28/06/2015

Dilma, a "mulher Sapiens", saúda a mandioca e a bola


Meus queridos filhos Rodrigo e Júlia,

Recentemente aqui no Blog Banal, papai prometeu que não publicaria nada sobre política nos finais de semana, porém, em caráter excepcional, publicarei essa vergonhosa pérola de nossa rocinante do planalto. 

Com esse exemplo, chegamos à conclusão de que formação acadêmica não transmite cultura a ninguém. Dilma Rousseff é formada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul desde 1977 e ocupa o cargo mais importante do país!!! 

Por isso, meus filhos, quando se formarem, não acreditem que adquiriram "cultura" apenas por terem frequentado a universidade por 5 anos. Ter cultura é outra coisa e se busca por toda a vida. Papai é um sujeito banal e escreve muita bobagem e nem sou muito "culto", sei disso, mas apesar disso, sempre gostei de aprender com os livros e consigo reconhecer onde existe cultura.
  
Esse exemplo da dona Dilma, serve para lembrar de que faculdade fornece apenas uma fração do conhecimento "específico" necessário para a vida profissional e só.  

Se você quer evitar passar vergonha como a nossa presidente, terá que buscar conhecimento por conta própria. Minha dica é ser curioso e aprender a gostar de leitura.

Encontrei um texto bem interessante de um grande jornalista, crítico de teatro e escritor brasileiro já falecido, chamado Paulo Francisque apesar de não ser formado, era culto e deixou algumas dicas interessantes que ele aplicou em sua vida. Segue abaixo o link, se tiverem interesse. Agora, se tiverem preguiça de ler...bem, o problema é de vocês. Fiz a minha parte. 

http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/guiaparatercultura.html

Antes de finalizar, reveja a cara de idiota quando ela dá uma paradinha no tempo e mostra uma bola feita de folha de bananeira. Depois ouça os aplausos dos macacos! Que vergonha! 


Escute a música que o grupo "Timbu Fun" (desconheço) fez à Dilma.




Não precisa dizer mais nada né!

Abraços meus queridos!


Elaborado pelo papai Alex Gil Rodrigues em 27/06/2015.

22/06/2015

Minha breve aventura nas tintas




No ano de 1992, resolvi me matricular numa escola de pintura. Nessa época ainda não tinha filhos e o tempo sobrava. Lembro até hoje quando eu e minha esposa, recém casados, fomos ao espaço cultural chamado PAC, que ficava em frente ao Colégio Estadual Barão de Aiuruoca, em Barra Mansa-RJ, para iniciar nosso aprendizado com as tintas. 
Não sei se esse espaço ainda existe pois isso não costuma render votos...

Este quadro acima foi minha primeira tela pintada, orientada pelo famoso padre Silva de Barra Mansa. Aliás, ele nem era mais padre nessa época, mas ninguém conseguia chamá-lo pelo seu nome. Infelizmente não sei se ele ainda é vivo. O tempo passa e a gente perde contato e informações.

Essa tela encontra-se comigo há 23 anos e registra a minha breve passagem pelo ateliê.

Hoje uso as tintas apenas para cobrir o desprezo recebido, pintar paredes, tetos e as portas de minha casa. 

Daquela experiência, ficou a saudade da leveza dos pincéis e do tempo de ociosidade...
Hoje só me resta fotografar e publicar essa pequena vaidade no Blog Banal. 

Aqui pelo menos estará protegida do cupim, ação do tempo ou da lata de lixo!

Bem, sem mais nenhuma banalidade para dizer nessa segunda-feira de inverno, até breve!


Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 22/06/2015

14/06/2015

Que tipo de pessoa vive nesse lugar?


(Crédito da Foto à Sérgio Fortuna)

Quando precisei abandonar minha cidade natal (Barra Mansa-RJ), por motivos profissionais para mudar-me para Araras-SP, depois de 42 anos, tive a oportunidade de aplicar em minha vida a essência de uma historinha muito interessante que li quando jovem.

Gostaria de compartilhar com vocês, pois nunca mais esqueci essa história e serviu-me de inspiração para a vida muito tempo depois.  

Sou do tempo em que normalmente as pessoas nasciam, viviam e morriam num mesmo lugar, mas esse tempo não existe mais e para enfrentar isso, temos que mudar a forma como enxergamos o ambiente, mudar nossa postura e olhar com boa vontade o que existe de bom, seguir a vida e ser feliz com o que temos.

