18/05/2016

Cheguei aos 50 anos




Caro visitante do Diário Banal, o autor desse Blog completou meio século de vida nesta data. Não sou de comemorar datas mas achei o número 50 um pouco especial para passar em "branco" e como tenho essa página virtual vou escrever algumas banalidades sobre a vida. 



Aqui nesse ambiente eu converso comigo, me faço companhia e compartilho os meus pensamentos e caso você tenha interesse em ler, fique a vontade. Apenas solicito que não estranhe a forma desorganizada como escrevo. 

Em alguma publicação anterior revelei sobre esse meu "problema" de escrever conforme penso, meio sem regras gramaticais, emendando os assuntos e mudando a trajetória como um cachorro louco sem direção... Espero que isso tipo de leitura não aborreça a quem se disponha ler. 

Preciso falar também que sou péssimo em revisão de texto e muitas vezes só os percebo depois de uma releitura, mas como diz o famoso provérbio: "Utilius tarde quam nunquam" (Antes tarde do que nunca).

Bem, chega de introdução e vamos às banalidades. Respire fundo que hoje estou inspirado para esvaziar a minha mente e teclar um monte de coisas para registro desta idade. Espero não aborrecer o raro leitor pelo tamanho do texto. 

Cheguei aos 50 anos! Nem acredito! Meio século de vida! Passou rápido demais. Agora que alcancei essa idade, posso revelar um segredo! Não é tão ruim quanto eu imaginava. Aliás descobri com o tempo que a realidade muitas vezes é bem mais leve do que os pensamentos. Quanto tempo eu me perdi com preocupações desnecessárias. De modo geral até que cheguei bem até aqui.

Quando eu era mais jovem achava que quem possuía 50 anos já era velho! Será uma armadilha da natureza para suportarmos a vida? Não sei! Só sei que a vida é breve demais! Meio século de vida e aqui estou! Fora do meu estado e longe de minhas raízes! Ontem mesmo eu era um menino cheio de sonhos correndo nos campos de Barra Mansa e nenhum dinheiro no bolso!

O tempo passou e hoje estou aqui de frente para o notebook, fazendo uma reflexão com 50 anos e ainda com alguns sonhos! Poucos, é verdade porém mais realistas. Consegui alcançar vários objetivos na vida: uma casa, emprego e a mais importante de todas: a minha família.

Fracassei em algumas coisas mas não quero registrar. Alcanço essa idade com a certeza de que acertei muito mais do que errei! E se os meus erros não me tiram o meu sono é por que não foram tão graves. Além disso, é clichê dizer que os erros fazem parte de nosso aprendizado. 

Parte 2

Papai viveu apenas 42 anos e quando me aproximei desta idade, cismei que também morreria com a mesma idade! Que jovem fatalista eu era! Meu receio aumentava a medida que me aproximava desse número fatídico! Para lidar com essa preocupação resolvi fazer um check-up por precaução. O cardiologista me falou para não me preocupar por que a nossa vida não é uma fórmula matemática. Pode ser, mas estudei estatística na escola e aprendi que essa ciência costuma revelar muita coisa! Os dias se passaram e finalmente ultrapassei a idade de meu pai! Hoje estou aqui escrevendo minhas memórias sem me preocupar mais com a idade. O médico estava certo! 

De vez em quando ainda penso na morte, mas não como antes dos 42 anos. Psicologicamente foi mais fácil chegar aos 50 anos do que aos 20 e 30. 

Quando somos jovens temos muitas preocupações. Tudo é intenso e nem lembramos da morte. Muitas expectativas, projetos, indefinições e inseguranças! E além disso tudo ainda existem os hormônios e as espinhas! Uma ebulição de sentimentos! Um choque entre os desejos da mente e a realidade de um muro de concreto. Hoje a cabeça está bem, as expectativas menores e o corpo um pouco mais cansado nos finais de semana. 

Atualmente enxergo melhor a vida, apesar da miopia. Quando somos jovens pensamos que enxergamos bem, mas nem tanto. Hoje consigo perceber as segundas intenções e as dissimulações mais facilmente. Nessa idade deixei de acreditar na bondade desinteressada e fiquei mais chatinho também.

