Estou de volta aqui neste sábado gelado de 30 de Abril de 2016, para escrever minhas tradicionais banalidades. Hoje digitarei sem censura sobre um tema tão "apaixonado" quanto delicado. E por que tratarei de um assunto tão delicado aqui no Diário Banal?
- Primeiro, porque ter opinião não é crime e também porque quero deixar algumas coisas escritas para os meus filhos e quem sabe até meus futuros netos.
Eu não tive oportunidade de saber o que o meu pai pensava sobre a vida e nem o meu avô e então, para que meus descendentes conheçam um pouco "direto da fonte", deixo aqui minhas próprias palavras.
Bem, vamos direto ao tema!
Cresci fora da religião, graças a "Deus"! (É ironia hein!)
Nunca me encaixei no sistema e isso já faz muito tempo.
Na minha juventude a religião predominante era a católica e o movimento pentecostal fundado por brasileiros, ainda não possuía a penetração como atualmente. Eu enxergava a religião como um evento domingueiro onde as pessoas colocavam sua melhor roupinha para se reunirem numa igreja.
Em minha memória juvenil existiam os católicos, os macumbeiros, pouquíssimos evangélicos e uma parte que não frequentava nenhuma religião mas que se autodenominava "católico não praticante". Bem, essa era a minha percepção sobre o ambiente. Naquela época eu não conhecia nenhum budista, ateu ou espírita.
Diante desse pano de fundo, cresci fora da bolha religiosa e consegui escapar porque não havia nenhuma influência familiar e aquilo também não me atraía.
Lembro-me de que até cheguei a assistir algumas missas por livre iniciativa na igreja matriz de São Sebastião de Barra Mansa-RJ, com o objetivo apenas de agradecer pelo ar que respiro e pela minha mãe viúva com três filhos. Nunca fui de ficar ajoelhado pedindo coisas.
Se eu fosse pedir alguma coisa, talvez fosse o meu pai perto da gente ajudando a minha mãe criar os três filhos pequenos, mas isso era impossível pois ele já não existia mais e diante do implacável, prometi a mim não pedir nada e seguir a minha vida "sozinho".
Naquela época, as pessoas religiosas não ficavam dedicando seu tempo livre para conseguirem "almas" para as suas igrejas ou para Jesus, como os evangélicos preferem dizer atualmente. Que eu me lembre, nunca ninguém chegou perto de mim para me convidar ou insistir para participar das missas ou participar de algum culto!
Nem o meu avô, que era a pessoa mais próxima e católico, nunca tocou nesse assunto. Aliás meu avó era de pouquíssimas palavras e colocava seu terno, sapato preto, uma caneta no bolso e comparecia às missas apenas aos domingos de manhã. A religião para ele era uma coisa muito íntima e silenciosa. Gosto de gente que não fica falando o tempo todo sobre religião!
No meu bairro havia um grupo de jovens católicos que se reunia para cantar e tocar violão na igreja ou na casa dos outros. Os jovens gostavam porque era uma forma de terem contatos, passear e até iniciar os namoricos. Nessa época, também não me recordo de ter recebido um único convite para fazer parte do grupo. Eu sou um sujeito que me acostumei desde cedo a não fazer parte de grupos. Eu tinha no máximo um ou dois amigos quando muito, para ir ao cinema, clube e festinhas. Na maioria das vezes eu preferia mesmo era ir sozinho ao meu próprio caminho. Aprendi ser ser independente desde a perda do meu pai e a partir de então nunca admiti que me conduzissem. Nunca precisei de pastor, padre, rabino ou qualquer tipo de líder religioso para tomar as decisões sobre a vida.
Antigamente eu falava para os outros que era católico, para não me sentir excluído e ninguém me encher o saco.
Era semelhante aquela desculpa daquela pessoa que está num meio de um grupo fanático por futebol e diz torce para qualquer time, apenas para ser aceito socialmente mas não sabe o nome de nenhum jogador e nem assiste os jogos.
O meu pai também se dizia católico mas não me lembro dele frequentar a missa. Ele gostava mesmo era de frequentar o barzinho do Sr. Odair e do Murilo que existia perto de nossa casa.
No final da década de 1970 papai teve uns 3 infartos e sentiu vontade de viajar até "Aparecida do Norte" para pedir saúde à padroeira. Só um detalhe banal: Naquela época todo mundo falava "Aparecida do Norte" mas o nome correto é apenas "Aparecida". Percebi que na minha cidade todo mundo falava errado e existe gente até hoje que ainda fala dessa forma.
Hoje, além de eu saber o nome correto, sei também que um comprimido cura mais do que boas intenções ou rezar de olhos fechados.
A viagem à Aparecida significava a sua cura. Nós, como toda criança que quase não sai dos limites das paredes do quintal, significava a oportunidade de passear. Adoramos aquela viagem!
Naquela época, ainda existia o famoso trem de aço que levava os passageiros de Barra Mansa-RJ até Aparecida. Como nunca havíamos "andado" de trem, essa acabou sendo a viagem inesquecível de nossa pobre família.
Ficamos três dias naquela cidade e visitamos a Basílica "Velha", a "Nova", o hotel, o comércio de bugigangas e o parque de diversões. Meu pai deve ter gasto toda a sua economia nessa viagem. Comemos em restaurantes e dormimos em hotel pela primeira vez na vida!