Lamentar e ficar preso ao passado faz mal para a nossa saúde mental e não ajuda enfrentar a nova vida.

No final dessa publicação apresentarei a original dessa história a título de curiosidade para vocês conhecerem. Espero que gostem e apliquem à vida, se desejarem. Você é livre para fazer as suas escolhas.

A história original é um pouco diferente, mas fiz a seguinte adaptação livre:

O trem seguia viagem, passava por várias cidades e parava de tempo em tempo nas estações para recolher e desembarcar mais passageiros. Os viajantes aproveitavam essas paradas para esticar as pernas, comprar alguma coisa e os mais curiosos aproveitavam para obter informações daquele local. 
Numa determinada estação existia um velho, sentado num caixote, que vendia fumo. 
Um viajante de meia idade aproximou-se do velho e perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive nesse lugar?
O velho antes de responder-lhe fez outra pergunta:
- Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O homem respondeu:
- Um bando de gente fofoqueira, egoísta e individualista. Ainda bem que saí de lá.
O velho então lhe falou:
- A mesma coisa encontrará por aqui.
E o homem foi embora desapontado.

No mesmo dia, um rapaz viajante tão curioso quanto o primeiro, desceu do trem e fez a mesma pergunta ao velho que vendia fumo:
- Que tipo de pessoa vive aqui?
O velho então devolver a mesma pergunta que fez ao viajante anterior:
- Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz então respondeu-lhe:
- Lá vive muita gente que gosta de fazer amizade, honesta e hospitaleira. Fiquei triste por ter de deixá-las.
O mesmo tipo de gente encontrará por aqui meu amigo - respondeu-lhe o velho

Depois que o rapaz foi embora, um homem que vendia laranjas ao lado do velho e escutou as duas conversas perguntou ao velho:
- Como é possível você dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:

- Cada um carrega no seu coração o ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto.


Fim

Agora como prometido, segue a história original com a mesma essência.

Conta uma popular lenda do Oriente que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e, aproximando-se de um velho, perguntou-lhe:
– Que tipo de pessoa vive neste lugar ?
– Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem ? – perguntou por sua vez o ancião.
– Oh, um grupo de egoístas e malvados – replicou o rapaz – estou satisfeito de haver saído de lá.
– A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui –replicou o velho.
No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:
– Que tipo de pessoa vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta: – Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu: – Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
– O mesmo encontrará por aqui – respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
– Como é possível dar respostas tão diferente à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu :
– Cada um carrega no seu coração o ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto.


Adaptado por Alex Gil Rodrigues em 14/06/2015. Excelente vida a todos e não repare os eventuais erros de português.

13/06/2015

Qualquer dia é dia


Minha namorada

Ontem foi dia dos namorados. Nunca fui de comemorar datas festivas estabelecidas. Sou rebelde com relação a isso e ainda não descobri o motivo. 

Gosto de não ter data específica e comemorar qualquer dia. Nesses dias, nunca vou à restaurantes lotados para ficar esperando garçons desesperados viajando entre as mesas e equilibrando bandejas. É desagradável ficar esperando muito tempo e ainda pagar para ser mal atendido. Normalmente quando se é jovem, não se preocupa com esses detalhes. Mas eu não sou mais jovem.  

Nem meu aniversário costumo comemorar e já adianto que não foi nenhum trauma de infância como se pode supor, visto que da minha infância até a adolescência, sempre comemoramos todos os meus aniversários. 

Nossa família fazia questão de se reunir nessa data para cantar "parabéns prá você" em volta da mesa e entregar os presentes. Essa data nunca passou em branco. 

Nunca gostei de ser ser aplaudido e olhado por todos. Isso me incomodava muito. Todas as pessoas olhando sorrindo e aplaudindo em minha direção não me deixava à vontade. Tinha vontade de sumir nesse momento. 

Até hoje tenho esse problema. O estranho é que minha filha Júlia de 9 anos também possui esse comportamento. Ela nunca está nas fotos de seu aniversário. Registramos apenas a mesa com o bolo e seus colegas batendo palma sem a aniversariante!

Ela sempre corre para debaixo da mesa ou se esconde atrás do sofá para não enfrentar os "terríveis" aplausos e sorrisos em sua direção. Não tenho explicação para esse comportamento fora do padrão herdado. O ser humano é um bicho estranho mesmo. Todo mundo tem alguma "esquisitice". Para evitar esse "constrangimento", ultimamente, já que estamos morando longe da família, vamos ao Shopping D. Pedro com alguma coleguinha, comemoramos lá mesmo e ela fica muito mais feliz.

