarçado de anjo que inventou que a velhice é a "melhor idade". Chamar velhice de "melhor idade" só pode ser gozação ou ironia”. Ele continua: O que é melhor? Ser respeitado ou ser desejado? Velhice é quando a gente começa a ser tratado como "objeto de respeito" e não como "objeto de desejo". Mas o que quero não é ser olhado com respeito, mas com desejo... 

Voltando ao tema amizade, classifico-a em três tipos: a circunstancial, a interesseira ou aquela motivada pela admiração. O termo amizade está tão ultrapassado que parece que teremos que reinventar o significado literal mais adequado aos nossos dias. O maior exemplo da banalidade da amizade hoje é o Facebook. 

Quando somos jovens, possuímos mais energia, vontade e necessidade de procurar um rebanho. Com o tempo, a maturidade, o desenvolvimento da independência, o cansaço pelo trabalho, o peso da idade e o interesses diferentes, inevitavelmente nos afastam das pessoas. Note como os velhos são solitários. Acho que o segredo para essa fase é o auto-conhecimento, desenvolvimento da auto-estima e aprender a gostar de sua própria companhia. Eu sei que falar disso hoje é muito fácil... terei certeza se o que penso hoje funcionará se eu alcançar a idade avançada, afinal, só se sabe o gosto da merda se você colocar na boca. Desculpe o termo, mas não existia outro exemplo neste momento para esse pensamento. 

Na rede social, eu possuía muitos amigos até recentemente. Somavam mais de 300 pessoas em meu Facebook. Com o tempo fui percebendo uma certa indiferença e tomei a decisão de reduzir para aproximadamente 100 pessoas. Não digo que me tornei inimigo dessas 200 pessoas excluídas. Longe disso. Até arrependi de excluir algumas, mas desconfio que a reciprocidade não era a mesma... provavelmente nem notaram que não fazem parte da minha relação de "contatos". Algumas eu até me sentia incomodado por divergência de interesses... Tomei essa decisão porque acredito, posso até me enganar, não sou perfeito, que aquelas pessoas não me consideravam ou me ignoravam. Observei que haviam pessoas em minha lista que nem me cumprimentavam quando passavam por mim, mesmo eu tendo o hábito de olhar para a cara da pessoa, sempre! Se você está numa rede de interação, o mínimo que se espera, lógico, é a interação ou o compartilhamento de ideias. Agora, você fica compartilhando pensamentos, fotos e interpretações sobre o mundo e a pessoa apenas tomado conhecimento ou monitorando silenciosamente suas publicações, comportando-se como um cadáver ou um espião de sua vida... para mim não dá! Por um determinado tempo de ausência, até acho aceitável, mas por um longo período sem ao menos abanar o "rabo"...estou fora! 

Hoje me sinto muito bem com poucos amigos. Gosto de minha vida (às vezes não), literatura, filosofia e isso me satisfaz. Aprendi também que pessoas solitárias compensam o deficit social ou afetivo através de atividades intelectuais e essa compensação pode ser tão prazerosa ou mais do que relações que sugam ou não acrescentam nada à nossa vida. De vez em quando me chamam para um churrasco de confraternização da empresa e dependendo do meu estado de espírito, às vezes compareço e até gosto. Quem me conhece apenas por essas palavras que escrevo no Blog, pode até concluir equivocadamente que sou uma pessoa hermética e que evita a todo custo qualquer contato com os humanos... na realidade não é isso o que ocorre. Em determinadas circunstâncias sou bem relacionado, receptivo e portanto não tenho esse problema. 

Encontrei nos livros a companhia de gente que conversa comigo, ensina e me faz pensar. No mundo virtual também existem alguns grupos de discussão com pessoas espalhadas pelo Brasil, que embora não exista o contato físico, compensam uma boa troca intelectual. São grupos que nutrem o mesmo interesse pelas coisas da vida e isso é bom. 

Hoje me conheço melhor e me suporto, sem interesse em forçar amizade em troca de likes ou atenção. Com o auto-conhecimento, amadureci e me acho uma boa companhia. Descobri que o bom relacionamento é pautado pela compatibilidade de gostos e o seu prazo de validade depende da afinidade, circunstâncias afins ou interesses envolvidos. 

Existem pessoas cujo contato não consigo estabelecer uma conversa interessante. E nem sempre é por falta de repertório de minha parte. Modéstia parte, leio muito e consigo conversar sobre vários assuntos. 