Quando a gente tem pouca idade, pensa que sabe de tudo. Pensando bem, em todas as idades pensamos dessa forma. Somos arrogantes! É preciso ficar mais velho e quebrar a cara várias vezes para descobrirmos os equívocos. Quando estamos mais velhos temos o "dom" de saber o que se passa pela cabeça do jovem. Dom nada! É por que a gente já foi jovem e sabe exatamente o que pensam, gostam, sonham e se comportam.

Um jovem nunca saberá como um velho pensa porque ele ainda não é velho, lógico! Outro dia eu estava comendo uma fruta no trabalho e joguei a metade na lata de lixo porque estava azeda e decidi não mais comer. Uma jovem colega que estava observando a cena me repreendeu! Disse que eu não devia fazer aquilo, pois seu coração ficava "partido"! Ela explicou que enquanto eu jogo uma fruta no lixo as crianças na África passam fome! Ham ham! Sei! Como os jovens são "sensíveis" com o sofrimento distante.

Eu entendo essa preocupação alheia. Jovens costumam ser "idealistas"! Nessa idade os problemas distantes do mundo incomodam mais do que as louças e panelas acumuladas em cima da pia da mãe! Curioso isso não?

Parte 3

Sei que as perdas na minha vida daqui em diante serão maiores, mas também não quero ficar lamentando o inevitável! Depois de uma certa idade o declínio ocorre gradualmente até perdemos tudo. Não entenda como pessimismo de minha parte. É fato! É realidade! Perdemos a saúde, a pressa, a beleza, a força, os músculos, o cabelo sedoso, a visão, os dentes e a pele esticada. 

Existem os ganhos também como experiência, conhecimento, segurança e a gordura!

Quando cheguei aos 15 anos eu tinha pressa para o tempo passar rápido. Naquela época eu queria poder entrar no Cinema Palácio ou Riviera, nos filmes para maiores de 18 anos e também aprender dirigir um carro. Hoje não tenho pressa nenhuma e quero sentir devagar os pequenos prazeres da vida. Quero sentir o silêncio e o sol de outono no corpo, além de me manter distante do agito de festas, da gargalhada estridente e da música alta. Prefiro uma comida bem feita, uma cama macia e um passeio longe da multidão. 

Lembro que quando era jovem e caminhava com as mãos nos bolsos pelas calçadas de minha cidade natal, olhava indiscretamente para dentro das casas com as janelas abertas e a televisão ligada... Eu olhava aquelas casas monótonas e ficava pensando "Nossa! Mas que vida banal dessa gente dentro de casa". Aquele cenário me deixava inconformado. Na minha cabeça imatura eu julgava equivocadamente que a vida interessante e divertida acontecia apenas na rua. 

Quando a gente é jovem pensa em tanta besteira! A gente pensa que não existe prazer dentro de casa. Acho que é o desejo de liberdade que carregamos e que começa a se manifestar na juventude. Hoje adoro ficar em casa ou retornar para as minhas coisas. Volto com muito prazer! Nessa época, além de pensarmos diferente também somos cheios de certezas... É a idade das convicções! 

Parte 4

Outra vantagem da idade atual é que fiquei livre das incontáveis pressões da juventude. Utilizando uma comparação que conheço muito bem na minha vida profissional, vivi a fase dos grandes investimentos e agora estou na fase da manutenção de tudo conquistado. 

Com 50 anos ainda é muito cedo para encerrar a carreira profissional e ainda bem que gosto do meu trabalho (menos um sofrimento!). Deve ser muito triste passar a maior parte do tempo num local detestável. Imagine o drama daquela cozinheira que odeia cozinhar! Agora se tem uma coisa que jamais me acostumarei é o despertar do relógio no melhor momento da cama! Carrego essa sensação durante toda a minha vida, mas não perco a hora e depois do café da manhã já estou bem melhor. 

