12/02/2015

Treinamento para senhorzinho




Eu estava sentado na última cadeira de uma sala, participando do treinamento mensal da brigada de emergência no local onde ganho o frango nosso de cada domingo.

O instrutor que normalmente ministra esse treinamento é um sargento do corpo de bombeiros da cidade, porém por motivos particulares, ele precisou se ausentar e enviou um soldado para dar o curso em seu lugar.

O treinamento dessa semana consiste em utilizar aquela roupa de proteção Nível A e respirar com cilindro autônomo de oxigênio. Essa roupa é utilizada para proteção em operações que ofereçam riscos de contato com agentes químicos danosos como por exemplo vazamento de amônia.

Esse aprendizado é necessário porque na  hora do pânico, o fator nervosismo e falta de treinamento podem fazer toda a diferença no atendimento de emergência.


Num certo momento do curso, o falante soldado precisava de dois voluntários para vestir aquela roupa de "astronauta" lá fora da sala.

Ele esperou um pouco e como ninguém se apresentou, rastreou a sala, apontou o dedo em minha direção e falou:

 - Bem pessoal, vou escolher duas pessoas para o nosso exercício. Pode ser esse rapaz de camisa azul e aquele senhorzinho.

Nesse momento eu conferi a cor da minha camisa e tive a certeza de que ela não era azul. Ao meu lado estava o Nestor, meu colega de trabalho já grisalho, que inicialmente pensei ser o senhorzinho, mas ledo engano. Não era para ele que ele estava apontando!

Ele estava falando comigo! Inacreditável, penso incrédulo.

Olho para o nestor e percebo sua indisfarçável alegria e uma pontinha de vingança silenciosa e logo explico o porquê.

Confesso que levei alguns segundos para assimilar o primeiro "senhorzinho" da minha vida.

Na minha mente, pensei que aquelas palavras não eram comigo, pois nunca na minha vida alguém tinha me chamado desse nome. Se ainda fosse de "tio"...

Eu sei que um dia serei chamado por esse nome "carinhoso" ou outros menos elogiosos, mas não imaginava que pudesse ser tão cedo assim.

Reitero que não me senti ofendido pois envelhecer faz parte do processo e quem não aceita isso, não entendeu as etapas implacáveis da vida.

Estou com 48 anos e evidentemente que alguns fios de cabelos brancos começaram silenciosamente e tardiamente dar o ar da graça. Ainda possuo mais cabelos pretos do que brancos e acredito que seja genético. Escrevi tardiamente porque esse meu amigo chamado Nestor, citado anteriormente, possui a minha idade e a "neve" já avançou toda a sua calota polar. 

Vários amigos gostam de perturbá-lo chamando-o de "velhinho" mas eu não gosto disso. Ele é boa praça e diz que não liga para essas brincadeiras, mas eu percebo que ele fica muito triste. Para consolá-lo eu falo que gosto dele porque ele me faz lembrar muito meu avô.  :)

As vezes eu fico com pena dele e sempre que posso dou uma palavra de consolo porque tenho o coração "mole" e não gosto de brincadeiras de mau gosto. Ontem mesmo eu o chamei para tomar um café e falei:

 - Nestor, não deixa o pessoal te chamar de velhinho que isso é falta de respeito! Deixa de ser bobo! Joga a bengala em cima deles quando te chamarem por esse nome!  :)

Bem, voltando ao treinamento eu queria dizer ao soldado marrento que não liguei de ser chamado de senhorzinho e aproveitar o Blog Banal para mandar um recadinho para provar que não restou nenhum ressentimento a esse bombeiro míope:

- Senhorzinho é o BARALHO! :) 




Elaborado por Alex Gil Rodrigues depois de ter sido chamado de senhorzinho. Mas sinceramente, nem ligo para isso. temos problemas na vida muito mais importantes do que efêmeras vaidades. Escrevi isso apenas para me divertir com as palavras, cujo contato me dá muito prazer.

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