29/07/2014

Relógio de ponto

A imagem abaixo pode não ser tão atraente para certas pessoas começarem o dia, principalmente àquelas com pouca afinidade e tolerância ao trabalho.




Porém, feliz daquele que pode ter contato diário com esse antídoto comprovadamente eficaz contra preocupações inúteis, dramas e vícios. O seu uso constante a cada 8 horas, ocupa a mente, desenvolve habilidades, amadurece, torna a pessoa útil, fornece o seu sustento e às vezes até cura depressão. Um santo remédio!

Há quem prefira o silêncio do quarto ou a contemplação ociosa de sua janela para a paisagem...


Porém, a distância desse equipamento, a preocupação com o futuro incerto e o bolso vazio são cenas bem piores para enfrentar a vida e terminar o dia...



Hoje vou escrever um pouco sobre este instrumento tão familiar quanto a minha escova de dentes.

Antigamente o controle das horas de trabalho dos funcionários era realizado através do relógio de ponto mecânico. Este equipamento possuía uma abertura na parte superior, onde era inserido um cartão de cartolina, chamado “cartão de ponto” no qual o tempo de serviço (data e hora) do funcionário era impresso (carimbado) neste cartão.

Essas horas impressas eram controladas manualmente por um funcionário do RH (naquela época se chamava Departamento Pessoal) ou Administrativo, que ficava responsável em somar as horas marcadas durante o mês. No meu antigo trabalho, essa pessoa era a Lurdinha, a responsável em fazer essa atividade semanalmente. Ela se aproximava da "chapeira", que era um suporte onde ficava pendurado todos os cartões e "puxava as horas" que significava escrever no cartão a quantidade de horas de cada dia à lápis (detalhe importante!).


No inicio, a marcação do cartão era realizada através da movimentação de uma alavanca no sentido vertical. Com o passar do tempo a marcação ocorria de forma automática ao inserir o cartão na abertura frontal do relógio.

Quando eu comecei a trabalhar, não “batia cartão”, pois na minha área o controle era feito pela “Folha de Ponto” através do preenchimento à caneta para o horário de entrada, saída, almoço e uma rubrica.

A partir dos anos 1990 o relógio de ponto tradicional foi sendo lentamente substituído por coletores de dados onde o funcionário passava um cartão com código de barras para ser identificado. O coletor armazenava o número do cartão, a data e a hora em que o cartão foi lido. Essas informações eram então transmitidas para um microcomputador onde um software apropriado gerava diversos relatórios.

Foi a partir dessa data com a chegada dos crachás com códigos de barras, que também passei a marcar o ponto. Recentemente surgiram controladores que emitem comprovantes de presença. Existem dispositivos mais modernos com controle de acesso biométrico (digitais, reconhecimento facial, etc.) mas ainda está engatinhando. Num futuro próximo, provavelmente utilizaremos um código de barras em nossa pele ou um chip. Questão de tempo.



Mas meu querido leitor,  porque estou contando a história do relógio de ponto hoje? Já explico.
Tudo isso foi escrito para contar que ao realizar uma faxina nas minhas coisas, encontrei um velho papel com uns versos, dobrado em quatro, dentro de uma agenda que escrevi quando comecei a "bater cartão"!!!


Na época isso deve ter tido algum impacto na minha mente e que nem me lembrava mais. Hoje, bem mais experiente, vejo isso com a maior naturalidade. Nada como o tempo para entendermos melhor as necessidades e as bobagens que elucubramos quando somos mais jovens...

Você verá que são versos estranhos relacionados ao controle do tempo, meio sem sentido, como quase tudo que escrevo hehehe... e nem sei porque me deu coragem de registrar aqui no Blog. Talvez por falta de assunto, vaidade dissimulada ou sei lá o que deu na minha cabeça. Talvez a motivação mais apropriada seja pena de jogar no lixo algo que pensei, mesmo que sem sentido à luz da atualidade.