Não quero dizer com isso que nunca comemoro nada. Não é isso. Gosto de comemorar, mas fora dessas datas e do meu jeito. Fico muito feliz em ir à restaurantes, ser servido, ouvir uma música, mas tudo com "tranquilidade". Dá muito prazer ouvir a voz de quem conversamos, com o suporte de garçons atenciosos e disponíveis, além de encontrar vaga para deixar o carro sem estresse. E isso é possível fora dessas datas. 

Já li em outra ocasião, que no dias dos namorados até os motéis ficam com filas de carros esperando para entrar! Fico imaginando as camareiras desesperadas dentro dos quartos preparando as mesas, ops, batendo os lençóis e colocando os travesseiros no lugar rapidamente, para que o próximo casal entre para jantar, ops! 
Ah! tenha dó. Não dá. É o cúmulo da padronização da data.

Bem, vou ficando por aqui e para terminar, acho que qualquer dia é dia para se comemorar e todos os dias bons devem ser lembrados.

Feliz qualquer dia a todos!


Elaborado um dia depois do dia dos namorados, pelo "estranho" sujeito chamado Alex Gil Rodrigues em 13/06/2015.

05/06/2015

Não olhe apenas para o abismo




Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não se tornar também um monstro. Quando se olha muito para o abismo, o abismo olha para você.

Friedrich Nietzsche.



03/06/2015

Nestlé Barra Mansa




Essa foto é uma viagem ao passado.

Eu quando era menino, passava pela calçada dessa fábrica, parava no portão e ficava olhando aí para dentro, exatamente nessa área que aparece na foto. É claro que o cavalo não é de minha época, bem eu acho.

Eu ficava admirando as pessoas com uniforme branco, botas brancas e “quepe” igual soldado. Olhava isso e pensava: Quando crescer vou trabalhar aí dentro. 

Ali onde está encostado este caminhão era a Recepção de Leite com seu teto em formato de abóboda. Um pouco à direita, em frente ao cavalo era a janela do Laboratório. Logo atrás, se vê as duas chaminés das Caldeiras, sendo uma de tijolinho e outra de metal. Aquela construção lá no alto do morro era o tratamento de água do SAAE.

Quando completei 19 anos consegui realizar esse sonho e comecei a trabalhar nessa fábrica. 

Tive a missão de ser o último colaborador dessa fábrica, mas não conto isso com orgulho! 

Não foi fácil ser o último a apagar a luz do Escritório Técnico até chegar ao ponto de não ter mais ninguém para me despedir... 

Todos meus colegas e amigos foram partindo aos poucos até que me vi só, ocupando uma sala, sem nenhum “colaborador” para falar “até amanhã”...Tudo desligado. Desértico. 

Andava pelos corredores e o silêncio gritava nos meus ouvidos. 

O último dia foi o mais difícil. Desci os dois lances de escada, caminhei pelo corredor e parei perto da portaria para a última olhada. 

Foram momentos de muita tristeza observar essa mesma área que vemos nessa foto. Senti um nó na garganta e parti definitivamente, deixando para trás e para sempre a segunda fábrica Nestlé no Brasil, minha primeira escola profissional, a minha segunda casa, meus amigos e 24 anos de história. 

O resto dessa história, contarei oportunamente no meu Blog Banal. 

Vida que segue. 



Elaborado por Alex Gil Rodrigues. 


Chuva no telhado





Felicidade é acordar no domingo, ouvindo a chuva no telhado, sem relógio, numa cama macia e sem necessidade de sair de casa!


Elaborado por Alex Gil Rodrigues após acordar feliz numa manhã fria de domingo.

01/06/2015

Tudo é banalidade


A luz estava acesa e os meus olhos permaneciam fechados.
Era uma manhã fria do mês de maio e eu estava aquecido entre panos.
Mal conseguia mexer os braços e o ambiente era silencioso.
Abri os olhos lentamente e vi uma luz brilhante.
Um rosto feminino me olhou com ternura...