Moro no interior de São Paulo há oito anos e constatei, de modo geral, que as pessoas daqui não gostam de conversar. Quando vou à cantina do meu trabalho tomar um café ou iogurte, sempre puxo assunto, porque é muito desagradável ficar em silêncio num ambiente pequeno. Normalmente, com gratas exceções, a pessoa responde de forma lacônica ou sai rapidamente como aquele famoso coelho branco de Alice no país das maravilhas, que corria o tempo todo e dizia "É tarde! É tarde! É tarde até que arde! Ai, ai, meu Deus! Alô Deus! É tarde, é tarde, é tarde!". Conheço uns quatro ou cinco amigos no meu trabalho que sabem e gostam de conversar algo interessante, nos breves intervalos, mas o relógio, aquele carrasco do tempo não deixa... a maioria é daquele tipo que fica olhando para o chão, com cara de interrogação ou de poucos amigos. 

Gosto de conversar sobre a vida e temas que continuam na cabeça mesmo depois da pessoa ter afastado. Isso é sinal de que a conversa valeu a pena. Agora se a pessoa que fala com você, além de não ter deixado ou levado algo interessante, ainda te deixa pior do que antes... melhor nem ter encontrado. Relação boa deve ser saudável e satisfatória para a vida. Penso assim. 

Ufa! Sem querer, virou textão! Essas eram as banalidades que estavam em minha mente quando sentei de frente de meu notebook. Esse assunto pode ser continuado em outra ocasião porque tenho mais considerações sobre esse tema demasiadamente humano, porém, fica para uma outra oportunidade. Raríssimas pessoas conseguem ler um texto deste tamanho e como não sei fazer charge ou aforismos... 


Até a próxima! 


08/04/2017

Janer Cristaldo sobre Nietzsche



Sobre Nietzsche, outro autor que não se encontra na universidade, vou reproduzir texto que escrevi há uma década. Meus professores de Filosofia não gostavam do alemão, ele demolia todas as filosofias. Cá e lá ele era citado, afinal não podia ser ignorado. Mas nunca tive professor que recomendasse Nietzsche em suas bibliografias. Para mim, foi autor decisivo em minha vida. É leitura, penso, que deve ser feita quando se é jovem. Não sei se adianta ler Nietzsche aos trinta anos. Também não sei se seria útil a um jovem contemporâneo. Em minha época de universitário, pensamento se demolia com pensamento. Hoje, os meios de comunicação se encarregam deste trabalho de demolição.

Aconteceu nos dias de Porto Alegre. Um colega um tanto inquieto, cujos interesses oscilavam do pugilismo às matemáticas, me abordou com o olhar desvairado. Empunhava um livro com verve. "Tens de ler este alemão. Urgente". Era o Ecce Homo - Como se chega a ser o que se é, de Nietzsche. Seriam umas dez da manhã. Acostumados àqueles humores repentinos, pensei dar uma vista de olhos no livro, para que meu instável amigo não mais me chateasse. Já no índice, comecei a irritar-me. Primeiro capítulo: porque sou tão sábio. Segundo: porque sou tão sagaz. Terceiro: porque escrevo bons livros. O último capítulo, uma pergunta: porque sou uma fatalidade?

É o tipo de introdução que convida o leitor desavisado a jogar o livro longe. Mas uma música qualquer, uma cantata de eremita que volta do deserto, emanava das páginas sublinhadas com fúria naquele livro ensebado. Deixei-me levar pela música, fui entrando na atmosfera rarefeita do pensador. "Ouvi-me!" - alerta Nietzsche já na introdução - "eu sou alguém e, sobretudo, não me confundais com qualquer outro".

Mergulhei com fúria na leitura. Sentia estar perto de algo vital. Este livro, no qual o alemão furibundo se apresenta aos pósteros com as palavras com que Pilatos entrega o Cristo às turbas - Eis o Homem - foi escrito pouco antes de seu mergulho na loucura. É certamente o pensador que com mais energia lutou contra a hipocrisia do cristianismo e contra o próprio Cristo, a ponto de assinar-se, em seus dias de insanidade, como o Anti-Cristo. Ao falar da morte dos deuses pagãos, completava: sim, os deuses gregos morreram. Morreram de rir, ao saber que no Ocidente havia um que se pretendia único.

A manhã se foi, entrei meio-dia adentro, esqueci de almoçar e, lá pelas três da tarde, tive de engolir esta: Não me são desconhecidas as minhas qualidades de escritor; em determinados casos compreendi como se corrompia o gosto com o manuseio de minha obra. Acaba-se, simplesmente, por não suportar mais a leitura de outros livros, pelo menos os filósofos. (...) Disseram-me que é impossível interromper a leitura dos meus livros, porque eu perturbo até o repouso noturno. Não existem livros mais soberbos e, ao mesmo tempo tão refinados quanto os meus.

