10/09/2015

Como perdi a fé - Parte 1



Nasci num lar sem nenhuma influência religiosa, graças a Deus!

Na minha casa, como na maioria das outras, havia uma Bíblia aberta no Salmo 91, em cima de algum móvel, com suas páginas amareladas pelo tempo, cuja finalidade eu não entendia bem, mas minha mãe dizia que isso era "bom".

Quando eu era menino, me falaram também que eu devia participar das aulas de catecismo porque isso também era "bom". Até frequentei algumas, mas não tive prazer em continuar e chegar até a "primeira comunhão". As aulas eram aos sábados e num certo dia, deixei de assisti-las por perder o interesse. Acho que nem notaram a minha falta porque ninguém foi lá em casa pedir para eu voltar ou perguntar porque desapareci. Só lamento não ter aquela famosa foto com roupa branca e as mãozinhas juntas, olhando para cima com carinha de anjo.

Um tempo depois, tive aulas de religião no Colégio Barão de Aiuruoca em Barra Mansa-RJ. Sim, caro leitor, naquela época existia essa matéria na grade curricular, mesmo o colégio sendo estadual e o nosso país ser considerado laico. Para ser mais exato, a aula era de religião católica, ministrada pela simpática professora Terezinha, aliás uma senhorinha muito educada, magrinha, com seus cabelos curtos e tingidos. Acredito que essa matéria devia ser opcional, mas ninguém falava isso para a gente, para a sala não ficar vazia. 

Alguns domingos, eu até sentia vontade de ir à igreja para "conversar com Deus". A minha preferida e mais próxima era a Matriz de São Sebastião que ficava distante uns 3 Km de minha antiga casa até o centro da cidade. 

Chegava na igreja sério, cabisbaixo, meio sem jeito e escolhia um banco onde não tivesse ninguém para me incomodar. Era mais tímido do que atualmente. Acho que melhorei um pouco, mas continuo discreto em determinados lugares. Ficava em silêncio observando os detalhes da arquitetura. Aliás, uma bela construção, ampla, arejada, vitrais em mosaicos coloridos, grandes bancos de madeiras envernizadas, ventiladores de parede e uma linda pintura na parede atrás do altar. 

Na entrada, pelo lado esquerdo, existia uma espécie de túmulo na altura do joelho, no sentido horizontal, onde havia um boneco do tamanho de um homem, deitado atrás de uma parede de vidro, com peruca e os olhos fechados. Diziam que era a representação de Cristo. Aquele manequim envolvido com seda e tecido branco com borda lilás me aterrorizava. 

A missa começava com os ritos iniciais e eu ficava meio perdido por não saber como me comportar. A acústica do ambiente era de boa qualidade e as paredes grossas da igreja afastavam os ruídos externos.
Eu não entendia muito bem as palavras do padre e essa parte também me entediava. 
Durante os hinos eu preferia ficar quieto porque eu não gostava de cantar e também não sentia vontade. 
Para ser sincero, eu gostava mais do silêncio da igreja do que das palavras, sermões e leitura da bíblia. Aquele negócio de levantar, sentar, levantar de novo, sentar e repetir as palavras do padre não me deixavam a vontade. Desde aquela época percebia uma inclinação à liberdade de pensamento, mas ainda não sabia disso.

Enquanto a missa transcorria, eu ajoelhava no genuflexório (aquela madeira que fica no chão entre os bancos) e fechava meus olhos para conversar com Deus... 
Como descobri o nome genuflexório? Fácil, põe no Google!  

Desculpem aos mais entendidos nessa área e solicito educadamente que respeitem o meu direito de expressão. Com o tempo, fui percebendo que somente eu quem conversava com Deus! Eu nunca ouvia a sua voz! Eu falava alguma coisa e só ouvia o silêncio como resposta. No início eu não ligava dele ficar tão quieto comigo. Depois, comecei a desconfiar que Deus não queria conversa ou...
O seu silêncio era manifesto e confesso que sentia-me incomodado.
- Será que Deus não queria falar comigo?
- Será que Deus fala mesmo com a gente ou conversamos com os próprios pensamentos pensando que estamos falando com Deus? 

Eu até me considerava um bom filho, boa pessoa e não entendia o silêncio de Deus. 
Achava incoerente, pois muitas pessoas comentam que conversam com Deus o tempo todo! Não entendo porque somente eu não conseguia estabelecer uma simples conversa de quinze minutos com o criador! 
Será porque pratiquei alguns deslizes na infância? 
Não acredito que seja por isso. Será que eu não tinha fé suficiente?
Mas qual a quantidade de fé que precisamos ter para ouvir a voz de Deus?

Bem, já que falei sobre deslizes, tenho certeza que você, caro leitor, ficou curioso para saber. É natural. Eu também sou curioso e me disponho contar apenas os mais graves (isso é uma ironia)Vamos aos pecados, sem ordem de gravidade: Tive passarinho preso na gaiola, joguei pedra numa rolinha distraída no campo do Minas (Barra Mansa-RJ). Comi carne na época da quaresma. Ah! Eu também gostava de ver minha avó matar galinhas aos domingos, passando a faca bem afiada no pescoço, enquanto o sangue escorria para o prato para fazer molho pardo... Pronto falei! Podem me punir!

Será que foi por isso que Deus ficou em silêncio comigo? Acho que não. Isso são coisas banais e sem importância. Desastres, inundações, catástrofes naturais, crimes e roubos são muito mais destrutivos não é mesmo?

Bem, voltando ao assunto, certo dia, fiquei na igreja até a última pessoa ir embora, com objetivo de falar com o padre sobre algumas dúvidas sobre Deus. Eu realmente estava decidido saber dele, porque Deus não conversava comigo! O padre parecia ser um sujeito legal e muito íntimo de Deus pelas coisas que ele dizia durante a missa. Acho que ele podia me responder.
Logo que o padre apareceu sem a sua batina de 33 botões eu gritei:
 - Sr. padre, posso falar como senhor?

A minha voz saiu tão alta que ecoou por toda a igreja e me deixou envergonhado.
O padre levantou a cabeça, olhou em minha direção e...



                           ********************************************



Caro leitor, interrompo aqui a Parte 1 para a leitura não tornar-se cansativa. Assim que tiver tempo continuo escrevendo a segunda parte de minhas banalidades.



Obrigado pela visita e só não repare os erros de português!



                           ********************************************


Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 11/09/2015 enquanto recuperava da extração e implante dentário realizado na clínica do Dr. Persio Vasconcelos Miranda em Araras. Recomendo!


Essa foto foi retirada hoje 11/09 antes de cirurgia, claro! rsrsrs


6 comentários:

  1. Eu sei como é Alex, também me sentia assim

    ResponderExcluir
  2. Olá Alex
    Gostei dos textos do blog parabéns
    Muito obrigado pela confiança
    A foto ficou bacana também
    Grande abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela visita e comentário.
      A confiança que depositei é fruto de seu trabalho, competência, honestidade e atenção dispensada.
      Abraço

      Excluir
  3. Estou curiosa , o que o Padre te falou?


    Celieni

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi maninha, estou meio sem tempo, mas nesse final de semana publico. Obrigado pela visita!

      Excluir