Meu contato
com o seu trabalho foi por acaso, em 2010.
Tenho hábito de visitar livrarias e sebos para garimpar alguma obra de meu interesse.
Certa visita encontrei numa prateleira lotada de títulos, um livro de capa verde
oliva com o seguinte título: “Do universo à jabuticaba”.
Confesso que esse nome não me seduziu à primeira vista. Entretanto, a palavra “universo” me atraiu e foi determinante para eu querer abrir o livro, folhear e casualmente parar na página 57.
Logo que
terminei de ler essa página, gostei de seu estilo simples e tive vontade de ler um pouco mais. Naquele
momento decidi pela compra.
Parecia um
avô que não tive conversando comigo de forma livre, direta, sem frescuras ou hipocrisia, tão comum nas relações sociais...
Nesse livro,
ele escreveu sobre variados temas (infância, sexo, velhice, vida, morte, liberdade, filosofia, etc.). Todos os assuntos escritos de forma breve e que deixam a gente pensando.
Leitura fácil e agradável, cuja leitura recomendo.
Leitura fácil e agradável, cuja leitura recomendo.
Abaixo
digitei apenas a página 57 que me fez comprar o livro.
Página: 57 do livro: Do universo à jabuticaba.
Autor: Rubem Alves
Melhor
idade?
Os aeroportos são gentis. Ao chamar os passageiros para o
embarque, eles dão preferências às gestantes, às crianças, às pessoas com
dificuldade de locomoção, terminando a lista com o delicado título conferido
àqueles que pertencem à nobre classe da "melhor idade". Ah! Melhor
idade! Os mais fortes, os de pele mais lisa, os mais bonitos, de cabelos mais
brilhantes, os de passos mais firmes... Mas basta pensar sobre o sentido das
palavras para se dar conta de que se trata de eufemismo, uma mentira delicada
para não humilhar os velhos. Os jovens delicados vestem os velhos com eufemismos...
Porque, pra ser verdadeiro mesmo, ao invés de chamá-los de cidadãos da melhor
idade, o alto-falante deveria chamá-los de "cidadãos d".
Porque é só o fato de haver algo de ruim nessa idade que
permite que ela seja batizada com título tão delicado. Falo por experiência
própria: envelheci e não melhorei. Piorei. O grau de “pioreza” da minha idade
pode ser medido pela atenção que tenho de aplica às mínimas coisas que vou
fazer. Quando jovem, a atenção vinha embutida naturalmente no corpo. Não
precisava pensar. Eu descia a escada com a mesma rapidez com que um pianista
toca uma escala de dó. Corria lépido. Não precisava prestar atenção. O corpo se
encarregava dela automaticamente. O corpo tropeçava, caía, ralava, levantava,
trombava, corria, carregava pesos, dispensava corrimãos. Hoje, cair é quase ter
certeza de uma fratura... O tempo passou. O mundo ficou o mesmo. Mas o meu
corpo mudou. E agora tenho de observar atentamente por onde vão minhas pernas,
meus pés, minhas mãos, meus olhos. Constantemente.
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