Vontade de jogar fora o livro. Mas já era tarde demais para voltar atrás. Procurei imediatamente as obras completas do autor. Primeira escala, Assim falava Zaratustra: "Exorto-vos, meus irmãos, a permanecer fiéis à terra e a não acreditar naqueles que vos falam de esperanças supraterrestres". Zaratustra é o eremita que, ao voltar da montanha, encontra um santo em uma cabana no bosque, que entoa cânticos para louvar a Deus. O eremita se espanta: "Será possível que este santo ancião ainda não tivesse ouvido no seu bosque que Deus já morreu?"

Para um jovem sufocado pela propaganda de Roma, sorver Nietzsche era como beber água límpida, não poluída pelos construtores de mitos. Passei inclusive a estudar alemão, para degustar no original seus ditirambos. Mas a vida tem outros projetos para os que nela entram, e acabei aprendendo sueco. De qualquer forma, Nietzsche foi decisivo para minha libertação. Títulos como A Origem da TragédiaO Crepúsculo dos ÍdolosHumano, Demasiado HumanoAlém do Bem e do MalAnti-Cristo já antecipam o que este doublé de filósofo e poeta se propõe.

Postumamente, publicou-se uma versão apócrifa de Vontade de Potência, devidamente adulterada por sua irmã, Lisbeth Förster-Nietzsche - que morreu refugiada no Paraguai - para atender aos interesses do nazismo. Durante boa parte deste século, Nietzsche, inimigo jurado de filosofias coletivistas, foi associado ao nazismo. Principalmente pelos marxistas, que intuíam em seu pensamento uma condenação avant la lettre dos regimes socialistas. Esta associação é desonesta.

Basta lermos as invectivas de Nietzsche aos alemães e à cultura alemã em Ecce Homo, para descartarmos este absurdo: "Em Viena, em São Petersburgo, em Estocolmo, em Copenhague, em Paris, em Nova York, por toda parte estou descoberto: não o estou somente no país mais ordinário da Europa, a Alemanha". Ou ainda: "Por onde quer que passe, a Alemanha destrói a cultura". Cabe lembrar que Nietzsche nasceu em Röcken, Prússia.

Este autor, dificilmente você encontrará nos currículos universitários. Seu pensamento demole sistemas, e a academia adora o pensamento sistematizado. Tampouco serve para criar qualquer espécie de culto ou religião: Zaratustra não quer discípulos. Nietzsche fala a homens livres, capazes de respirar a atmosfera das grandes alturas, que não temem a intempérie metafísica e dispensam muletas espirituais.

Há cento e nove anos, morria Nietzsche. Nestes dias em que uma nova inquisição, o pensamento politicamente correto, quer impor sua vontade, o Anti-Cristo certamente lhe renderia uma carrada de processos. Este livro, que escandalizou - e ainda escandaliza - a Europa, é uma contundente catilinária contra o Cristo e seus discípulos e um entusiasta elogio de César, Nero, César Borgia, Napoleão e Goethe. Nas páginas finais, lemos um projeto de Lei contra o Cristianismo, dada no dia da Salvação do ano Um (a 30 de setembro de 1888, pelo falso calendário).

E por aí vai. Leia Nietzsche. É salutar. Mas atenção: de nada adianta lê-lo aos cinqüenta. Aos cinqüenta, ou você há muito se libertou... ou está definitivamente perdido.

Janer Cristaldo

Nota deste autor do Blog Banal sobre a última frase: Será que estou perdido? Se estou, agora é tarde. 

06/04/2017

Meus livros sobre Nietzsche



Finalmente recomecei a leitura de Nietzsche. Há algum tempo deixei-os dormindo na estante. A primeira constatação é que essa leitura não avança da forma tradicional. Alguns conceitos precisam ser "ruminados". É preciso muita calma e interpretação antes de avançar para a próxima página. A minha primeira tentativa de conhecer Nietzsche ocorreu no ano passado com o título "Assim falou Zaratustra". Comecei pelo mais difícil e quando cheguei na metade do livro, senti que não estava absorvendo. Tive que abandoná-lo porque me faltava uma base intelectual para absorver o seu pensamento. Deixei-o de lado e optei em me preparar e retornar à leitura no tempo certo.

Gosto de filosofia e esse autor me apontava para uma direção que compatibilizava com os meus pensamentos. Descobri também que Nietzsche não se lê, se aprende e que sua leitura requer paciência e conceitos básicos. Para resolver essa questão, comprei algumas literaturas de apoio e assisti vários vídeos na internet sobre o alemão. Outro ponto importante é que devemos ter muito cuidado na escolha do tradutor e da editora.

