13/03/2016

O que me interessa a opinião de fulanos que nunca encontro?


Nossa! Descobri que não estou sozinho! O editor abaixo escreveu um artigo na jornal Folha de São Paulo de hoje 13/03/2016, que reflete exatamente o que penso quando escrevi recentemente neste "Diário Banal" o tema "Aqui jaz Facebook". 


Sair do Facebook foi uma experiência difícil a ao mesmo tempo libertadora! Sua utilização constante vira um vício e se você decide abandonar, ocorre a crise de abstinência. Nos primeiros dias você sente falta, até se acostumar. Hoje, transcorridos 10 dias que desativei a minha conta, ainda estou falando desse assunto! Sinal de que ainda estou em processo de depuração. Logo esse assunto estará morto e sobrará apenas o cheiro do cadáver até sua completa dissipação. É assim mesmo que acontece. Qualquer relação que se rompe, sempre deixa cicatrizes.

Como eu estava dizendo, depois que desativei a minha conta, ganhei mais liberdade e tempo para fazer outras coisas que gosto como ler e escrever, por exemplo. 

A propósito, ontem fomos ao Shopping D. Pedro em Campinas-SP, para comemorarmos o aniversário de 10 anos de minha filha, aliás um mega shopping e me recordei da última vez que estive lá e compartilhei no Facebook diversas do fotos de livros, check-in do local, etc. divulgando o meu momento, para um monte de gente indiferente ao que eu estava fazendo da vida, sem necessidade . Bem feito para mim! 

Bem, chega de mimimi e vamos ao depoimento de Marcos Augusto Gonçalves que me inspirou escrever mais essa banalidade aqui no Diário Banal. 

O que me interessa a opinião de fulanos que nunca encontro? 

Autor: Marcos Augusto Gonçalves- Editor da "Ilustríssima" e da "São Paulo" em 13/03/2016 

Entrei no Facebook em 2009. Foi incrível: comecei a encontrar pessoas que não via há séculos, a falar com parentes que moram em outras cidades e com amigos que vivem fora do país. Sabia instantaneamente onde estavam e o que faziam. Sentia-me como se tivesse embarcado num túnel do tempo que me transportava ao futuro, a uma existência virtual veloz, conectada, sem os obstáculos do velho mundo de átomos.

Jornalista, a rede foi aos poucos parecendo uma necessidade profissional: para divulgar meus textos e colher assuntos emergentes e tendências. Como estava trabalhando num livro ("1922 - A Semana que não Terminou", Companhia das Letras) resolvi ampliar o território –e abri também uma conta no Twitter.

Fiquei fascinado com a perspectiva de escrever em 140 caracteres. Sou bom nisso. Comecei com intervenções um pouco literárias, mimetizando os relâmpagos poéticos de Oswald de Andrade. Muita gente gostava. Eu também.

Com o passar do tempo, não conseguia mais passar um dia sem marcar presença nas redes sociais. O aumento do número de amigos, que já não eram mais amigos, mas pessoas que eu não conhecia, agradou-me inicialmente, mas depois não: mais gente era menos interesse, menos qualidade nos comentários, menos graça e menos humor.

Com a politização e a polarização generalizada a coisa piorou. O Twitter tornou-se uma fuzilaria e resolvi sair. A ideia era permanecer no Facebook, então menos politizado e mais amigável. Não durou muito. As hordas militantes foram aos poucos dominando o espaço. E cada vez mais tudo passava a ser objeto de Flá-Flus indigestos.

O que antes parecia um lugar promissor para a troca de ideias e o esclarecimento, revelou-se o picadeiro da "burritsia" (o contrário da intelligentsia) e da obviedade politicamente (in)correta. Não dá para ficar numa roda que tem gente incapaz de entender uma ironia (ao ponto de você ter que explicar que se trata de uma!). O maniqueísmo triunfou e instaurou-se uma conversa plana, perfeitamente idiota e inútil.

A tônica passou a ser a intolerância, o pensamento bovino uniforme e religioso, o culto à personalidade, o ódio, a caça às bruxas, a sede de vingança, a vontade de prender, punir, calar, criminalizar, censurar. Quando percebi que eu mesmo começava a participar desses torneios, perdendo tempo, ganhando inimigos e atingindo diariamente graus elevadíssimos de irritação, desisti.

Por que afinal preciso encontrar tanta gente que eu mal conheço para ver seus gatinhos e ouvir suas previsíveis e quase sempre rasas opiniões sobre política, moral ou costumes? Por que teria de conviver com militantes estúpidos, de esquerda ou de direita, que se comportam ou como pregadores fanáticos ou como micos amestrados? O que me interessa a opinião de fulano ou sicrano que no mundo real eu veria por acaso duas vezes por ano –ou nem isso? E por que eu deveria brigar com amigos de velha data por causa do que disseram ou não sobre Chico Buarque?

O resultado da desistência é ótimo: mais tempo, menos exasperação, menos encontros indesejáveis e menos gritaria. Recomendo vivamente. 


13/03/2016


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