Solicito ao raro leitor que não espere nada extraordinário porque isso foi feito livremente quando eu era ainda muito jovem (24 anos). Não quero dizer também que a pouca idade justifica a falta de qualidade, nada disso. Até porque sou ciente de que escrevo ainda muita "merda" (ops, desculpe pela palavra), evidenciando que não melhorei muita coisa. hehehe. Estou dizendo isso porque a distância do tempo me demonstra o quanto era míope nas minhas interpretações... Em tempo, ainda sou míope e acho que vou morrer míope! rsrsrs
São percepções de um jovem que conhecia pouco da vida e pensava que os controles eram desnecessários...
Já reparou que sempre achamos nosso julgamento melhor na última idade em que estamos? Intrigante isso não?
Desculpe-me também pela coragem (ou cara de pau) de expor isso ao invés de jogar na lata de lixo com os outros papeis que encontrei. rsrsrs

Bem, chega de papo que já falei até demais. Vamos aos versos. 



RELÓGIO DE PONTO  

Oh! Controle onipresente da presença humana,
Especialista na marcação de horários,
Delator das cicatrizes registradas
Ninguém escapa de teus olhos
Pobres funcionários
Escravos voluntários
Em busca da assiduidade 
Afastam a felicidade
E perdem a individualidade
O importante é a produtividade
Nas entradas e saídas
Tudo é registrado
Na saúde e na doença,
Na presença e na ausência
Tudo é controlado
Até que se torne adestrado
Oh! Grande controlador de almas!
Sou refém dos seus olhos mecânicos
Que marca o tempo e rouba a liberdade.
Que pune o faltoso e desconta o salário
És o dono provisório da verdade.
Oh! Grande inquisidor dos prazos!
Rouba o tempo livre e a alegria
Furta a energia de uma vida passageira
Do estágio à aposentadoria.
Capataz da matrícula
Indiferente ao ser humano
Que esconde atrás de uma matrícula
Apático aos imprevistos
Implacável com o horário
Até a chegada do obituário
Oh! Desprezível pêndulo imaginário!
Um dia vou vingar-me
Pois sei que não serás eterno,
Um dia será encostado
E também perderá sua função
Serás ultrapassado
Sem direito a extrema-unção
Também será esquecido
Mas infelizmente "outros" virão
E ti tornarás desconhecido
Oh! Pequeno cronômetro
A minha vingança será em vão
Porque o controle será total
No fim, tudo será virtual
E eu não me sentirei vingado
Porque também serei desligado
Pois nosso destino é ser encostado.
Esquecido e ignorado
E enfim derrotado.

* Nossa! Chega! Ainda bem que nunca me atrevi a ser poeta! 



Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 29/07/2014 após transcrever essa bobagem escrita há 24 anos e que após reler, quase desistiu de publicar! 
Deveria ter jogado no lixo mesmo hehehe. 

24/07/2014

Nada vem de graça e quando vem, desconfie.



Nada vem de graça e quando vem, desconfie.
Todo mundo gostaria que existisse uma fórmula mágica para resolver todos os seus problemas ou atingir os objetivos sem esforço, mas isso não existe no mundo real.
Se estiver fácil demais, há algo errado.
E isso se aplica em todas as direções da vida, seja no campo pessoal, profissional, social...


Apesar da introdução parecer que eu estava escrevendo de outro tema, tratarei de um assunto bem banal mas que incomoda muita gente: A busca pelo emagrecimento. Na verdade eu ia escrever sobre a religião Herbalife, mas fica para outro dia porque quero dedicar um texto somente para este assunto.

Desculpe se estava esperando outra coisa ou se esse não é um assunto interessante para você, mas pode ter certeza que é para muita gente que conheço.

Existem muitas formas para emagrecer e tudo que eu escrever será como chover no molhado, pois quem quer emagrecer já conhece toda a teoria desse assunto.

O método preferido pela maioria é aquele com menor esforço possível e com resultado imediato.

A má notícia e todos já sabem é que não existe fórmula mágica. 
Sem esforço não há perda consistente.

Emagrecer é matemática pura: Restrição alimentar + gasto energético constante = perda de peso.