Tudo começou assim.
Tudo na vida tem um começo.
O meu foi dessa forma, eu acho, não me lembro.
A maioria dos eventos em nossa vida segue um roteiro automático e mal notamos.
Não escolhi meu nome, aliás ninguém escolhe.
Mas isso não tem importância.
Nessa fase não tomamos nenhuma decisão.
Alguém cuida da gente.
Não poderia ser diferente.
Somos muito frágeis.
Chega um tempo na vida que precisamos decidir tudo.
Andar com os próprios pés, como diz o ditado.
Mas isso leva um certo tempo.
Nessa época não temos opção.
À vezes lá na frente continuamos sem opção...
Apenas seguimos a programação biológica.
Nasci sem dentes. Normalmente se nasce sem dentes.
E essa informação é irrelevante.
Aliás, quase tudo aqui escrito não tem importância.
Escrevo apenas por prazer.
Do jeito que surge na mente.
Tudo bruto.
Mas por que estou escrevendo isso?
Ninguém tem interesse nisso.
Eu sei disso, mas talvez sirva de curiosidade para meus filhos ou netos!
Meu pai não deixou nada escrito.
Nem meu avô.
Gostaria de saber o que eles pensavam.
Via de regra, o interesse pelas pessoas é proporcional ao seu "poder".
Não tenho poderes, sou banal.
Mas existem exceções. Ainda bem.
Vou escrever sem me preocupar...
Deixarei meus dedos teclarem minhas bobagens até o ponto final.
Sem censura, sem regras.
Aqui não preciso seguir normas.
A vida já tem normas demais.

Como eu dizia, naquela época era dependente de tudo.
E foi assim por muito tempo.
Mamava todos os dias.
De segunda a segunda, inclusive Natal.
Não sentia falta de um cardápio variado.
Nem sabia o que era cardápio.
Nesse tempo não ficava esperando o final de semana.
Nem o feriado. Nem as férias.
Minha vida era automática.
Mas isso eu não sabia.
Vida de cachorro é assim todo dia.
E eles são felizes.
Não existe calendário.
Aliás a vida de todo mundo é automática.
Dormia, acordava, mamava, sujava a fralda e dormia.
No outro dia, acordava, mamava, sujava a fralda e dormia de novo.
Mamãe limpava minha fralda.
Minha vida era monótona.
Mas eu não sabia o que era monotonia.
Tudo ia bem. Eu acho.
Eu era ignorante.
Ou melhor, menos ignorante.
Ser ignorante tem as suas vantagens.
Vivia todos os dias com o mesmo roteiro.
E foi assim por um bom tempo.
Um dia mamãe me deu papinha.
Acabei me acostumando.
Acho que nem notei. Era o que tinha.
Não reclamava. Reclamar de que?
Meus dentes cresceram.
Comia com colher.
Comia de tudo.
O tempo passou mais um pouco.
Estava na escola.
Tinha um monte de gente que eu não conhecia.
Aprendi escrever e ler. 
Conheci gente que chamamos de colega.
Cresci mais um pouco.
Cheguei aos dezesseis anos.
Nesse tempo era chamado de jovem.
Entrei para estudar no SENAI.
Carteira assinada e salário mínimo.
Comecei exatamente nesse prédio aí da foto..



Um dia os professores do SENAI levaram os alunos para conhecerem uma indústria.
Era preciso integrar e ter a  visão do futuro!
Foi escolhida a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em Volta Redonda.
A maior do Brasil. A maior da América Latina.
Uma das maiores do mundo. Meu irmão trabalha lá.
O meu primeiro contato com uma indústria não me agradou.
Estava acostumado com a limpeza e organização do SENAI.
Achava que indústria fosse igual SENAI.
Confesso que foi um choque para um menino de dezesseis anos na década de 80.


Um frangote sem experiência em contato com o fogo. O vermelho. O ferro líquido. As chamas.
Os operários com roupas grossas, máscaras, luvas, botas e capacetes.
Apenas os olhos para fora. Era um olhar triste. Muito triste.
Aquele sujeito seria eu no futuro?
Uma burca masculina.
Muito calor. Coqueria, ferro gusa e muito suor.
A imagem do inferno, se eu acreditasse nisso.
Foi marcante.
O tiro saiu pela culatra.
Quando me formasse não queria ir para lá. Por sorte não fui.
E a vida continuou.
Surge estágio numa pequena oficina de usinagem perto da minha casa.
Um caos. Um lixo.
Oficina do José Laércio. Torno velho.
Fresadora antiga. Furadeira. Solda. Cavaco.
Sem EPI. Sem uniforme. Sem dinheiro e SEM FUTURO!
O banheiro servia de refeitório.
Um amigo de Barra Mansa chamado Vanderlei, que também trabalhava nesse local, vivia repetindo: "nada é tão ruim que não possa piorar".
Nessa oficina eu precisava levar café na garrafa. Gostava da hora extra só para comer marmitex à noite. Nem acredito nesse absurdo. 
Comprava sabão-areia com dinheiro minguado que recebia.
A limpeza da graxa das mãos era por conta de cada um. Que absurdo.
O tempo foi passando e tinha muita vontade de melhorar. Quem não quer?
Entrei no Curso técnico. Colégio Verbo Divino.
Professor Japonês. Koiti Terazaki.
Formei-me em desenho técnico e usava lapiseira Pentel. Que orgulho!
Um grande salto. Desenhei por uns tempos e isso me agradava.



