Tarde de sábado, 6 de Janeiro de 2018. Caminho sem preocupação pela calçada de minha cidade natal, Barra Mansa-RJ. Estou de férias e nesta ocasião ando muito. Rara oportunidade de revisitar o passado e observar a passagem do tempo. Ando devagar esquadrinhando as construções, fachadas e ruas.
Desloco o meu corpo em direção à padaria na Avenida Domingos Mariano, próxima à esquina do colégio Verbo Divino, para aplacar a minha vontade de tomar café-com-leite e pão quente. Caminhar prolonga a saúde e exercita a reflexão. Minha mente movimenta com mais velocidade do que os carros que passam pela rua. Tenho a companhia de um turbilhão de pensamentos.
Em cada construção, uma história e em cada rosto, uma porta do passado.
Numa janela, do outro lado da calçada, havia um velho sobrado. Um rosto, também velho, aponta a sua cabeça para a rua, com movimentos lentos e despretensiosos. Olhar opaco e semblante sério de quem já cansou das batalhas da vida. O velho não me nota. Pareço invisível andando do outro lado da rua. Ou então fingiu que não me viu. Nessas alturas, isso pouco importa. Ele me devolve o desprezo que recebe dos outros primatas. Provavelmente seus pensamentos estavam longe, em algum tempo onde havia algum significado, um momento mais agradável do que aquela rua e transeuntes indiferentes à sua existência. Parecia que detestava pessoas e estava entediado pela paisagem monótona e vida sem graça.
Presumo que seus objetivos foram cumpridos ou abandonados. O ponteiro do relógio avança lentamente assim como os seus movimentos.
Talvez esteja esperando alguém chegar ou, caso solitário, esperando o sono. Seus instintos aparentemente se resumem a fome, sede, sono e dores.
Se eu fosse ele, escreveria tudo o que eu via daquela janela e leria também todos os livros possíveis. Dizem que aquele que lê jamais sente solidão.
Avanço pela calçada e não olho mais para aquela janela. Aquela cena virou passado.
Cheguei na padaria e pedi o meu café-com-leite e pão-quente. O velho ficou lá atrás. Jamais saberá que um desconhecido o notou e escreveu o seu suposto olhar pela janela. Vida que segue.
Alex Gil Rodrigues