Uma recepcionista com rosto andrógino, mãos compridas e olhar imponente, dispara a primeira pergunta de forma robotizada:
- Boa noite senhor! Para que possa ser atendido com todo o conforto e eficiência no Hospital Santa Ágata, necessito que me forneça, por gentileza, seus dados para iniciarmos o cadastro.
- É a primeira consulta, senhor? – emendou.
- Sim. É a primeira vez que entro aqui. - respondi
- E qual o seu nome e data de nascimento? – disse olhando para o monitor
- Eu me chamo Zara Crotone e nasci em 15/10/1944
- E o nome de sua esposa e data de nascimento? – pergunta logo após digitar.
- Alice Salomé em 12/02/1949. - respondi
- Muito bem, agora necessito que o senhor me forneça o cartão do convênio da paciente.
Fiquei embaraçado e em silêncio por alguns instantes olhando para o chão na tentativa de buscar uma resposta, mas não sabia o que falar.
- Senhor! Eu preciso do cartão do convênio. Poderia me passar por gentileza? – Perguntou novamente, demonstrando impaciência.
Suspirei, aproximei-me do seu rosto e respondi bem baixinho para que as outras pessoas presentes não ouvissem:
- Lamento informar senhorita, mas infelizmente não temos plano de saúde.
- O SENHOR NÃO POSSUI CONVÊNIO? – pergunta a moça num tom alto o suficiente para a sala inteira ouvir.
Olho em volta e percebo todos os olhares em minha direção. Fico envergonhado e novamente me aproximo e quase sussurro:
- Infelizmente não tenho condições de pagar um plano de saúde na minha idade, mas se...
– mal terminei a frase e fui interrompido.
- Neste caso senhor – ela fala alto novamente - necessitaremos de uma folha de cheque assinada para continuarmos com os procedimentos. O senhor é correntista de qual banco?
- Infelizmente, há muito tempo não possuo talão de cheques. Sou aposentado e recebo minha renda através da conta salário – respondi.
- Neste caso senhor, não será possível a internação da paciente. O senhor possui algum filho ou parente que possa garantir os recursos necessários? Se precisar, pode usar este telefone. – apontou gentilmente o telefone que estava do seu lado, demonstrando solidariedade.
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