15/11/2015

Escravo que orava ganhava a liberdade?


Imagine-se, nobre leitor, se você tivesse nascido na época da escravidão e fosse propriedade de um dono por toda a sua vida, desde criança até a sua morte.

Perceba que esse exercício que estou propondo é uma situação perfeitamente plausível, vez que tal situação foi uma condição de vida de muita gente desde as primeiras civilizações.

Como sabemos, a escravidão foi praticada através da força por outro ser humano, que o considerava seu dono. Você seria uma mercadoria com direito a pouca comida, água e um canto para dormir. Isso era o mínimo fornecido para você continuar vivo e trabalhando.

Estou escrevendo essa breve introdução com objetivo de convidá-lo para um exercício mental.

Suponha que você seja um escravo, com seus 18 anos de idade e louco por liberdade. Suas chances de conseguir sua tão sonhada liberdade eram bem reduzidas, porque da mesma forma que você possui esse desejo de libertar-se, aquele que te comprou também se cerca de todas as estratégias para mantê-lo aprisionado.

Seu avô, sua mãe e sua irmã são todos escravos dizem a você para não se aborrecer e agradecer ao papai do céu, pela sua vida, pelo trabalho, pela água e pelo ar que respira, porque depois que você morrer, será livre e viverá eternamente nas mansões celestiais!

Algo em seu íntimo implora por viver aqui e agora. Seu sonho é cuidar da própria vida nesta vida, sem ser dono de ninguém. Mas sua família, tenta te convencer que o melhor vem depois que você morrer e que sua vida atual não é importante.

E você fica observando a boa vida que seu dono...

Seu dono possui muita fé em Deus. Toda a sua família se reúne aos domingos numa capela também construída com mão de obra escrava. Muitos açoites foram dados desde a fundação até o sino. Seu avô apanhou muito nessa construção pois trabalhava doente e muito desanimado. Um padre é convidado aos domingos para celebrar a missa. Todos se se reune para agradecer à Deus pela vida, alimento, filhos e escravos.

Seu avô também foi escravo por toda a vida e desde criança aprendeu com o seu bisavô que um homem sem fé não é nada e que você deveria ter fé para conseguir seus objetivos.

E assim viveu seu bisavô, avô, mãe e irmã por todos os dias, até envelhecer.

Antes de dormir, a luz de lamparina iluminava o pequeno espaço em que adormeciam e você percebia sua mãe com os olhos fechados, agradecendo a Deus pelo barraco que seu dono emprestava, pela sobra de alimentos que os alimentavam e pela água que matava a sua sede.

E assim dormiam todos os dias enquanto a velhice, a doença e a morte não chegavam.

Essa foi a rotina dos escravos por muitos séculos esperando uma resposta do silencioso céu, trabalhando, apanhando e cansando até a morte chegar.

Morrer parecia ser um bom negócio! 

Bem pessoal, vou encerrando por aqui para a história não ficar muito longa.
A inspiração dessa história banal apareceu depois que li a frase abaixo de um ex-escravo chamado Frederick Douglass, nascido nos EUA em 1818 e falecido em 1895 e veja que elegância de frase:

"Eu rezei por vinte anos e não obtive resposta, até que resolvi rezar com as minhas pernas".
Frederick Douglass, escravo fugitivo.



Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 15/11/2015. Logo acima, foto real, de Frederick Douglass (abolicionista, estadista e escritor).



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