Medicamentos, Shake, chás e um monte de besteiras que vendem como água definitivamente não resolvem. Apenas ajudam por um determinado período e tiram o seu dinheiro.  

A indústria farmacêutica ganha milhares de dólares para oferecer esse sonho provisório. A verdade é que a pessoa até consegue perder peso sem esforço, tomando inibidores de apetite ou outros milagres por algum tempo... Mas a vida segue e ninguém consegue tomar medicamento a vida toda, chá e Shake.. e muito menos, deixar de comer coisas que nos dão tanto prazer. Com o tempo a recaída é certa e o peso volta pior do que antes.

Alguém que me conhece pode até estar pensando: Mas Alex, você nem é gordo? Porque quer escrever sobre isso? Bem, eu posso dizer que nunca fui obeso, mas estava bem gordinho há um ano. Quero escrever sobre isso porque consegui perder 14 Kg em 6 meses e nada me custa compartilhar como alcancei essa "benção".

Há uns 20 anos, quando sugiram medicamentos inibidores de apetite os médicos receitavam tal fórmula mágica sem nenhuma restrição. Era só pedir  ao médico e a gente saía todo “ felizinho”  do consultório com a sua fórmula mágica. Desconfio que os laboratórios proporcionavam mimos (viagens) para cada receita desse medicamento, porque era muito fácil conseguir...

Confesso que naquela época, cheguei a experimentar o tal medicamento para perder uns quilinhos sem esforço. E olha que eu nem precisava. Era falta de vergonha na cara mesmo. 

O medicamento era vendido com os nomes de Reductil, Femproporex e Mazindol (Cloridrato de Sibutramina). Hoje está com uso restrito ou proibido, não sei o certo. Só sei que a Anvisa proibiu em vários países devido aumento de riscos de problemas no coração. Hoje me sentindo com mais experiência reconheço que fui irresponsável ao utilizar essa fórmula mágica. Como eu utilizei esse medicamento, posso relatar os efeitos com propriedade. 

Posso garantir que esse medicamento, realmente tirava o apetite. Dava a hora do almoço e não existia aquela fome que todo mundo naturalmente sente nesse momento. Simplesmente pegava o prato, olhava a comida e não dava vontade nenhuma de comer , parecia um lanche do MC Donald's com carne da China (para não dizer outra coisa), e olha que isso ocorria até em casa, porque comer no trabalho ou na rua a comida nem sempre é do nosso gosto...

Com o tempo, o cérebro e o corpo se acostumam com pouca comida...porque não existe fome nem prazer. Você fica magro e a vida sem graça... Com isso a perda de peso ocorre naturalmente. Claro, comendo menos o peso diminui. Até tomando somente água. Diminui mesmo! Mesmo sem fazer exercício. O problema é que a conta vem depois... e bem mais cara!

Normalmente, quando a gente alcança o peso ideal planejado, suspende o medicamento e reinicia o processo de engorda lentamente... e pior, com a consciência pesada, muito remorso e com menos dinheiro no bolso!

Agora vou revelar para você, raro leitor, que conseguiu chegar até aqui nesse blog banal, como eu consegui perder peso sem medicamento, sem herbalife e muita força de vontade...porque não vale a pena enfrentar os efeitos colaterais desses inibidores de apetite ou receitas mágicas provisórias...que custam muito dinheiro!

Chega de gracinha e vamos ao que interessa. No inverno do ano passado, no mês de Junho eu estava com 80 Kg (eu tenho 1,73m). Não fazia nenhum exercício, tinha cara de lua cheia, barrigão e peitão saliente e usando roupas cada vez maiores. Fazia de conta que aquilo não estava me incomodando. Alisava minha barriga, tomava cervejinha Itaipava em casa, churrasquinho, linguiça, queijo na brasa e dormia feliz... gordo, mas feliz!

Até que certo dia, descobri que meu colesterol estava quase 300 mg/dl e precisei comprar uma camisa maior porque as velhinhas estavam ficando apertadas...

