08/05/2020

Página 09 - Meu livro: Memórias de Zara Crotone


Minha coluna arde e as pernas doem de cansaço. Olho de soslaio à porta e o segurança gordo sem pescoço continua lá. Sua cara me faz recordar a tentativa frustrada e ainda sinto raiva dele. Estou sentado novamente e vou confessar uma mania que eu tenho. Gosto de tentar adivinhar e criar a história de cada pessoa apenas com a aparência. Hábito adquirido desde tenra idade. Em frente ao sofá onde estou, um jovem cabeludo de aproximadamente vinte e cinco anos consulta o relógio a todo momento e segura uma grande bolsa. Imagino que dentro dela contenha fraldas, toalhas e toda parafernália para receber seu rebento. Pelo excesso de nervosismo, presumo que se trata do primeiro filho. Enquanto mapeio o ambiente, uma senhora de óculos puxa assunto comigo:


- Está frio aqui né? – me pergunta segurando outra bolsa.

- Sim. O ar condicionado funciona. – respondo qualquer banalidade, mas minha vontade mesmo é ficar quieto no meu canto enquanto não recebo notícias de Alice.

- Estou esperando a minha nora. Ela está na sala de parto se preparando para a chegada de minha primeira netinha. – disse orgulhosa, tentando insistir na conversa.

- Esse aqui é meu filho. – emendou virando o rosto para o cabeludo e confirmando minha intuição de que o rapaz aguardava ansioso.

- E o senhor? Está esperando alguém? – pronto, começou bisbilhotar! Agora sou obrigado a passar informações sobre a minha vida. – pensei.

- Estou aguardando a minha esposa voltar da emergência. Ela teve uma leve indisposição, mas logo estará em casa. – falei tentando ser educado sem entrar em detalhes, mas com o desejo de continuar quieto no meu canto.

- Fica tranquilo. Deus está no controle. No final tudo vai dar certo. Confie nele. – disse sorrindo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário