14/04/2016

Consultório de gente!


Aperto a campainha e conto mentalmente os segundos 1,2,3... cleck!

A grande porta branca se destranca e uma atendente sorridente me convida para entrar.

O ambiente é climatizado, amplo e projetado com iluminação que se parece com estrelas no céu. A  sensação é aconchegante e à minha direita, a luz natural ilumina as plantas ornamentais de um pequeno jardim de inverno. Na realidade são vários ambientes que se integram e cada um decorado com quadros, sofás, poltronas, mesas de centro e revistas.

Estou sentado num sofá bem macio e do meu ponto de vista, reparo com discrição cada detalhe.

Só não me pergunte como e porque vim parar aqui!

De onde estou, percebo que o médico sai de seu consultório e se dirige até o ambiente onde o/a paciente aguarda. Cumprimentam-se e seguem juntos para a sala da consulta. Quando o médico não vai pessoalmente, a secretária se aproxima e chama o paciente pelo nome enquanto a médica aguarda sorridente e em pé, perto da porta, com as mãos levantadas para cumprimentar e convidar como se estivessem entrando em casa. 

Achei curioso essa forma de receber os pacientes porque estou acostumado com o modo tradicional do médico carrancudo e barbado, aguardando o paciente sentado atrás de uma mesa bem larga e distante, onde o próprio, do alto de sua "nobreza", sem olhar na sua "cara" , inicia as perguntas robotizadas! Eu sei que simpatia não significa competência, mas respeito e educação ninguém reclama.

Consultório moderno é outra coisa!

Pena que não tenho dinheiro para pagar e sempre ser bem atendido e com dignidade!

A poltrona onde estou é tão fofinha que daria para dormir uma noite inteira e perder a hora de levantar para trabalhar.

O som ambiente toca jazz e logo à minha frente um balcão possui uma máquina com grãos de café para moer na hora e outra com chocolate, café com leite e capuccino. Ao lado, biscoitos amanteigados, guardanapo, açúcar, adoçante e colheres de plástico!

Ah! Já ia me esquecendo de água gelada, do chá e lógico, da lixeira personalizada para descarte dos resíduos!

Lembrei dos consultórios que habitualmente frequento com salas pequenas e cadeiras duras para dez pessoas sentadas e quinze em pé, sem bebedouro, sem ventilador, sem sabão e sem papel higiênico no banheiro!

Ouço agora o som de salto alto atravessando a sala e levanto apenas os olhos. 

Neste ambiente as pessoas são discretas, então, como habitual, serei mais ainda do que sou!

Reparo que a mulher que passa pelo meu sofá está usando silicone.

Depois de um minuto, outra mulher com "silicone."

- Deve ser concidência! - penso

Passa mais um tempinho e uma terceira mulher também está com silicone! 

- Nossa! Não é mais coincidência! 

É como acompanhar uma partida de tênis olhando apenas a bolinha ir.

Peitos pontudos e incoerentes com a idade.

Se você leitor, falar que eu reparo demais, te digo que olho até cachorro na rua!

Ah! Mais um detalhe, essa clínica não coloca silicone em mulher, caso pense que este clínica é responsável por isso! Nada disso! Isso é apenas uma coincidência.

Percebi também que aqui não existe aquele tradicional "segurança" com cara de "puliça" encostado na parede de braços cruzados, pronto para "bater" em paciente nervoso ou proteger o médico de apanhar desse mesmo paciente nervoso, só porque está "apenas" 3 horas esperando atendimento!

Percebo também que ninguém encara ninguém e quando levantam a cabeça fazem cara de paisagem.

As conversas parecem sussurros.

Não há gargalhadas no ambiente e também não existe aquela placa na parede de uma mulher com os dedos na boca pedindo silêncio! Aqui não precisa disso. O silêncio é espontâneo.

Pena que não tenho dinheiro para somente frequentar consultórios de gente!


Como é bom ser tratado como gente!


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