- Infelizmente não temos filhos, senhorita. Tenho apenas a minha casa e uma coleção de livros. Sou um homem de poucos recursos, mas dou minha palavra que consigo dinheiro emprestado para pagar as despesas.
- O senhor não compreendeu! Nosso hospital não trabalha dessa forma. Precisamos de uma garantia.
O senhor tem que entender que possuímos os melhores médicos da região e isso requer recursos financeiros! Sinto muito, mas não podemos prosseguir com a internação. Neste caso, entraremos em contato com a rede pública e providenciaremos a transferência da paciente. – Disparou sem nenhum sentimento humanitário, quase perdendo o fôlego.
- Mas, senhorita! Receio que minha esposa não consiga chegar de forma segura à outro hospital. Por favor, converse com o responsável para deixar ela ser atendida e depois encontramos uma solução. Eu não me recuso a pagar. Sou honesto e trabalhei a vida inteira! Posso conseguir um empréstimo bancário para aposentados, trabalhar aqui ou até mesmo vender a minha casa, se necessário – Falei meio no desespero.
- Senhor, aguarde naquele sofá por favor. Levarei o seu caso à nossa supervisão e assim que possível lhe informarei o que pode ser feito – disse de forma seca para encerrar o assunto.
Imediatamente essa recepcionista andrógina desviou o seu olhar para uma senhora - que me observava com cara de reprovação - e convidou-a para sentar-se à sua frente, com um sorriso forçado, tentando demonstrar simpatia.
- Boa noite senhora! ... disse ela de forma mecanizada mostrando seus dentes.
Retorno imediatamente ao sofá, sentindo-me como um cão vira-lata sem dono, abandonado à própria sorte no final da vida.
Senhor, senhor, senhora... Palavrinha que mantêm a distância, disfarçada de respeito. – pensei!
Minha coluna dói e meu relógio de bolso indica que já chegamos no hospital a mais de uma hora.
Minha intenção não era burlar o hospital. No desespero de ser atendido rápido, não falei ao paramédico, no momento da aplicação dos primeiros socorros, que não possuímos plano de saúde!
Caminho vagarosamente até a porta vai-e-vem e vejo uma maca no final do corredor com uma pessoa em cima, mas pela distância, não consigo identificar se é Alice. Existe um lençol branco em cima da pessoa impedindo a visualização. Fico preocupado e planejo chegar perto para ter certeza se minha preocupação procede. Será que deixaram Alice no corredor só porque não temos plano de saúde? – pensei.
Fico paralisado em frente às portas, esperando o momento oportuno para entrar sorrateiramente pelo corredor e conferir minha suposição. Em cima do umbral o seguinte aviso: “Entrada Proibida – Área Restrita”. Leio e dissimulo indiferença.
- E que ninguém me impeça de atingir esse objetivo! – pensei com coragem.
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