Pensando bem é melhor acordar cedo do que não ter emprego. Sem dinheiro a vida se torna muito difícil. Às vezes tenho dúvidas se é o celular que me desperta ou o dinheiro que recebo! Acho que são os dois! 

Nessa idade também não dá para ficar sonhando com grandes mudanças profissionais. A fruta já está madura e o desemprego assombra. Materialmente falando, o desemprego é o meu maior pavor, pois com 50 anos estou automaticamente eliminado das melhores empresas. Isso começou lá atrás, por volta dos 40 anos. Quem perde o emprego em nosso país, nessa idade, está condenado ao ostracismo profissional. 

Você pode ser a pessoa mais experiente de sua área, mas jamais ganhará uma concorrência com um jovem recém-formado, mesmo inexperiente. Fuja dos discursos motivacionais pagos para te convencer que não é bem assim! Infelizmente é assim que funciona esse sistema perverso no Brasil. 

E o governo ainda quer seguir o modelo de outros países para que a pessoa se aposente com 65 anos! Lá as pessoas se aposentam com estrutura e dignidade. Você acha que as empresas vão bancar uma pessoa com essa idade? Du-vi-do! 

Parte 5 

Estou de frente ao meu espelho e examino a minha cara amarrotada de meio século! Meus cabelos não são fartos como antigamente! A luz ilumina o alto da minha cabeça e reflete o couro cabeludo entre os fios. Ainda tenho cabelos, se isso serve de consolo, mas já não crescem com tanta velocidade e vigor. 

Quando eu era mais jovem visitava o cabeleireiro a cada 25 dias e deixava o chão cheio de tuchos. Hoje tenho que esperar crescer quase dois meses para justificar o pagamento do corte e deixar uma pequena quantidade na capa. A cor do cabelo também está diferente. Seu tom agora é um pouco mais claro, além dos fios brancos que aparecem discretamente na frente da cabeça, em cima das orelhas, nas costeletas e sobrancelhas. 

Minha pele do rosto também não é mais tão lisa e pequenas rugas denunciam o início da perda da elasticidade. Embaixo de meus olhos percebo uma pequena bolsa que transmite um ar de cansado, mesmo estando descansado! Eu era bem mais bonito, mas que diferença isso faz hoje? Mentalmente eu me sinto mais jovem do que o meu corpo, embora as pessoas mais próximas me estimem menos idade. 

Sinceramente, não sei se falam isso para me agradar ou o meu corpo ainda consegue mascarar a idade! Ainda bem, mas nem tudo é ruim nessa idade, garanto. Meu estado psicológico agora está muito melhor do que com 20, 30 ou 40 anos. Quando alcançamos certa idade, deixamos para trás um monte de preocupações e objetivos que não mais serão possíveis. 

Nessa idade a maioria dos projetos, geralmente já foram realizados ou abortados. Então, já que o ponteiro do relógio não para, é tempo de eu me resignar por aquilo que não está mais ao meu alcance e acostumar em olhar uma pessoa mais velha no espelho... 

No ambiente profissional as piadinhas com a idade serão inevitáveis. O jeito é não ligar e aceitar também ser chamado de "senhor". Essa simples palavra será a senha para me sentir oficialmente velho. 

Doenças vão aparecer e a visita ao médico ficará mais frequente. Aliás, ninguém ficará impune ao tempo e às doenças. É o pedágio que se paga por viver mais. A menos que o tempo me vença prematuramente. 

Apesar de todos os problemas que enfrentei para chegar até aqui, sinto-me privilegiado por iniciar uma nova fase. Aceito a minha idade com naturalidade e não preciso provar mais nada a ninguém. Sou capaz e com limitações como todo mundo. Sou mais livre também e não tenho nenhuma vigilância invisível sobre os meus atos. Minha consciência me basta e não devo nada a ninguém. Daqui em diante, quero ter o prazer de viver de forma mais livre, afinal a vida é breve e logo voltarei ao nada, novamente! 

Vida que segue!

Obrigado pela atenção, desculpem-me pelos erros de português e excessos. 


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