Entrei no provador de uma loja para experimentar a dita camisa. Quando me olhei nos três espelhos do provador, isso mesmo, existia um bem grande na frente, dois nas laterais e uma lâmpada muito branca e forte em minha direção, que parecia um refletor....Fiquei ali por alguns segundos observando meu corpo em três dimensões com uma clareza que não conhecia...cada dobrinha... Minha vontade era sair correndo, mas não fiz isso porque poderia tropeçar na minha autoestima debaixo do tapete...

Gente, a verdade dói e por isso poucas pessoas suportam a realidade e criam fugas...

Enfim, aquela imagem me marcou e fiquei pensando: como resolver?

Ficar reclamando, preocupado e acomodado não é solução.

E como sou perseverante. Parti para o ataque.

Fui à endocrinologista, que me pediu vários exames, além disso, fiz testes de esforço, colesterol e etc. Os resultados não foram bons, mas nem esperava algo diferente. A partir desse dia, tomei a decisão de mudar de hábito. Na marra! A médica até passou uma dietinha, com um monte de frescurinha tipo peito de peru!!!, queijo cottage!!! Simplesmente não deu! Não era a minha praia essa alimentação tão requintada! Sou beiço grosso (ainda)... aí não deu...não combinava com meu cardápio... mas tudo bem, procurei uma lixeira mais próxima e joguei a dieta fresca no cesto seletivo azul, desisti da doutora e elaborei meu próprio plano de guerra!

Cortei totalmente o açúcar no café da manhã, usei adoçante, eliminei os doces e refrigerantes.

Comia uma fruta no intervalo entre o café e o almoço e na parte da tarde.

No almoço eu cortei o arroz e feijão e só comia um pedaço de carne e salada ou sopa e carne.

À noite eu não jantava, mas continuei com o pão com manteiga e café com leite porque sou viciado nisso. Fico sem o jantar, mas não consigo eliminar o pão.

E agora a estratégia principal: Comecei caminhar todos os dias por uma hora em volta de um lago que existe aqui na cidade, sem interrupção, inclusive sábados e domingos.

Comprei uma balança para acompanhar o sucesso e muitos sacos de laranja. Aqui em Araras-SP, o saco grande de laranja na safra chega a custar R$ 5,00 (muito barato!). Eu colocava a laranja na geladeira, fruteira, na mesa.. era laranja em todo lugar e quando a fome apertava, principalmente à noite, eu comia laranja com bagaço que ajudava a saciedade.
Depois de dois meses iniciei uma leve corrida, pois temia alguma lesão e o meu plano ir por água abaixo. Comecei correr bem devagar, afinal não sou tão jovem e também porque eu nunca pratiquei corrida na minha vida. Para pegar ritmo, corria 15 minutos e caminhava 45 minutos. Depois corria 30 minutos e corria 30 minutos. Por fim, estava correndo 1 hora sem parar e já corri até numa “corrida de rua” aqui em Araras num percurso de 10km. Fui o último a chegar, mas isso para mim não importava. O importante é que aquela pessoa que caminhava apenas até o carro, hoje já está correndo e principalmente, no meu ritmo.


Ah! Outro detalhe importante. Comprei um tênis apropriado para corrida (Asics Cumulus 15) e isso me ajudou muito, pois tênis impróprio arrebenta o joelho.
Estas medidas foram acertadas e com o tempo nem sentia tanta fome mais e, além disso, tinha muito prazer nas caminhadas e corridas. Quando eu não conseguia exercitar sentia muita falta.

Com isso perdi 14 Kg num semestre e percebi que até exagerei. Fiquei meio chupado como meus amigos sentiam prazer em me alertar!  Mas isso não é problema, afinal ganhar peso é muito mais fácil e me dei o luxo de recuperar 4 Kg e voltar a apresentar uma aparência mais saudável. Posso não ter utilizado o melhor método, mas funcionou, estou me sentindo muito bem e o mais importante, meus exames estão OK.


Bem pessoal! Essa foi a forma que encontrei para emagrecer, sem mágicas e com muito esforço. Suei muito e hoje me alimento normalmente.

