Acordei sábado com essa missão e fui sozinho ao comércio da cidade de Araras visitar as lojas do ramo e tentar selecionar algum bálsamo agradável.
Confesso que não é fácil comprar perfume de mulher.
Sentir o aroma agradável no pescoço e atrás da orelha é muito mais fácil.
A indústria que vende cheiro inventa muito para tentar agradar aos narizes e substituir o cheiro natural do ser humano.
Normalmente as atendentes se apresentam bem arrumadas, maquiagem e com o discurso decorado para tentar influenciar a escolha. Deduzo que fazem um cursinho básico para dizerem os dialetos perfumistas.
A atendente pergunta o meu nome para aplicar a técnica de venda aprendida no primeiro dia do cursinho e se eu prefiro colônia ou perfume.
- Perfume - arrisco sem saber muito bem a diferença.
Acho que estou indo bem!
Depois disso, ela me pergunta se minha mulher é suave, floral ou marcante!
Agora já complicou um pouco, mas para não demonstrar ignorância eu disse "suave".
Após essa pequena entrevista a mocinha se dirige à ala dos suaves, recolhe uns pedaços de papel cartão branco e borrifa os "suaves" para eu cheirar.
Pego o papel, aproximo de minha narinas, fecho os olhos, aspiro e... começo a espirrar sem parar.
A moça começa a detalhar o produto, tentando desviar a minha atenção para as palavras ao invés do cheiro e ignorando meus espirros.
Ela fala umas coisas estranhas entre um espirro e outro:
- Alex, este perfume foi inspirado na velocidade dos movimentos, nos contrastes das formas e dos pensamentos do nosso tempo.
- Hã!- Minha primeira interjeição após ouvir aquela verborragia decorada que mais parecia uma experiência psicodélica.
Nesse momento, percebendo finalmente que não gostei do cheiro, ela borrifa outro perfume em outro cartão e me entrega.
Repito o ritual de cheirar e a mocinha continua sua viagem quase mística:
- Nessa fragrância foram usadas ingredientes antagônicos, onde o quente e o frio se contrastam e se combinam. Os acordes da fragrância nos dão uma sensação direta e inusitada.
- Hem?, O quê? - Penso sem falar.
Entre uma amostra e outra ela me entrega um reservatório contendo café para eu cheirar e "apagar" os cheiros anteriores.
- O cheiro de café estava tão bom que quase pedi um perfume de café para levar para minha mulher.
Ela me entrega outro cartão e continua com a tagarelice:
- Nesse perfume o frescor dos cítricos se integra a personalidade das madeiras, a leveza dos florais se funde à sensualidade dos musks e assim todos os ingredientes se interligam em um perfume novo e moderno.
- Chega!!! - pensei até em dizer amém!
Assim que terminou de falar ela me pergunta o que eu me lembrava enquanto sentia aquela amostra.
Nesse momento até fiquei com vontade de ser sincero, mas preferi não falar.
Ela ficaria desapontada se revelasse que aquele cheiro me lembrava coroas de flores utilizadas em velório. Era melhor despistar e dizer que ainda não havia encontrado o aroma que procurava.
Agradeci, fui para uma outra loja e finalmente encontrei um perfume "suave" e com cheiro de mulher ao invés de flores, chiclete, baunilha ou tabaco.
Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 25/01/2015