13/02/2016

Aprendendo a homenagear - Nietzsche


Caro leitor, perceba abaixo como uma tradução mal feita pode comprometer a intenção do autor na língua original. O primeiro texto foi retirado do livro chamado "A Gaia Ciência" de Nietzche, que adquiri num sebo em Volta Redonda-RJ, no Edifício Redondo, editado pela Editora Escala. O segundo texto eu copiei da internet porque não possuo o livro da Companhia das Letras.

Leia e compare essa tradução da Editora Escala com a Companha das Letras. Qualquer leigo percebe a diferença absurda entre os dois livros.


1 - Editora Escala:

"Homenagear se aprende da mesma forma que desprezar. Aquele que abre caminhos novos e que conduza por eles muitos homens descobre com surpresa como são inábeis e pobres todos essas homens na expressão de seu reconhecimento e mesmo quando é raro que esse reconhecimento chegue a se manifestar. É como se, cada vez que ele quer falar, alguma coisa se entrava na garganta, de modo que não faz outra coisa senão tossir e engasgar-se na tosse. É quase cômico ver de que maneira um pensador apreende o efeito de suas ideias, de seu poder de transformação e o abalo que produzem; parece às vezes que aqueles que experimentaram esse efeito se encontram, no fundo, ofendidos e não sabem exprimir senão por meio de mil grosserias sua independência que julgam ameaçada. São necessárias gerações inteiras para inventar uma convenção cortês do reconhecimento; e só muito tarde é que chega o momento em que uma espécie de espírito e de genialidade penetra o reconhecimento. Então alguém recebe em abundância os agradecimentos, não somente pelo bem que ele próprio fez, mas pelo tesouro de coisas sublimes e excelentes que seus predecessores acumularam".

A Gaia Ciência - Coleção O Essencial de Nietzsche - Editora Escala - Página: 170


2 - Difícil né! Agora leia a tradução da Companha das Letras:

"É preciso aprender a homenagear, tanto quanto a desprezar. Todo aquele que segue novos caminhos, e que conduziu muitos por novos caminhos, descobre assombrado como esses muitos são pobres e canhestros ao exprimir sua gratidão, e mesmo como é raro a gratidão poder se expressar. É como se, querendo falar, algo sempre lhe incomodasse a garganta, de forma que ela apenas pigarreia e silencia com o pigarro. O modo como um pensador chega a sentir o efeito de suas idéias e a energia transformadora e perturbadora destas é quase uma comédia; às vezes se diria que os que experimentaram esse efeito sentiram-se por ele ultrajados, no fundo, e que apenas com grosserias podem expressar a independência que acreditam ameaçada. São requeridas gerações inteiras para se inventar apenas uma convenção cortês de agradecimento; e apenas bem tarde chega o momento em que até na gratidão penetra algum espírito e genialidade; então geralmente há alguém que é o grande receptor da gratidão, não só pelo que ele próprio fez de bom, mas sobretudo por aquilo que gradualmente seus precursores acumularam, um tesouro do que há de melhor e de mais elevado".


NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 126-127, (Aforismo Nº 100).



Bem, essa é a bobagem de hoje!


2 comentários:

  1. Muito bem lembrado, Alex. O primeiro texto foi traduzido por alguém que julga saber inglês e como escrever em português de forma clara, mas está longe disso. O segundo, bem mais claro, demonstra a habilidade do tradutor. O livro e as traduções em português na internet do livro "Elogio da Loucura" são um completo crime. Alguém, reescrevendo-o, deu uma conotação religiosa à obra que é exatamente o contrário do que Erasmus escreveu. Estou traduzindo o verdadeiro para publicar.

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  2. Obrigado Vallejo. Assim que concluir a tradução favor divulgar, pois tenho interesse nessa leitura.

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