Espero ter ajudado ou ter despertado um desejo de que é possível emagrecer e que isso só depende de você.

Caso sua imagem no espelho não te incomode, sem problemas! Você é livre, mas faça alguma coisa, pela sua saúde. Você merece!


Elaborado por Alex Gil Rodrigues depois de comer uma lasanha e uma taça de vinho nessa noite de inverno de 24/07/2014



22/07/2014

Ô de casa

Hoje não estou inspirado e para não perder o contato com as letras, vou divulgar um livro de Alberto Villas, que se chama Admirável Mundo Velho. 

Garimpei esse livrinho no Sebo Dr. Anselmo, em Araras-SP e recomendo pois existem muitas histórias simples e agradáveis como um café bem quentinho.


Acredito que a breve história abaixo agradará particularmente àqueles que já viveram no interior.

Espero que gostem!

Ô de casa!
Bastava bater palmas que o cachorro latia, como se uma coisa estivesse ligada a outra. Batíamos porque muitas casas do interior não tinham campainha e a única forma de chamar o dono era o pá-pá-pá.
Viajávamos muito para o interior de Minas Gerais. Ouro Preto, Ouro Fino, Ponte Nova, São Lourenço, Passa Quatro, Caxambu.
Em todas as cidades o meu pai tinha um amigo, um parente, uma pessoa a quem ele devia uma visita.
- Estou devendo uma visita a Zezé Santana! - dizia ele quando via a placa de bem-vindo a Ponte Nova.
As pessoas visitavam os outros sem avisar com antecedência. Chegavam assim, de repente, e batiam palmas. As casas ficavam lá no fundo e, quando o cachorro latia, lá vinha o dono, surpreso com a surpresa.
 - Quanto tempo! Mas que surpresa!
Sim, chegávamos de repente e muitas vezes pouco antes da hora do almoço.
Entrávamos naquelas casas simples e, depois de elogios aos filhos que não paravam de crescer, vinha o convite para o almoço. Botavam água no feijão, reforçavam o angu e catavam uma galinha no quintal, que ia direto pra panela. Aquele cheiro de molho pardo ia tomando conta do ambiente entre um papo e outro.
 - O almoço está na mesa!
Eram mesas de madeira rústica com toalhas xadrezes, vermelhas, azuis ou amarelas. Os pratos eram colorex, os copos de vidros, os garfos de alumínio e os guardanapos de pano.
A comida saía fumegando do fogão a lenha direto para a mesa.
 - Não repare, não!
E não reparávamos mesmo. A comida servida era a mais deliciosa do mundo. Depois vinha a goiabada com queijo, o cafezinho com uma pedrinha de rapadura dentro para adoçar.
 - Comida no papinho, pé no caminho!
Entrávamos no caro e pagávamos a estrada de novo, porque sempre tínhamos muito chão pela frente, muita poeira para engolir. A próxima parada seria no final da tarde e a sinfonia era sempre a mesma.
Palmas. Cachorro latindo. Mas, antes de colocar os pés dentro da casa de qualquer amigo, o meu pai costumava anunciar:

- Ô de casa!

Garimpado por Alex Gil Rodrigues numa noite sem inspiração de 22/07/2014

21/07/2014

Maldições da Velhice - Por Rubem Alves - 80 anos

Chamar a velhice de "melhor idade" é o mesmo que chamar as gestantes de "virgens" e as pessoas com dificuldade de locomoção de maratonistas...
Duas são as maldições da velhice. Primeira: quando não se tem forças para fazer o que se deseja fazer, como subir quatro lances de escada sem perder o fôlego e outras proezas semelhantes. Segunda: quando não o deixam fazer aquilo que você pensa que pode fazer.
Quando a boca é proibida de falar o que o coração sente, os olhos falam sem palavras.


Garimpado por Alex Gil Rodrigues no livro "Do universo à jabuticaba" de Rubem Alves, falecido em 19/07/2014

Adeus Rubem Alves.

Rubem Alves morreu neste sábado passado dia 19/07/2014 aos 80 anos em Campinas.
Meu contato com o seu trabalho foi por acaso, em 2010.

