21/07/2014

Adeus Rubem Alves.

Rubem Alves morreu neste sábado passado dia 19/07/2014 aos 80 anos em Campinas.
Meu contato com o seu trabalho foi por acaso, em 2010.

Tenho hábito de visitar livrarias e sebos para garimpar alguma obra de meu interesse.
Certa visita encontrei numa prateleira lotada de títulos, um livro de capa verde oliva com o seguinte título: “Do universo à jabuticaba”.

Confesso que esse nome não me seduziu à primeira vista. Entretanto, a palavra “universo” me atraiu e foi determinante para eu querer abrir o livro, folhear e casualmente parar na página 57.

Logo que terminei de ler essa página, gostei de seu estilo simples e tive vontade de ler um pouco mais. Naquele momento decidi pela compra.

Parecia um avô que não tive conversando comigo de forma livre, direta, sem frescuras ou hipocrisia, tão comum nas relações sociais...

Nesse livro, ele escreveu sobre variados temas (infância, sexo, velhice, vida, morte, liberdade, filosofia, etc.). Todos os assuntos escritos de forma breve e que deixam a gente pensando.
Leitura fácil e agradável, cuja leitura recomendo. 

Abaixo digitei apenas a página 57 que me fez comprar o livro. 


Página: 57 do livro: Do universo à jabuticaba. 
Autor: Rubem Alves

Melhor idade?

Os aeroportos são gentis. Ao chamar os passageiros para o embarque, eles dão preferências às gestantes, às crianças, às pessoas com dificuldade de locomoção, terminando a lista com o delicado título conferido àqueles que pertencem à nobre classe da "melhor idade". Ah! Melhor idade! Os mais fortes, os de pele mais lisa, os mais bonitos, de cabelos mais brilhantes, os de passos mais firmes... Mas basta pensar sobre o sentido das palavras para se dar conta de que se trata de eufemismo, uma mentira delicada para não humilhar os velhos. Os jovens delicados vestem os velhos com eufemismos... Porque, pra ser verdadeiro mesmo, ao invés de chamá-los de cidadãos da melhor idade, o alto-falante deveria chamá-los de "cidadãos d".
Porque é só o fato de haver algo de ruim nessa idade que permite que ela seja batizada com título tão delicado. Falo por experiência própria: envelheci e não melhorei. Piorei. O grau de “pioreza” da minha idade pode ser medido pela atenção que tenho de aplica às mínimas coisas que vou fazer. Quando jovem, a atenção vinha embutida naturalmente no corpo. Não precisava pensar. Eu descia a escada com a mesma rapidez com que um pianista toca uma escala de dó. Corria lépido. Não precisava prestar atenção. O corpo se encarregava dela automaticamente. O corpo tropeçava, caía, ralava, levantava, trombava, corria, carregava pesos, dispensava corrimãos. Hoje, cair é quase ter certeza de uma fratura... O tempo passou. O mundo ficou o mesmo. Mas o meu corpo mudou. E agora tenho de observar atentamente por onde vão minhas pernas, meus pés, minhas mãos, meus olhos. Constantemente. 



Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 21 de Julho de 2014.


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