Num certo dia frio do mês de Julho, os raios do sol de inverno atravessavam as nuvens e tocavam as grossas paredes da matriz de São Sebastião de Barra Mansa-RJ, enquanto os dois ponteiros negros do relógio de sua fachada, repousavam provisoriamente entre os algarismos romanos e registram 16:00 h.
Estava de férias na minha cidade natal e caminhava lentamente pelo centro da cidade de Barra Mansa – RJ com a cabeça erguida e as mãos no bolso até alcançar a praça Ponce de Leon, mais conhecida como Praça da Matriz para revisitar o meu passado.
Poderia estar naquele momento em Bangcoc, eleito o melhor destino turístico do mundo, Florença, Istambul ou Grécia, mas como sou banal e teimoso, prefiro Barra Mansa! Ironias à parte, ainda caminho de acordo com o comprimento de minhas pernas.
Foto real com zoom do relógio da Praça da Matriz Ponce de Leon
Nota: Mesmo conhecendo essa praça há mais de quarenta anos, dessa vez tive a oportunidade de notar uma curiosidade no relógio após fotografar e aproximá-lo. O algarismo romano correspondente ao número 4 foi confeccionado com o algarismo IIII, sendo que o correto é IV ou aprendi errado!
O velho sino de bronze permanecia imóvel enquanto os pombos repousavam e sujavam o busto de Padre Magno de Lara, fixado no local desde 1964.
O cenário é completado por um obelisco inaugurado em homenagem ao dia do trabalho de 1933, onze árvores de cada lado da praça, dois pipoqueiros e dois engraxates.
Permaneci provisoriamente localizado próximo dos três coqueiros (pouca gente repara que existem 3 coqueiros lá) em frente à Avenida Joaquim Leite, de costas para a igreja e sem a preocupação da velocidade dos ponteiros do relógio.
Em frente à nave cinza do outro lado da rua encontra-se o famoso Café Capital, antigo Café Favorito, local tradicional onde se reúnem pessoas comuns, aposentados, comerciantes, políticos, candidatos, vagabundos e outros mentirosos.
Meu tempo é livre e aquele dia foi reservado para coisas simples e banais para purificar um pouco a mente e sentir um pouco da vida sem preocupações, mesmo que por um breve período, já que se sabe que as melhores coisas da vida são simples... e não custam quase nada.
O povo perambulava pela avenida enquanto as folhas dançavam ao sabor do vento e as cores do farol se revezavam tentando organizar o caos urbano.
Os carros surgiam na tradicional Avenida Joaquim Leite, da esquerda para a direita, enquanto o semáforo autorizava as pessoas atravessarem constantemente entre as duas calçadas opostas, como formigas desorientadas que seguem uma trilha.
Voltar às origens é um hábito que repito todos os anos e me faz muito bem. Funciona como uma terapia. O eterno retorno colocado em prática. Bula recomendada para relembrar o passado, refletir sobre o tempo, descobrir um ponto de vista diferente, realizar a releitura do ambiente, enxergar o próprio envelhecimento refletido na ruga e cabelos brancos das pessoas que você conheceu na juventude e encontrar os amigos para atualizar as histórias.
Nessa breve ociosidade foi possível reencontrar os familiares, amigos, conhecidos e trocar algumas palavras, aceno ou apenas sorrir. O suficiente para matar a saudade e sentir aquele prazer de ter compartilhado com aquelas pessoas, o mesmo lugar, tempo e lutas.
Foto de Chicória e Lauro num supermercado no bairro Ano Bom
Tomei um café com pão de queijo no Café Capital enquanto observava o mundo em movimento: pessoas, carros, ônibus...
Mulheres carregando suas bolsas e suas cabeleiras com muitos litros de tintas para tentar disfarçar a ação inevitável do tempo. Outras que já foram belas no passado e que ainda não perceberam o peso da idade e do próprio corpo...
Adolescentes distraídos com seus inseparáveis celulares, um policial militar exibe sua arma pendurada no pescoço, dois guardas municipais parados na calçada revezando seu olhar entre o nada e o relógio, mães irritadas puxando seus filhos pelas mãos, senhoras carregando sacolas, jovens conversando e sorrindo enquanto caminham, homens apressados com as testas franzidas, velhos com seus inseparáveis casacos caminhando sem pressa e já acostumados com o desprezo dos jovens e as pernas cansadas...
Dentro de cada cabeça um mundo de preocupações, sonhos e problemas. Cada um transitando com seu mundo de expectativas, ritmo e disponibilidade de tempo, enquanto o relógio da vida avançava e pressionava...
Toda cidade possui a sua particularidade e importância. Se alguém me pedisse uma frase para definir Barra Mansa diria com poucas palavras que é uma cidade simples cujo maior encanto é o seu povo amigo e acolhedor. Um lugar onde você faz amigos em cada esquina, bar ou em qualquer lugar e que inevitavelmente se conversa com estranhos como se fossem conhecidos de longa data.
Bem aventurada a cidade em que seus habitantes são mais importantes do que a sua arquitetura.
É uma pena que no campo político a cidade não está recebendo a atenção que a população merece, mesmo com o revezamento das promessas em cada eleição...
Nessa cidade nasci, descobri a vida, passei minha infância e me tornei um homem honesto e responsável.
Meu abraço aos parentes, amigos e conhecidos e desculpem-me a falta de tempo de visitar ou entrar em contato com todos, pois hoje o tempo voa, escorre pelas mãos...
Até a próxima!
Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 18/07/2014 para registrar as érias de Julho de 2014.
Alex. O numeral romano para 4 é atualmente IV. Mas no latim antigo não havia um padrão e se escrevia tanto IIII com IV, assim como, por exemplo, VV (10) no lugar de X. Quando se inventou o relógio no século 14 procurou-se fazer uma simetria entre os dois lados do mostrador, de 1 a 6 (um lado) e de 6 as 12 (outro lado), utilizando-se a mesma quantidade de caracteres de cada lado (14). Para isso utilizou-se a ainda se utiliza o IIII antigo para o número 4. Mas isso somente é aceito no mostrador de relógios.
ResponderExcluirBelo comentários, boas palavras que nos levam a uma viagem contigo. Um grande abraço.
ResponderExcluirObrigado Vallejo pelo esclarecimento e Valmir pelo comentário. Abraços.
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