Precisei comprar batatas num mercadinho de um bairro vizinho, porque eu estava sem carro e impedido de deslocar-me aos supermercados tradicionais e mais distantes. Mercadinho de bairro tem suas vantagens pois encontramos quase tudo para emergências domesticas e imprevistos, desde cola para tubo PVC, torneira, carrapeta, filtro de barro, moringa, carne, pão, vinho de qualidade duvidosa e lógico, batatas. Muitas batatas!
Enquanto eu aguardava a minha vez de ser atendido, imobilizado como um saco de batatas, haviam duas senhorinhas que deduzi serem moradoras do bairro e tive a certeza, depois que ouvi a sua conversa. Antes que me julguem bisbilhoteiro, adianto e me defendo que eu estava na fila aguardando a minha vez e ainda possuo boa audição e um Blog Banal para registrar qualquer bobagem. Enquanto espero a minha vez de pesar as batatas:
- Oi fulana, quanto tempo não te vejo!
- Pois é, faz muito tempo mesmo!
- Eu fico o dia inteiro em casa e saio apenas para vir ao mercado.
- Eu também! Quase não saio de minha casa e fico cuidando de meu netos para a minha filha trabalhar.
- Onde você está morando?
- Eu moro nesse bairro, perto da borracharia e você?
- Eu também moro nesse bairro, na mesma casa há 30 anos, perto da escola.
- E como está a família?
- Olha, eu moro sozinha, não tenho filhos e meu marido morreu há 7 meses... (nesse momento ela parou de falar, seus olhos encharcaram enquanto a amiga consolava passando as mãos em seus ombros e dizendo aquelas coisas que todo mundo fala)
- Não fique assim, ele com certeza está melhor do que a gente. - prosseguiu a outra senhora.
- É que ele foi o meu primeiro e único namorado e sinto muito a sua falta. Minha vida ficou muito triste e vazia!
- Fique tranquila, meu bem, DEUS SABE E TODAS AS COISAS..
Quando comecei a pensar sobre essa frase, a moça que pesa as batatas, gritou atrás da balança:
- Próximo!
Peguei meu saco de batatas que já estava cheio, pesei e pensei se valia a pena levar tanta batata... paguei e não pensei mais nisso. Salvo pelas batatas!