Comprei uma prancheta, caneta nanquim e papel vegetal.
Apendi a manusear o tecnígrafo na escola, mas na minha casa eu usava régua "T". Depois a paralela.
Hoje quase ninguém sabe o que é isso.
Desenhava com gosto.
Cobria cada linha com tinta nanquim.
Era uma terapia.
Virava a noite desenhando e tomando café.
Esse curso de desenho técnico me colocou na Nestlé.
O projetista se chamava José Geraldo Koenigkam.
O desenho (sépia) naquela época era colocado numa caixa que continha amônia para revelar as linhas. A sala cheirava amônia.
José Geraldo me entregou uma engrenagem para desenhar.
Mas a vaga era para desenhista elétrico.
Tinha 19 anos e queria a vaga.
Contratado como terceiro por 3 meses em abril de 1985.
Na sala trabalhavam o Sr. Nascimento, o Vallejo e o JGK.
São meus amigos até hoje. Guardo boas lembranças.
Eu era um jovem pacato e tímido no alto de meus poucos 19 anos.
Tinha vergonha até de sorrir.
Naquela época o jovem respeitava quem tinha mais idade.
Dia desses uma aprendiz de 1,50 m me encarou com olhar desafiante que até achei graça. Mal saiu das fraldas, mas o nariz já está empinado. Precisa tomar muito mingau ainda.
Neste ano de 2015 completei 30 anos na mesma empresa privada e sem estabilidade. Uma espécie em extinção.



Na prancheta eu usava "gilete" para apagar as linhas no vegetal.
Paciência valia ouro. O tempo era mais lento. Mais gostoso.
Hoje é tudo rápido. Nervoso. Impaciente. Impiedoso. Tenso. Veloz.
A chapa é quente, como dizem em Barra Mansa.
Precisamos correr. O tempo não para.
Os olhos sempre arregalados. A cabeça doendo. Pressão. O sono perdido. A vida indo embora.
Sucesso, poder e status.
Geração “Y”.
No meu tempo não existia geração “Y”.
Nome moderninho para diferenciar quem veio de outra época e construiu o presente...
Geração “Y” é o "baralho"!
Vamos dar bom dia ao galo e trabalhar primeiro!
Idioma é fundamental, mas não movimenta a máquina.
É preciso suor, honestidade e dedicação.
Hoje qualquer metido a besta quer colher sem plantar.
É muita corda para pouco nó.
É muito juiz para pouco jogador.
Querem comer o abacaxi sem descascar.
A vida é dura para todos, dos Alfas aos Épsilons, como no romance de Aldous Huxley.


O pato é caro mas todos querem de graça.
A estrada de quem não tem berço tem mais pedra. Mais poeira. Deserta.
Dizem que você tem que ser alguém. Mesmo que não queira.
Ter sucesso é ser alguém.
Então a maioria não é ninguém?
Mas o que é ser alguém? Ser alguém para quê?
Eu não sou ninguém e já me acostumei.
O tempo passou.
A boiada foi seguindo.
Entrei na faculdade.
A escolha foi pela Engenharia Mecânica.
Não fiz teste de aptidão. Fui como um boi que segue a boiada.
Setenta quilômetros de casa.
Ida e volta. Cento e quarenta quilômetros.
Chegava em casa meia noite.
Caminhava pelo escuro. O mundo dormia.
Muita fome e silêncio,
Devia ter feito outro curso.
Filosofia, História, Astronomia? Gosto de explorar o universo.
Talvez cientista...
Gosto de investigar.
Investigando descobri um pouco sobre o mundo.
E os livros foram ótimos professores.
Descobri muita coisa por conta própria.
Aprendi a sobreviver na selva e sem pai.
Logo abaixo a foto da Universidade Severino Sombra em Vassouras-RJ.
Neste local, conheci o famoso e velho Severino Sombra em pessoa.
Era um simpático senhor de cabeça branca. Entrou na aula inaugural, contou sua história e seu sonho de construir sua "Coimbra" brasileira. Acho que ele exagerou um pouco!



