29/07/2014

Relógio de ponto

A imagem abaixo pode não ser tão atraente para certas pessoas começarem o dia, principalmente àquelas com pouca afinidade e tolerância ao trabalho.




Porém, feliz daquele que pode ter contato diário com esse antídoto comprovadamente eficaz contra preocupações inúteis, dramas e vícios. O seu uso constante a cada 8 horas, ocupa a mente, desenvolve habilidades, amadurece, torna a pessoa útil, fornece o seu sustento e às vezes até cura depressão. Um santo remédio!

Há quem prefira o silêncio do quarto ou a contemplação ociosa de sua janela para a paisagem...


Porém, a distância desse equipamento, a preocupação com o futuro incerto e o bolso vazio são cenas bem piores para enfrentar a vida e terminar o dia...



Hoje vou escrever um pouco sobre este instrumento tão familiar quanto a minha escova de dentes.

Antigamente o controle das horas de trabalho dos funcionários era realizado através do relógio de ponto mecânico. Este equipamento possuía uma abertura na parte superior, onde era inserido um cartão de cartolina, chamado “cartão de ponto” no qual o tempo de serviço (data e hora) do funcionário era impresso (carimbado) neste cartão.

Essas horas impressas eram controladas manualmente por um funcionário do RH (naquela época se chamava Departamento Pessoal) ou Administrativo, que ficava responsável em somar as horas marcadas durante o mês. No meu antigo trabalho, essa pessoa era a Lurdinha, a responsável em fazer essa atividade semanalmente. Ela se aproximava da "chapeira", que era um suporte onde ficava pendurado todos os cartões e "puxava as horas" que significava escrever no cartão a quantidade de horas de cada dia à lápis (detalhe importante!).


No inicio, a marcação do cartão era realizada através da movimentação de uma alavanca no sentido vertical. Com o passar do tempo a marcação ocorria de forma automática ao inserir o cartão na abertura frontal do relógio.

Quando eu comecei a trabalhar, não “batia cartão”, pois na minha área o controle era feito pela “Folha de Ponto” através do preenchimento à caneta para o horário de entrada, saída, almoço e uma rubrica.

A partir dos anos 1990 o relógio de ponto tradicional foi sendo lentamente substituído por coletores de dados onde o funcionário passava um cartão com código de barras para ser identificado. O coletor armazenava o número do cartão, a data e a hora em que o cartão foi lido. Essas informações eram então transmitidas para um microcomputador onde um software apropriado gerava diversos relatórios.

Foi a partir dessa data com a chegada dos crachás com códigos de barras, que também passei a marcar o ponto. Recentemente surgiram controladores que emitem comprovantes de presença. Existem dispositivos mais modernos com controle de acesso biométrico (digitais, reconhecimento facial, etc.) mas ainda está engatinhando. Num futuro próximo, provavelmente utilizaremos um código de barras em nossa pele ou um chip. Questão de tempo.



Mas meu querido leitor,  porque estou contando a história do relógio de ponto hoje? Já explico.
Tudo isso foi escrito para contar que ao realizar uma faxina nas minhas coisas, encontrei um velho papel com uns versos, dobrado em quatro, dentro de uma agenda que escrevi quando comecei a "bater cartão"!!!


Na época isso deve ter tido algum impacto na minha mente e que nem me lembrava mais. Hoje, bem mais experiente, vejo isso com a maior naturalidade. Nada como o tempo para entendermos melhor as necessidades e as bobagens que elucubramos quando somos mais jovens...

Você verá que são versos estranhos relacionados ao controle do tempo, meio sem sentido, como quase tudo que escrevo hehehe... e nem sei porque me deu coragem de registrar aqui no Blog. Talvez por falta de assunto, vaidade dissimulada ou sei lá o que deu na minha cabeça. Talvez a motivação mais apropriada seja pena de jogar no lixo algo que pensei, mesmo que sem sentido à luz da atualidade.

Solicito ao raro leitor que não espere nada extraordinário porque isso foi feito livremente quando eu era ainda muito jovem (24 anos). Não quero dizer também que a pouca idade justifica a falta de qualidade, nada disso. Até porque sou ciente de que escrevo ainda muita "merda" (ops, desculpe pela palavra), evidenciando que não melhorei muita coisa. hehehe. Estou dizendo isso porque a distância do tempo me demonstra o quanto era míope nas minhas interpretações... Em tempo, ainda sou míope e acho que vou morrer míope! rsrsrs
São percepções de um jovem que conhecia pouco da vida e pensava que os controles eram desnecessários...
Já reparou que sempre achamos nosso julgamento melhor na última idade em que estamos? Intrigante isso não?
Desculpe-me também pela coragem (ou cara de pau) de expor isso ao invés de jogar na lata de lixo com os outros papeis que encontrei. rsrsrs

Bem, chega de papo que já falei até demais. Vamos aos versos. 



RELÓGIO DE PONTO  

Oh! Controle onipresente da presença humana,
Especialista na marcação de horários,
Delator das cicatrizes registradas
Ninguém escapa de teus olhos
Pobres funcionários
Escravos voluntários
Em busca da assiduidade 
Afastam a felicidade
E perdem a individualidade
O importante é a produtividade
Nas entradas e saídas
Tudo é registrado
Na saúde e na doença,
Na presença e na ausência
Tudo é controlado
Até que se torne adestrado
Oh! Grande controlador de almas!
Sou refém dos seus olhos mecânicos
Que marca o tempo e rouba a liberdade.
Que pune o faltoso e desconta o salário
És o dono provisório da verdade.
Oh! Grande inquisidor dos prazos!
Rouba o tempo livre e a alegria
Furta a energia de uma vida passageira
Do estágio à aposentadoria.
Capataz da matrícula
Indiferente ao ser humano
Que esconde atrás de uma matrícula
Apático aos imprevistos
Implacável com o horário
Até a chegada do obituário
Oh! Desprezível pêndulo imaginário!
Um dia vou vingar-me
Pois sei que não serás eterno,
Um dia será encostado
E também perderá sua função
Serás ultrapassado
Sem direito a extrema-unção
Também será esquecido
Mas infelizmente "outros" virão
E ti tornarás desconhecido
Oh! Pequeno cronômetro
A minha vingança será em vão
Porque o controle será total
No fim, tudo será virtual
E eu não me sentirei vingado
Porque também serei desligado
Pois nosso destino é ser encostado.
Esquecido e ignorado
E enfim derrotado.

* Nossa! Chega! Ainda bem que nunca me atrevi a ser poeta! 



Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 29/07/2014 após transcrever essa bobagem escrita há 24 anos e que após reler, quase desistiu de publicar! 
Deveria ter jogado no lixo mesmo hehehe. 

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