12/02/2015

Memórias da Figueira em Barra Mansa




Todos nós temos histórias para contar, poucos tem vontade de divulgar e a maioria nem quer ouvir. Além disso, muitos interesses não são universais e existem coisas que são interessantes apenas para a gente mesmo e mais ninguém.

Mesmo ciente disso, gosto de escrever as minhas histórias nesse espaço. O único risco que corro ao divulgar publicamente minhas memórias é ser julgado, mas quanto a isso não me preocupo. Afinal são memórias bobas e não temo ser avaliado por tão pouco. 

A propósito, se até o pão que compramos na padaria recebe julgamento, porque esse ser limitado, temporário e finito precisa se preocupar com isso! :)

Ah! Aproveitando o gancho, já ouvi gente falar assim com a boca cheia:

- Eu não julgo ninguém!

Assim  que a pessoa termina a frase que ela "julga" importante, dá uma pausa silenciosa esperando um elogio ou aprovação por sua suposta "superioridade". 

Eu fico apenas olhando e pensando sobre a intenção oculta dessa declaração e que imagem ela quer passar para os outros.


O ser humano é mesmo um bicho manhoso!

Nada está imune de julgamentos, desde o pão, a pedra, o pau e claro as pessoas. 

Somos julgados o tempo todo, do berço até ao último que ouviu falar de você,  até os que nem te conheceram neste "mundus perversus"!

Hoje contarei algumas memórias bem banais de minha infância e do bairro onde nasci. Não espere nada excepcional. Já cansei de dizer que as minhas histórias são comuns e sem importância. 

Nasci em Barra Mansa, interior do Rio de Janeiro, na Santa Casa em 1966. Estou com 48 anos. Não vou escrever "bem vivido" porque essa frase já virou clichê. Caso você não saiba o que é clichê, segue uma definição bem banal:

"É uma expressão idiomática que de tão utilizada, se torna previsível. Desgastou-se e perdeu o sentido ou se tornou algo que gera uma reação ruim, algo cansativo em vez de dar o efeito esperado ou simplesmente repetitivo."

Fugindo rapidinho, quer exemplos de frases clichês? Então vai:

"A união faz a força",

"Ninguém me ama",

"Tem que sair de cabeça erguida"

"A maldade está nos olhos de quem vê ".

Voltando ao assunto, a minha casa ficava numa pequena vila e para chegar até a nossa porta tínhamos que subir uma pequena escadaria. 

Era uma casa simples, de telha e na sala existia um televisor preto e branco, uma radiola e uma boneca artesanal em cima da TV. Radiola? Será que os jovens conhecem isso? Provavelmente não.

O bairro se chamava Figueira e ficava entre a fábrica Nestlé e o Cemitério Municipal de Barra Mansa - RJ.

Dois locais de extrema importância na minha vida.:)

Nessa fábrica eu entrei com 19 anos e dediquei boa parte de minha vida... e no cemitério "descansarei" para sempre do trabalho que tive a vida inteira, mas espero que não seja muito cedo. :)


Antiga fábrica Nestlé

Quando eu era criança, o leite era vendido à granel in natura aos moradores através de numa carroça, que entrava nos bairros e vendia de porta em porta, sem preocupação nenhuma com a vigilância sanitária. Detalhe importante: NINGUÉM MORREU tomando aquele leite. Nessa época ninguém falava "compliance" prá lá, "compliance" prá cá. A geração "compliance" ainda não tinha nascido. Ainda bem!:)
Mas existe um detalhe importante nessa história. Ninguém morria disso mas também o número de safados era bem menor. Hoje, existindo o controle pela vigilância sanitária misturam até soda cáustica para lucrarem mais! O bicho homem em cada geração fica mais ordinário.

Eu tinha 4 ou 5 anos de idade. Minha mãe levava a leiteira e comprava apenas 1 litro de leite. Eu e meus irmãos acompanhávamos o enchimento e no final levantávamos nossa canequinha de ferro para ganhar o "chorinho". Entrávamos para dentro de casa cuidadosos transportando a canequinha bem devagar para não perder nenhuma gotinha. 

O dinheiro nessa época era muito escasso (hoje nem se compara com aquele tempo, mas não é mérito do PT não. É esforço e dedicação nossa!). Nesse tempo eu não sentia falta de dinheiro. Não tinha noção disso. Com o tempo descobrimos o óbvio: Sem dinheiro a vida se torna muito difícil. Essa necessidade move e resolve muita coisa na vida. O vendedor anotava a dívida do leite num caderno com o nome, data, quantidade e valor da venda, presumo. Essa era a alternativa dos comerciantes. Ou se vendia fiado ou o leite estragava. 

Nessa época não existia leite em saco plástico e muito menos embalagem Tetrapak. O leite tinha que ser fervido e até hoje me lembro das leiteiras transbordando no fogão após um leve descuido de minha mãe. Tomar leite antigamente dava trabalho e consumia o tempo, E onde foi parar esse tempo que economizamos com todo conforto que temos nos dias atuais?

Quando a prefeitura instalou novas lâmpadas nos postes da Avenida Domingos Mariano, papai nos levou para ver essa "novidade". Papai não tinha carro, mas o trajeto não precisava de veículo. Descemos de mãos dadas pela Rua Cecíllia Monteiro de Barros (Figueira) e chegamos até a Avenida Domingos Mariano só para contemplar a novidade. Hoje isso é considerado tão banal, mas para os olhos de uma criança era uma diversão. Criança se contenta com a simplicidade que costumamos perder quando adultos.

Quando passo por aquela rua sempre me lembro dessa história...

Pessoal, tenho que parar por aqui porque o texto está ficando muito grande e não quero roubar mais o seu precioso tempo lendo coisas banais que nada te acrescenta.

Obrigado pela atenção.

Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 08/11/2014

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