11/05/2014

Às vezes a vida é uma droga.






Vivi dos dez aos vinte e seis anos de idade num bairro considerado "boca-quente".
Naquela época, traficantes e usuários eram mais discretos e não incomodavam a vizinhança. 

O ambiente costuma influenciar, mas no meu caso, consegui atravessar essa fase sem necessidade ou curiosidade de ter experimentado nenhum tipo de droga, nem cigarro.

Outra coisa rara aconteceu na minha vida é que apesar de viver boa parte num bairro “boca de fumo”, ninguém chegou perto de mim para oferecer algo. Estou "negritando" as partes delicadas porque algumas pessoas realizam "leitura dinâmica" ou não entendem o que leem.

Quando eu era jovem, frequentava um clube de minha cidade natal chamado Ilha Clube. Era um clube tradicional e teve seu auge na década de 90. Promovia muitos shows de rock nacional e várias bandas de sucesso. As duas quadras do clube ficavam lotadas com mais de seis mil pessoas para assistirem Lulu Santos, Roupa Nova, A Cor do Som, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha e os Abóboras selvagens, Capital Inicial, Lobão, Titãs, Legião Urbana e muitos outros.


Música alta, jogo de luzes, muito suor, gente pulando e cheiro de maconha no ar, como qualquer clube do Brasil.


Foi nesse ambiente que inevitavelmente identifiquei aquele cheiro estranho e característico no ar. Isso foi o mais perto que cheguei da droga. Uma fumaça fedida e suspensa que o vento se encarregava de esparramar pelo recinto.
Não tinha como fazer de conta que nada acontecia. A coisa fedia. Assim como a fumaça do cigarro legalizado, porém um pouco menos.

Algumas pessoas são tolerantes com o vício da boca para fora ou famigerado discurso liberal politicamente correto para agradar e continuar em paz com todo mundo.

Ser tolerante falando ou escrevendo no teclado do computador é bem mais fácil. No mundo real a coisa não é tão fácil assim.    

O vício normalmente foge do controle e detona a vida e a saúde da pessoa.

Sabemos que às vezes a vida é uma droga, mas definitivamente "mais droga" não é a melhor solução.

Conheci gente que experimentou esporadicamente e conseguiu administrar, sem viciar, mas muitos não pararam por aí. Quando retorno a minha cidade, recebo notícias dos que já morreram  e outros vagando, falando sozinho, improdutivos e vendo bichos no ar...

Li esta semana que o presidente Mujica do Uruguai, legalizou a maconha e disse que 'viver é experimentar'. É uma frase de impacto e falaciosa. A liberação da maconha atende a muitos interesses, um deles, tem relação com o aumento do consumo nas classes mais altas, e isto inclui parentes e amigos de políticos. Descriminalizar, portanto, tem o viés de afastar este tipo de público da insegurança e violência das bocas de fumo e claro, por tabela extirpar o risco de ser flagrado pela Polícia. Hoje o país que mais comercializa maconha são os Estados Unidos e só isso já dá para entender o poder e interesse envolvido.



 Vou aproveitar o tema e falar um pouco sobre um livro do Dr. Dráuzio Varella chamado “Borboletas da Alma”. Gosto muito de seu trabalho, pois ele faz a divulgação da ciência para o público de uma forma simples, sem jargões médicos complicados, o que aproxima o leigo ao conhecimento.


Neste livro eu entendi melhor porque as pessoas usam drogas. É uma armadilha. Ele explica que para o cérebro, toda recompensa é bem-vinda, venha ela da experiência vivida ou de uma droga ilícita. Sempre que os neurônios encarregados de reconhecer recompensas são estimulados repetidamente por substâncias químicas ou vivências que confiram sensação de prazer, existe risco de um cérebro vulnerável tornar-se dependente delas e desenvolver uma compulsão. Por isso tanta gente bebe, fuma, cheira cocaína, perde casa em jogo de baralho (isso é da época do meu avô), come demais, faz sexo sem parar, compra o que não pode pagar e levanta pesos compulsivamente nas academias. A palavra “dependência” vem sempre associada às drogas químicas, ao desespero do dependente para obtê-las, ao aumento da tolerância às doses crescentes e à crise de abstinência.
Toda vez que o cérebro é submetido a estímulos repetitivos que provocam prazer, os circuitos de neurônios envolvidos em sua condução se modificam para tentar perpetuar a sensação de prazer obtida.

Caso alguém, tenha interesse em ler este livro, recomendo.



Elaborado por Alex Gil em 11/05/2014

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