Lembro que em frente à "Basílica Velha", era assim que chamávamos, existiam aqueles fotógrafos que os jovens só conhecem através de filmes, onde o fotógrafo ficava atrás da câmera com tripé, levantava o paninho preto e escondia sua cabeça enquanto ficávamos por algum tempo juntos esperando o clique da máquina.
A fé do meu pai aumentou à medida em que ele piorava de saúde e infelizmente ele não foi curado. Morreu com apenas 42 anos de idade!!!
Enfim, cresci e me desenvolvi sem influências religiosas de parentes ou amigos e até hoje me mantenho independente. Procuro utilizar a razão para tomar decisões e desviar das ilusões reconfortantes e ilusórias. Não é mais uma questão de escolha. Para mim foi um longo processo alcançado gradativamente através de observações, leituras, reflexões e percepção das incoerências.
Hoje eu sei claramente que a religião é um sistema fechado que inicialmente te oferece suporte psicológico e esperanças e aos poucos domina totalmente a sua vida, dizendo o que você deve e pode pensar, o que ler, falar, vestir e onde frequentar. Algumas escolhem até o marido ou a mulher para o jovem se casar!!! Dizem que consultam o Espírito Santo! Conversa para boi dormir. Os líderes decidem tantas coisas em nome do "Espírito Santo" mas quem está dentro da bolha não desconfia dessa farsa. A coisa acontece de maneira sutil. É interessante para a igreja que os futuros casais sejam da igreja para que ambos já dominados e adestrados pela doutrina, perpetuem aquela filosofia de vida
Com o tempo, a interferência e o domínio da vida do membro faz com ele sentir um grande sentimento de culpa pelos próprios impulsos naturais! O sujeito vai se tornando tão dependente que, além de não conseguir tomar conta de sua vida e seu tempo livre, a igreja elabora inúmeras atividades para preencher 24 horas do dia da pessoa, sobrando pouco tempo para pensar e um tempinho para dormir, afinal, precisam acordar bem cedo para participar da "oração da madrugada" para receber mais "bençãos"!!! E caso algum membro falte às atividades, logo ele é procurado sutilmente em sua casa para uma visita para oração e claro, ouvir a justificativa da ausência!
Aliás , quando o membro se ausenta da igreja, ele sente sua vida infeliz e com sentimento de culpa tão grande que não consegue mais viver sem aquele sistema. Torna-se um dependente semelhante às drogas ilícitas. Pensam que não existe mais vida fora daquilo.
Vejo com muita preocupação o trabalho mental que fazem principalmente com os mais jovens, fazendo-os desprezarem a vida e acreditarem numa "vida após a morte" e que o universo gira em função das pessoas que dele fazem parte, invertendo as prioridades e objetivos da vida. Além disso, criam na cabeça deles, uma polícia mental que monitora 24 horas através de um olhar invisível e punidor! Isso é muito cruel!
O método é tão bem elaborado que quem entra no sistema não percebe a dependência e o vício. Acreditam veementemente que esta forma é o único "caminho, a verdade e a vida"!
A vacina é tão eficiente que caso rompam os grilhões que os mantêm dominados, logo procuram outra para oferecerem o pescoço, as mãos e a própria vida porque não conseguem mais decidirem de forma independente e livre.
Os membros assumem tantas responsabilidades dentro da igreja e ainda pagam por isso. Trabalham incessantemente todos os dias e finais-de-semana até a exaustão, com o objetivo de conseguirem cada vez mais pessoas para viver dentro da bolha, abrindo mão da própria vida, adiando planos pessoais em prol dos objetivos deste sistema.
Estou escrevendo tudo isso porque conheço muito bem como funciona o método, apesar de não fazer parte. Os membros vivem como se tivessem o cérebro formatado e programado conforme as regras do sistema e acreditam que existe um universo paralelo.
Agem como robôs programados para executarem tarefas em retribuição às muletas psicológicas, seguindo normas rígidas imposta pelos líderes em nome do "espírito-santo", que controlam todos os aspectos da vida social dos habitantes da bolha, fazendo os membros robotizados aceitarem o comando feliz e culpado!
É por essas e outras que adoro a seguinte frase atribuída ao Abraham Lincoln:
"Quando faço o bem, sinto-me bem, e quando faço o mal, sinto-me mal. Eis a minha religião."
Nota do autor: Posso até ser criticado por não ter escrito o lado positivo da igreja na vida das pessoas, mas o objetivo desta publicação não era fazer esse enfoque, aliás não tenho essa obrigação e nem pretensão. Escrevo o que me vem à minha cabeça sem compromisso. Eu reconheço que existe um trabalho social desenvolvido por algumas denominações (bem poucas), pois a maioria está preocupada mesmo em aumentar o número de adeptos, que significa mais poder e dinheiro e com a a própria "salvação", ou sei lá o que isso quer dizer. Outro ponto positivo é o apoio psicológico às massas, dado que o ser humano é um bicho carente, mas isso também possui um "custo elevado". Nada é de graça. Preciso dizer também que respeito a escolha de cada um, como gostaria que respeitassem a minha forma de interpretar o mundo. Por fim, já repararam que mesmo os mais apaixonados pela fé morre de medo de morrer? Se tivessem absoluta certeza de que essa vida não é nada comparada com o que virá, certamente haveria festa e desejo para morrer o mais rápido possível. Não é o que vemos por aí! Deixe-me terminar essa nota se não vai virar outra publicação!
Bem leitor, essa foi a banalidade de hoje!