Imagine-se, nobre leitor, se você tivesse nascido na época da escravidão e fosse propriedade de um dono por toda a sua vida, desde criança até a sua morte.
Perceba que
esse exercício que estou propondo é uma situação perfeitamente plausível, vez
que tal situação foi uma condição de vida de muita gente desde as primeiras
civilizações.
Como sabemos, a escravidão foi praticada através da força por outro ser humano, que o considerava seu dono.
Você seria considerado uma mercadoria com direito a pouca comida, água e um
canto para dormir. Isso era o mínimo fornecido para você continuar vivo e trabalhando.
Estou
escrevendo essa breve introdução com objetivo de convidá-lo para um exercício
mental.
Suponha
que você seja um escravo, com seus 18 anos de idade e louco por liberdade. Suas
chances de conseguir sua tão sonhada liberdade eram bem reduzidas, porque da
mesma forma que você possui esse desejo de libertar-se, aquele que te comprou
também se cerca de todas as estratégias para mantê-lo aprisionado.
Seu avô,
sua mãe e sua irmã são todos escravos e dizem a você para não se aborrecer e pelo contrário, agradecer ao papai do céu, pela sua vida, pelo
trabalho, pela água e pelo ar que respira, porque depois que você morrer, será
livre e viverá eternamente.
Algo em
seu íntimo implora para viver a vida agora. Seu sonho é cuidar da própria vida nesta vida,
sem ser dono de ninguém. Mas sua família, tenta te
convencer que o melhor vem depois e que sua vida atual não é importante.
E você
fica observando a boa vida que seu dono leva...
Seu dono
é uma pessoa de muita fé também. Toda a sua família se reúne aos domingos numa capela
construída na própria fazenda, para agradecer à Deus pela vida, alimento,
filhos e escravos.
Seu avô também
foi escravo por toda a vida e desde criança aprendeu com o seu bisavô que um
homem sem fé não é nada e que você deveria ter fé para conseguir seus
objetivos.
E assim
viveu seu bisavô, avô, mãe e irmã por todos os dias, até envelhecer.
Antes de
dormir, a luz de lamparina iluminava o pequeno espaço em que adormeciam e você percebia sua mãe com os
olhos fechados, agradecendo a Deus pelo barraco que seu dono emprestava, pela
sobra de alimentos que os alimentavam e pela água que matava a sua sede.
E assim
dormiam todos os dias enquanto a velhice, a doença e a morte não chegavam.
Essa foi
a rotina dos escravos por muitos séculos esperando uma resposta do silencioso céu, trabalhando, apanhando e cansando até a morte chegar.
Morrer parecia ser um bom negócio!
Bem
pessoal, vou encerrando por aqui para a história não ficar muito longa.
A inspiração dessa história banal apareceu depois que li a frase
abaixo de um ex-escravo chamado Frederick Douglass, nascido nos EUA em 1818 e
falecido em 1895 e veja que elegância da frase:
"Eu
rezei por vinte anos e não obtive resposta, até que resolvi rezar com as
minhas pernas".
Frederick
Douglass, escravo fugitivo.
Elaborado
por Alex Gil Rodrigues em 15/11/2015. Logo acima, foto real, de Frederick
Douglass (abolicionista, estadista e escritor).
Nenhum comentário:
Postar um comentário