24/05/2016

Sobre o bom dia


Todas as manhãs, após atravessar a porta do escritório onde trabalho, mantenho um ritual automático e necessário ao me aproximar dos colegas de cela, cumprimentando cada um através de um breve aperto de mão.

Acho educado este gesto e já conheci gente que o considera anti-higiênico. 

Particularmente não me importo com isso e por via das dúvidas, mantenho um frasco de álcool na minha mesa para resolver este pequeno "problema" em poucos segundos. 

Alguns colegas cumprimentam as meninas com beijinhos mas tenho por hábito não tomar a iniciativa de avançar o meu rosto em direção ao delas. Adianto que não tenho nada contra esse gesto cultural e nem sinto repulsão. Nada disso! É que prefiro deixar esta iniciativa de aproximação para a outra pessoa pois temo ser considerado um invasor.  

Essa atitude pode até ser excesso de respeito de minha parte. Reparei que hoje em dia quase todos os jovens se cumprimentam beijando. Talvez me comporto assim por timidez ou por ser de outra época... Enfim, não tenho certeza. 

Depois de tantos anos repetindo a mesma cena ao iniciar o dia, reparei que nenhum cumprimento é igual ao outro. Na minha sala tenho uma amostra bem diversificada. 

Existe aquela pessoa que levanta a mão para cumprimentar sem manter contato visual enquanto continua distraída com a outra mão no teclado. Tem também aquela que sorri com os olhos e a boca enquanto fala bom dia, como se realmente estivesse desejando b-o-m-d-i-a! Há outra que aperta a mão com tanta força enquanto sorri que parece sua mão parece que entrou numa prensa! A estratégia é apertar com força também para oferecer um pouco resistência e equilibrar o combate. Tem também aquela que cumprimenta com o rosto tão sério que mais parece que está dando os pêsames. Há aquela que possui a mão tão frouxa, mas tão frouxa, que dá a sensação que estamos apertando a mão de um cadáver. Existe também aquele cumprimento econômico onde o indivíduo chega de cabeça baixa com a sua mochila igual a de um viajante, abre a boca e dá um bom dia fraco e genérico como se fosse tivesse falando consigo mesmo. A gente acaba respondendo com a mesma entonação e falta de emoção (educação) como um espelho que reflete o estado de espírito da pessoa. Há aquele também que mesmo não sendo tão jovem, dá um soquinho com a mão fechada e te obriga a fazer o mesmo e logo depois, abre a mão e dá um tapinha com a palma da mão. 

Tem também aquele que chega cabisbaixo, não fala nada e não cumprimenta. Atravessa a sala de forma tão silenciosa e invisível que parece andar de meia e sem sapato enquanto caminha pelo piso da sala, sem emitir nenhum ruído! Após essa entrada "invisível", ele puxa a sua cadeira calmamente e se senta atrás do monitor quietinho como um gato! 
Há dias que só percebemos que a pessoa está trabalhando apenas depois de algumas horas!

Brincadeiras à parte, acho que cumprimentar com um "bom dia" é um gesto mecânico, social e essencial para resumir em duas palavras o seguinte diálogo imaginário: 

 - Olá! Como você está? Olha, não estou tão feliz nesta manhã fria e preferiria estar debaixo de meu edredom neste momento, mas já que estamos compartilhando o mesmo oxigênio por oito horas e não tenho outra opção, que pelo menos estes momentos sejam tolerados da melhor maneira possível!

Pensando bem, é mais fácil dizer bom dia não é mesmo?


Até a próxima!

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