As melhores edições e traduções são feitas pela Companhia das Letras, através do tradutor Paulo César de Souza, que inclusive ganhou 2 prêmios Jabutis pela tradução das obras de Nietzsche.

Hoje não vou registrar o que estou aprendendo com estas leituras, porque isso será feito aos poucos, sem pressa. Adianto que estou diante de uma preciosidade que me faz pensar.


01/04/2017

Em que fase da vida estás?


Minha vida se divide em três fases.
Na primeira, meu mundo era do tamanho do universo
E era habitado por deuses, verdadeiros e absolutos.
Na segunda fase meu mundo encolheu,
ficou mais modesto e passou a ser habitado
por heróis revolucionários que portavam armas
e cantavam canções de transformar o mundo.
Na terceira fase, mortos os deuses,
mortos os heróis, mortas as verdades e os absolutos,
meu mundo se encolheu ainda mais
e chegou não à sua verdade final
mas a sua beleza final:
ficou belo e efêmero como uma jabuticabeira florida.



Rubem Alves (1933-2014)



26/03/2017

Não vivemos a vida como queremos


Todos os dias acordamos e não conseguimos viver a vida como queremos. 

Tomamos o café e seguimos resignados pela trilha aberta na mata da existência.

Caminhamos muitas vezes pela terra marcada que com o tempo já nem desviamos mais de cada contorno dos pés endurecido pela vida.

Nosso encontro diário neste chão duro de terra vermelha afundará lentamente, até que se transforme um dia, numa cova profunda, íntima e definitiva.

Alex no Outono feliz de 2017.


25/03/2017

Perfume nas mãos



Há um provérbio chinês que diz:

Um pouco de perfume sempre fica nas mãos de quem distribui flores. 

Eu acrescentaria:

Bosta também!


22/03/2017

Sou mau?



Em algum tempo eu estava dirigindo o meu carro enquanto retornava com a minha família de um shopping de Piracicaba, distante 60 km da cidade onde moro e algo muito desagradável ocorreu durante a viagem.

As condições meteorológicas eram excelentes, a pista estava muito tranquila e a velocidade do carro devia ser em torno de 100 km/h.

Meu carro ocupava o lado direito da pista e viajávamos tranquilos, sem obstruir a passagem de quem quer que desejasse ultrapassar pela nossa esquerda.

Inesperadamente, uma carreta sem carga, surgiu em alta velocidade passando rente à lateral esquerda do carro, fazendo um barulho assustador e forçou a entrada à minha frente, me obrigando a virar automaticamente o volante com rispidez para a direita e reduzi a velocidade para o nossos veículos não se chocarem!

A carreta seguiu em alta velocidade, buzinei e pisquei o farol para ele visualizar a minha indignação. Ele continuou em alta velocidade e ainda piscou a alerta traseiro antes de desaparecer pela estrada.

Fiquei por alguns minutos analisando se eu havia cometido alguma falha na condução do veículo para que ele tivesse aquela reação e não encontrei nenhuma explicação em minha mente. Não havia nenhum veículo que o obrigasse entrar na minha frente e a sua pista estava livre!

Naquele momento tenso eu desejei com muito ardor que algo ruim acontecesse àquele motorista na estrada, para que ele "pagasse" o mau e o risco em que ele colocou a minha família. Eu o odiei por alguns quilômetros, e alguns litros de sangue por minhas artérias!

Depois disso tudo fiquei pensando se essa reação que tive é porque sou uma pessoa má, que não consegue perdoar as falhas dos outros ou por que não tenho sangue de barata.


Assim registro mais uma memória banal enquanto a vida segue. 


21/03/2017

A corda que une os seres



Imagine dois animais ligados entre si por uma corda de sisal.
Considere que estes animais gostam de ficar perto do outro, apesar da corda.
Embora a corda ainda estabeleça a união entre ambos, sua ausência não separa o vínculo.
Com o tempo, se a relação for satisfatória a função da corda torna-se inútil.
Triste a relação cuja corda é o único motivo que mantém dois seres próximos.
Você já parou para pensar se a sua relação depende de uma corda?
Qual o nome de sua corda?


17/03/2017

Fazer o bem sem olhar a quem?


Você já ouviu aquela frase: "Fazer o bem sem olhar a quem"? Tenho certeza que sim.


Hoje vou contar uma história real ocorrida ontem, com uma pessoa próxima que chamarei de Angelino, porque a sua identidade não vem ao caso.


