Finalmente, depois de duas horas de espera, um homem vestido de branco se aproxima a passos largos em direção ao balcão, cochicha algo com a atendente e vem em minha direção.
No bolso de seu jaleco as seguintes inscrições: Dr. Kurzhals
- Boa noite, sou o médico deste turno e preciso ter uma conversa rápida e em particular com o senhor. Por favor me acompanhe até minha sala. – disse sem rodeios saindo com pressa em direção ao corredor.
Afastou-se tão rápido que enquanto eu ainda ajeitava o cinto de minha calça o doutor já estava segurando a porta vai-e-vem para eu passar, enquanto olhava impaciente para os papéis em outra mão.
Eu o segui por um grande corredor, bem iluminado e cheirando a éter, enquanto cruzava pelos enfermeiros com uniformes de linho branco e cabelos cobertos por toucas.. O médico abre uma porta e me convida para sentar, olhando nervosamente para o relógio.
- Bem, senhor... Como devo chamá-lo? – perguntou com seriedade olhando agora para o prontuário sem me fitar nos olhos.
- Sou Zara, marido de Alice. Como ela está? – perguntei ansioso
- Senhor Lara, pretendo ser bem direto, porque tenho uma cirurgia marcada para este momento e já estou atrasado.
- Pois não doutor... – olhei firmemente em seus olhos sem vontade nenhuma de corrigir o meu nome.
- Bem, Sr. as notícias não são boas. No prontuário consta que sua esposa deu entrada na emergência às 23:15h, com diagnóstico de infarto do miocárdio, sendo prescrito nitroglicerina sublingual, aspirina e oxigênio. Alice Salomé veio a óbito às 23:40h, apesar dos esforços de nossa equipe.
Preciso informar também que as despesas decorrentes desse procedimento será calculado e informado oportunamente ao senhor. Sinto muito. – disse sem rodeios com o rosto sem expressão alguma, olhando novamente para o relógio.
- Agora, o senhor me dê licença que preciso ir ao centro cirúrgico. O senhor sabe como é a vida de um médico né? A assistente social lhe entregará o atestado de óbito, o custo da medicação e explicará os detalhes para remoção do corpo. Sinto muito mesmo e boa noite! – emendou sem demonstrar um pingo de emoção..
Fico imóvel e em estado de choque ao receber aquela informação de forma tão insensível, direta e desumana enquanto a minha vista escurece e tudo começa girar. As pernas adormecem... Consigo dar um grito abafado para chamar a atenção de alguém e subitamente perco a consciência...
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