18/09/2015

Como perdi a fé - Parte 2


... Fiquei na igreja até a última pessoa ir embora, com objetivo de falar com o padre sobre algumas dúvidas sobre Deus. Eu realmente estava decidido saber dele porque Deus não conversava comigo! O padre parecia ser um sujeito legal e muito íntimo de Deus devido as coisas que ele dizia durante a missa. Acho que ele pode me ajudar.

Logo que o padre apareceu, sem a sua tradicional batina de 33 botões, eu gritei:

 - Sr. padre, posso falar com o senhor?

A minha voz saiu tão alta que ecoou por toda a igreja e me deixou envergonhado.

O padre levantou a cabeça, virou em minha direção com o olhar atencioso que lembrava meu avô e disse com a voz suave:

- Claro meu jovem, o que você precisa?

- Sr. Padre, eu  preciso conversar com o senhor algumas coisas sobre Deus, o senhor tem um tempo?

- Com todo prazer, porém gostaria de conversar outro dia, porque hoje viajarei à cidade de Aparecida para participar de um seminário e preciso arrumar a minha mala urgente. Vamos combinar o seguinte, durante a minha ausência, escreva num papel todas as suas inquietações e volte daqui a três semanas para conversarmos.

- Vou te esperar hein e Deus te abençoe! - respondeu o padre atencioso estendendo suas mãos finas em minha direção.


- Claro Sr. Padre! Voltarei sim! Boa viagem! - respondi concordando e apertando-lhe sua mão.

Desci as escadas, atravessei a praça em direção ao Café Capital, virei à esquerda e segui caminhando pela calçada da avenida Joaquim Leite, alcancei a Domingos Mariano segui em frente, virei à direita à altura do Chico´s Lanches, atravessei a linha do trem e finalmente cheguei ao bairro Roberto Silveira. Ufa!

Entrei em minha casa e senti o cheiro gostoso de frango. Nem precisava olhar para a panela para descobrir o que tinha lá dentro, afinal, era domingo.

Nem comentei com a minha mãe sobre a visita à igreja nessa manhã. A mesa ficou pronta e o prato principal era o tradicional frango que a minha avó havia matado pela manhã, macarrão com molho de massa de tomate e um litro de Coca-cola!

Terminei o almoço e fui para o meu quarto pensar mais sobre o assunto, antes de colocar as palavras no papel. E pensando bastante, cheguei a conclusão que possuía muito mais perguntas do que imaginava inicialmente. Por um momento hesitei se devia mesmo envolver o padre nessa história, porque, na realidade, ele só entrou nessa história porque Deus não falava comigo e achei que ele pudesse intermediar a nossa conversa.

Encostei o lápis na folha branca do meu caderno, enquanto minha mente inundava de pensamentos e dúvidas. Percebi que as questões que me incomodavam eram bem maiores do que aquela que me motivou procurar o padre na igreja. Isso tudo me fez concluir também, que o silêncio de Deus era apenas a ponta do iceberg do mar de incertezas desta mente curiosa e inquieta.

Após alguns minutos paralisado e totalmente absorto, finalmente comecei a escrever freneticamente a primeira, segunda, terceira, quarta pergunta... e não conseguia mais parar nem para ir ao banheiro.

Não podia perder aquela rara oportunidade de finalmente ouvir as respostas de Deus, mesmo que através de um padre! 

Imagine você, caro leitor, se pudesse perguntar qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, sem censura, com o criador! Isso seria fantástico!

Que perguntas você faria a Deus? Você já parou para pensar nisso? 

Pois bem, antes das perguntas propriamente ditas, achei ser de bom tom, também, escrever uma introdução nessas anotações de minha epifania (aprendi essa palavra no livro de James Joyce - Ulysses - um livro que desisti de ler. Motivo: Acima de minha capacidade e paciência).

Sr. Padre, muito obrigado por intermediar minhas dúvidas sobre Deus.
Se faço por esse meio, não é por preguiça ou má vontade. 
É que Deus não fala comigo!
Apenas gostaria de saber algumas coisas e como o senhor sempre conversa com ele, solicito, respeitosamente, verificar a possibilidade de fazer-lhe algumas perguntas.
Solicito também, agradecê-lo por ter um cérebro que pensa, raciocina, questiona e possui um senso moral, mesmo não seguindo nenhuma religião.
Diga também que durante a minha vida, tentei fazer aos outros o que gostaria que eles me fizessem e que as minhas escolhas não foram feitas por medo de punição ou ameaças, porque entendia que procurar ser justo e honesto são valores que independem de religião. 
Seja qual for a sua natureza de Deus, queria falar também que, como ser mortal, finito, limitado e banal, não fui capaz de compreender a sua existência, apesar de minha busca e esforço racional.

E assim sendo, caso se confirme sua existência, mesmo eu não tendo conseguido estabelecer contato, que apesar do meu ceticismo, seja feita a sua vontade e desculpe-me por não compreendê-lo através de minha razão. 

Caso o senhor não consiga as respostas diretamente com Deus e se o senhor puder responder também, agradeço desde já a atenção dispensada.

1 - O que é exatamente Deus? (Uma energia, uma força da natureza, uma ideia maravilhosa, um espírito, uma inteligência? ...)

2 - O que fazia Deus antes de criar o universo, os mares, o homem, o tardígrado, o ornitorrinco, a bactéria e o vírus?

3 - Quem foi criado primeiro: os homens, os anjos ou os tardígrados?

4 - Por que Deus simplesmente não destruiu Lúcifer e ao invés disso criou um local (inferno) para abrigar o mal?

5 - Deus pode criar o mal? Em Isaías 45:7 diz que sim!

6 - Por que Deus criou o mal?

7 - Se Deus sabe tudo e para ele não tem passado nem futuro, por que ele precisou submeter Adão e Eva a uma prova, se já sabia que eles iriam desobedecer?

8 - Se Deus sabia que ia ser desobedecido, por que não evitou isso?

9 - Por que Deus não criou o ser humano dotado da possibilidade de crescer um novo membro amputado?

10 - Por que deus permite que animais como o camaleão e a lagartixa possam criar um novo membro amputado? 

11 - Quem será salvo: um assassino que matou e estuprou 5 pessoas, mas que depois se arrependeu e aceitou a "salvação" ou um médico indiano que passou a vida fazendo o bem, mas não é cristão? 

12 - Não seria mais fácil para Deus (basta ele querer) acabar com todo o mal no mundo e deixar a humanidade vivendo no paraíso eternamente?

13- Não seria mais fácil Deus acabar com o inferno e com o pecado? 

14 - Não seria mais fácil Deus acabar com a morte e as doenças? 

15 - Os sentimentos humanos afetam a Deus? (prazer, alegria, ira, ódio, tristeza, etc.) 

16 - Se existem anjos e protegem as pessoas, porque crianças morrem eletrocutadas, caem de prédios ou são estupradas?

17 - Se a oração funciona para "quem possui fé", porque muitas pessoas morrem de câncer, em viagem de carro ou ônibus, mesmo louvando a Deus?

18 - Por que Deus sendo onisciente (sabe tudo) e não se arrepende, porque ele se arrependeu de sua criação através do dilúvio?


       


Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 18/09/2015. Se der vontade publico a parte 3 ou então "Como perdi a vontade de publicar: como perdi a fé". 
 

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