Conheci também Granville, cálculo de diferencial, integral, chuva, acidente e morte na estrada para Vassouras.
Vinho às Sextas-feiras no ônibus fretado.
Um pouco de alegria!
O motorista era um gordinho chamado de Kami. Na verdade, era Kamikaze.
Trabalhava, viajava, estudava, viajava, dormia e trabalhava.
Vegetava. Sem dinheiro. Dormia tarde e acordava cedo. Final de semana. Estudava o dia inteiro e tinha pouco dinheiro.
Pausava somente à noite para namorar.
Alegria de novo! Ninguém é de ferro.
Vassouras por quatro anos.
Só faltava um ano. Pausa para casar. Depois o retorno.
Fui vencido.
E o tempo passou.
Você tem que ser alguém. Todo mundo fala assim.
E seu eu não for alguém? E se o custo for muito alto? E se eu for infeliz?
Isso não importa.
Temos que lutar para ser independentes.
Quem depende muito sofre mais.
O mundo é assim.
A busca constante por algo...
Nem sempre se se alcança...ou se alcança e não se realiza.
A vida é automática. Muito dura também. Não há como escapar.
A vida às vezes te empurra para um túnel. Sem saída.
Muito escuro, tenso, barulhento e afunilado.
Você tem que se virar e sair de lá.
Reclamar não adianta.
Ninguém quer viver no abismo.
Viver bem não depende de ser "alguém".
Viver bem é um estado de espírito.
Tem que aprender a ler o mundo e traçar o seu caminho.
Enxergar o melhor e filtrar o que não se pode mudar.
Acostumar com o defeito dos outros e seguir o seu trajeto.
Deixar o gado pastar e admirar a paisagem.
Ignorar os urubus e contemplar o céu azul. Ler livros que desenvolva a autonomia e o pensamento crítico.
Esquecer de tentar mudar o outro e seguir o próprio caminho.
Mesmo que sozinho.
Às vezes bancar o ignorante gera felicidade.
Alguns lemas banais que sigo: Jamais entregar o controle da vida à terceiros.
Nem a padre, pastor, rabino, xamã ou qualquer idealista "bem-intencionado" em te dominar. Primeiro te oferecem palavras e sorrisos, para depois te "formatar", julgar e dominar. Sua vida, seus gostos, sua música, seu passeio, sua mente.
Minha vida cuido eu. Aprender a decidir é ter maturidade e independência.
Não crio muitas expectativas. Poucos se preocupam realmente com a gente.Terceirizar a vida e pensamentos é sinal de fraqueza ou alienação.
Vivo de acordo com minha consciência e assumo os erros.
Valorizo a lealdade e quando entro na chuva, que se dane a água.
Valorizo também as "pequenas" coisas banais da vida. Isso dá muito prazer.
Prezo pessoas humildes. Prezo gente inteligente. Valorizo quem não esquece suas raízes. Gosto de gente honesta. Não gosto de arrogância e abomino a soberba.
Prezo a amizade sem interesse, um encontro em volta da panela, do ritual da churrasqueira, ouvir histórias do passado. Uma cama macia. Um livro que faz pensar. O mar. O céu azul. O cheiro do capim. A solidão fora do bando. O sol que aquece nos dias de inverno. Uma caipirinha de vez em quando. A beleza da juventude. O sorriso que contagia. Um abraço apertado. Uma música com os olhos fechados.
É possível ser feliz com simplicidade.
Ter prazer enquanto os pássaros dormem.
Pensar sobre os mistérios da vida e se encantar com a natureza.
Buscar momentos felizes antes que seja tarde...mesmo que breves.
Antes que tudo se apague.
É muito bom lembrar de chegar ao final da vida e ter histórias para contar e sentir prazer quando lembrar.
E chegar à conclusão que, apesar de tudo e de todos, valeu a pena!
Uma vida plena, apenas uma, para mim é o suficiente. Se é que me entendem.
  


Até mais!



Viagens escritas de Alex Gil Rodrigues em 02/06/2015. O título "Tudo é banalidade" foi colocado despretensiosamente em associação ao "Tudo é Vaidade" de Eclesiastes, porém sem relação com o conteúdo. Aliás considero Eclesiastes o melhor capítulo escrito na Bíblia, pela sua realidade e humanidade.