18/04/2016

O inimigo do riso


Esse é Axel, o inimigo do riso, com quase 50 anos!
O texto abaixo foi escrito pelo meu amigo Luis Vallejo, professor aposentado, em seu blog Clone Clock e o link encontra-se no final desta página.

A história na verdade se passa quando Axel estava com 19 anos (05/04/1985) e estava iniciando a sua carreira profissional na Nestlé de Barra Mansa-RJ. Ele era muito jovem e tímido e por um lapso do autor, o texto menciona que ele possuía 18 anos, mas esse detalhe é irrelevante. No próximo mês Axel completará 50 anos de idade!

A sala em que a história ocorreu era o Escritório Técnico da extinta fábrica de Iogurtes de Barra Mansa cuja história já escrevi algumas vezes aqui no Diário Banal. Segue um link no final desta página com a publicação de meu último dia naquela unidade.

Uma história que já dura 30 anos! Por isso é legal registrar a vida pois o tempo passa e as palavras permanecem.

Para contextualizar a história revelo o nome real dos  personagens que se apresentam com nomes "artísticos":

  1. Luís Vallejo era o sujeito intelectual da sala e foi através de sua influência,que tive o interesse pela literatura. Maiores detalhes veja o link no final desta página.
  2. Axel é esse sujeito banal que vos escreve com apenas 19 anos na época desse relato.
  3. Hilário era um sujeito chamado Mário Estrela que fora desligado um tempo depois.
  4. Livramento era o Sr. Antônio Nascimento, encarregado do Escritório Técnico.
  5. Serapião era o chefe do setor e seu nome era Sebastião Andrade.
  6. Esmeraldo era o famoso José Geraldo Koenigkan

O Inimigo do Riso

Axel entrou para ocupar o lugar de Hilário, como auxiliar de escritório, subordinado ao Livramento. Com dezoito anos, caladíssimo e preocupado em fazer corretamente o serviço, ficava na sala como uma sombra. Parecia que nem estava ali.

Nosso sala, sempre com alto astral, era muito movimentada, pois a consulta ao arquivo técnico era imperiosa para o bom funcionamento da fábrica. Todos os encarregados de seção, chefetes e alguns funcionários passavam por ela diariamente. Nessa hora, além de assuntos de serviço, saiam também comentários de noticias, política, futebol, mulher e .... piadas.

Sempre que alguém contava uma piada ou um caso jocoso, todos riam, menos Axel, que se abaixava e colocava a cabeça debaixo do tampo de sua mesa. No princípio ninguém notou esse pormenor, mas com o passar do tempo, essa particularidade foi notada e certas pessoas iam ali, para contar piadas velhas, só para ver o coitado, na hora em que todos riam, se jogar para debaixo da mesa.

Depois de algum tempo, quando já tínhamos nos divertido bastante com esse comportamento estranho, Livramento resolveu espremer o garoto.
- Olha aqui, Axel - começou ele, paternalmente - Você é um garoto esforçado, trabalha bem e estou satisfeito com você, que pode contar comigo.
- Sim senhor, obrigado - respondeu Axel, com os olhos baixos
- Mas, tem uma coisa que está preocupando todo mundo - continuou Livramento - É esse seu tique nervoso de colocar a cabeça embaixo do tampo da mesa. Isso é de nascença ?
- Eu não sei do que o Sr. está falando - vacilou Axel
- Vamos ser claros, menino - falou sério Livramento - A fábrica inteira tá sabendo disso e tem gente que tá vindo aqui só prá ver você se comportar dessa maneira estranha. Quando eu achar que isso está atrapalhando o serviço, aí você já sabe... - e fez um gesto de facão cortando.
Axel quase se mijou de medo e começou a gaguejar.
- É que, eu, que..... quando....
Esmeraldo começou a rir do embaraço do rapaz.
- Pega leve, Livramento. O garoto pode ter uma doença...
- Você tem alguma doença nervosa ? - emendou Livramento - Vamos, desembucha já, porque vamos resolver essa situação hoje, agora.
- O Serapião - Axel apontou tremendo para a divisória de vidro que separa a sala do Serapião da nossa - É ordem dele....
- Essa não entendi - respondeu surpreso Livramento - Que ordem é essa? Vamos! Fala!

Axel demorou um pouco, analisou a situação, olhou para a sala de Serapião, que estava vazia, olhou para Livramento, olhou para sua mesa de trabalho e abriu a boca, falando como nunca tínhamos ouvido antes:
- Tá bom, eu falo. Quando o Sr. me escolheu para trabalhar aqui, o Serapião, um dia antes de eu começar, me chamou para uma entrevista, me deu várias instruções e uma delas foi jamais rir durante o expediente. Ele disse que havia várias reclamações sobre risadas nessa sala e que se ele me visse rindo aqui dentro, a qualquer hora, me demitia sumariamente. Como esses caras vêm aqui contar piadas, eu não me agüento e quando tenho que rir, para garantir que o Serapião nunca vai me pegar rindo, escondo a cabeça embaixo da mesa. Tá explicado?

Soltamos uma gargalhada conjunta e Axel se jogou debaixo da mesa, para nos fazer companhia.



Links:

http://cloneclock.blogspot.com.br/2007/11/crnica-industrial.html

http://alexgilrodrigues.blogspot.com.br/2016/03/nestle-barra-mansa-meu-ultimo-dia.html

http://alexgilrodrigues.blogspot.com.br/2016/03/livro-o-mundo-assombrado-pelos-demonios.html


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