08/05/2020

Página 15 - Meu livro: Memórias de Zara Crotone


- Sr. Zara, acorde! - Ouço uma voz aguda e me assusto com o barulho de seu calçado sobre o piso. Não reconheço aquele chamado e estou confuso.


- Sou Celi, a enfermeira desse setor. Está se sentindo melhor?

- Hã! O quê? Senhorita, o que estou fazendo aqui? 

- Daqui a pouco o médico virá e conversará com o senhor. Tome esse comprimido com um pouco de água que vou te ajudar a sair dessa cama. Leio em sua ficha que o senhor já está de alta e pronto para despedir da gente. Vamos tomar um banho?

- Como assim? Por que estou aqui? – insisto tentando entender.

- Senhor, eu já expliquei, o médio logo virá conversar. Vamos, me dê as mãos e coloque os pés aqui nessa escadinha que eu te ajudo a descer e caminhamos até ao banheiro. - disse Celi apressadamente.

Como demoro um pouco para descer da cama, sou puxado bruscamente pelos braços e quase caio ao tentar endireitar o meu corpo.

Ela praticamente me empurra em direção ao banheiro, retira o meu roupão com extrema habilidade e me deixa sozinho embaixo da ducha de água quente. 

Logo que fecho os olhos e começo a sentir o prazer com o contato da água escorrendo pela minha face a enfermeira enfia a mão em direção à torneira, desliga a ducha e sai rapidamente. 

- Vamos, acabou o seu tempo! – grita a enfermeira após lançar uma toalha em cima da minha cabeça.

Visto minhas roupas e logo que saio do banheiro o médico vem em meu encontro. Assim que ele chega bem perto vejo o nome Kurzhals gravado em seu jaleco e minha mente dá um estalo e consigo me lembrar de todos os detalhes, desde a ambulância chegando com a Alice no Hospital até a dura notícia de sua morte transmitida de forma cruel e insensível desse carniceiro.

- Senhor Lara, bom dia! - disse o médico com as mãos estendidas para mim mas com os olhos esticados nas pernas da enfermeira. E ainda me chamou de Lara novamente! - Minha memória está retornando.

- O senhor teve uma queda de pressão, após ficar sabendo da morte de sua esposa e então passou uma noite em nosso hospital. Nossa direção, num gesto humanitário e sensibilizada com a situação do senhor, resolveu não cobrar as despesas com o seu atendimento.

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