Angelino me contou que voltava à sua casa, dirigindo o seu carro, quando subitamente um veículo que estava à sua frente atropelou um cachorro e seguiu o seu caminho sem prestar socorro ao animal. 

Ele notou que o condutor que atropelou o cachorro, percebeu o acidente, porque viu o motorista virar o volante abruptamente à esquerda, assim que houve a batida.

Assim que desceu do seu carro, viu que o cachorro estava ferido e puxou-o cuidadosamente para a calçada. Ao acariciar a sua cabeça, notou que ele possuía uma coleira de couro e na parte interna havia gravado um número de telefone e o nome Brutus. 

Imediatamente puxou o celular do bolso e ligou algumas vezes para aquele número, para avisar sobre o acidente e ninguém atendeu. 

Como não obteve sucesso nesta ligação, buscou na internet o número do telefone de uma ONG muito conhecida na cidade de Araras chamada SAPA (Sociedade Ambientalista Protetora dos Animais), onde os animais de rua são enviados. 

Feito o contato, o socorro da SAPA demorou cerca de vinte minutos para chegar ao local do acidente e prestar o socorro necessário ao bichinho. Após os procedimentos de emergência, anotaram todos os dados, endereço e fone de Angelino, para registro no sistema e levaram o animal para tratamento. 

Angelino foi embora para sua casa preocupado com o estado de saúde do cachorro, porém com a consciência em paz por ter feito o que deveria ser feito. 

Após tomar o seu banho, vestiu o pijama, jantou e quando finalmente estava se preparando para deitar, o seu telefone tocou. Eram 22:00h quando atendeu e do outro lado da linha uma voz grave disparou: 

- ALÔ! QUEM ESTÁ FALANDO? 

- Aqui é o Angelino, pois não? 

- OLHA, ESTOU LIGANDO PORQUE FIQUEI SABENDO QUE VOCÊ ATROPELOU O MEU CACHORRO SEU SAFADO! 

- Como assim? Eu não atropelei o seu cachorro....pelo contrário, eu sou a pessoa que socorreu o seu cachorro! 

- NÃO TENTE DISFARÇAR SEU SAFADO! A SAPA LIGOU PARA ME COBRAR AS DESPESAS E ME DEU O SEU TELEFONE... AGORA VOCÊ VAI TER QUE PAGAR PELO QUE FEZ! E NÃO ADIANTA FALAR QUE NÃO FOI VOCÊ PORQUE TENHO CERTEZA... UM TRUTA MEU PASSOU DE MOTO NA HORA DO ACIDENTE E VIU QUANDO VOCÊ ATROPELOU... TODO MUNDO QUE PASSAVA PELO LOCAL VIU O QUE VOCÊ FEZ! 

- Senhor, eu, eu não a-tro-pe-lei o seu ca-cho-rro, eu já... 

- VOU TE DIZER MAIS UMA UMA COISA...EU SEI QUE FOI VOCÊ E VAI TER QUE PAGAR TODA A DESPESA QUE A SAPA ESTÁ ME COBRANDO. TENHO O SEU ENDEREÇO E AMANHÃ CEDO VOU NA SUA CASA RECEBER. 

Após dar o ultimato, o dono do cachorro bateu o telefone com força e tu tu tu (desligou!) 

Do outro lado da linha, Angelino, foi para a sua cama e deitou com os olhos arregalados em direção ao teto sem conseguir dormir a noite inteira...


16/03/2017

Existe amor ao trabalho?



Pensando sobre uma coisa que ouvi sobre o "amor" ao trabalho...
Quando comemos um pão quente, não sabemos quem é o padeiro e nem temos interesse na vida do padeiro.
Apenas apreciamos e pagamos por esse pão que consumimos e se gostamos, voltamos e compramos.
Do lado do padeiro, ele também não está interessado na vida de quem consome o seu pão. Ele faz o seu pão, para sobreviver e para vender mais pão. O prazer até pode existir nessa atividade, mas não necessariamente por amor ao produto.
Tal sentimento é irrelevante na qualidade e relações comerciais.
Um fornece um produto e o outro consome. 
Excepcionalmente, o único amor existente nessa relação é o "amor" próprio, cujo produto ou esforço pode ser retornado como aquisição de necessidades, conforto ou satisfações.
Não há necessidade de "amar" o produto para que se obtenha qualidade ou seja bem feito.
Acho que Isso é irrelevante no resultado. Exigir "amor" nesse tipo de relação é querer romantizar algo totalmente desnecessário.

Assim penso por hoje.