Tenho hábito de visitar livrarias e sebos para garimpar alguma obra de meu interesse.
Certa visita encontrei numa prateleira lotada de títulos, um livro de capa verde oliva com o seguinte título: “Do universo à jabuticaba”.

Confesso que esse nome não me seduziu à primeira vista. Entretanto, a palavra “universo” me atraiu e foi determinante para eu querer abrir o livro, folhear e casualmente parar na página 57.

Logo que terminei de ler essa página, gostei de seu estilo simples e tive vontade de ler um pouco mais. Naquele momento decidi pela compra.

Parecia um avô que não tive conversando comigo de forma livre, direta, sem frescuras ou hipocrisia, tão comum nas relações sociais...

Nesse livro, ele escreveu sobre variados temas (infância, sexo, velhice, vida, morte, liberdade, filosofia, etc.). Todos os assuntos escritos de forma breve e que deixam a gente pensando.
Leitura fácil e agradável, cuja leitura recomendo. 

Abaixo digitei apenas a página 57 que me fez comprar o livro. 


Página: 57 do livro: Do universo à jabuticaba. 
Autor: Rubem Alves

Melhor idade?

Os aeroportos são gentis. Ao chamar os passageiros para o embarque, eles dão preferências às gestantes, às crianças, às pessoas com dificuldade de locomoção, terminando a lista com o delicado título conferido àqueles que pertencem à nobre classe da "melhor idade". Ah! Melhor idade! Os mais fortes, os de pele mais lisa, os mais bonitos, de cabelos mais brilhantes, os de passos mais firmes... Mas basta pensar sobre o sentido das palavras para se dar conta de que se trata de eufemismo, uma mentira delicada para não humilhar os velhos. Os jovens delicados vestem os velhos com eufemismos... Porque, pra ser verdadeiro mesmo, ao invés de chamá-los de cidadãos da melhor idade, o alto-falante deveria chamá-los de "cidadãos d".
Porque é só o fato de haver algo de ruim nessa idade que permite que ela seja batizada com título tão delicado. Falo por experiência própria: envelheci e não melhorei. Piorei. O grau de “pioreza” da minha idade pode ser medido pela atenção que tenho de aplica às mínimas coisas que vou fazer. Quando jovem, a atenção vinha embutida naturalmente no corpo. Não precisava pensar. Eu descia a escada com a mesma rapidez com que um pianista toca uma escala de dó. Corria lépido. Não precisava prestar atenção. O corpo se encarregava dela automaticamente. O corpo tropeçava, caía, ralava, levantava, trombava, corria, carregava pesos, dispensava corrimãos. Hoje, cair é quase ter certeza de uma fratura... O tempo passou. O mundo ficou o mesmo. Mas o meu corpo mudou. E agora tenho de observar atentamente por onde vão minhas pernas, meus pés, minhas mãos, meus olhos. Constantemente. 



Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 21 de Julho de 2014.


18/07/2014

Visita à Barra Mansa - Julho/2014


Num certo dia frio do mês de Julho, os raios do sol de inverno atravessavam as nuvens e tocavam as grossas paredes da matriz de São Sebastião de Barra Mansa-RJ, enquanto os dois ponteiros negros do relógio de sua fachada, repousavam provisoriamente entre os algarismos romanos e registram 16:00 h.

Estava de férias na minha cidade natal e caminhava lentamente pelo centro da cidade de Barra Mansa – RJ com a cabeça erguida e as mãos no bolso até alcançar a praça Ponce de Leon, mais conhecida como Praça da Matriz para revisitar o meu passado.

Poderia estar naquele momento em Bangcoc, eleito o melhor destino turístico do mundo, Florença, Istambul ou Grécia, mas como sou banal e teimoso, prefiro Barra Mansa! Ironias à parte, ainda caminho de acordo com o comprimento de minhas pernas. 

Foto real com zoom do relógio da Praça da Matriz Ponce de Leon

Nota: Mesmo conhecendo essa praça há mais de quarenta anos, dessa vez tive a oportunidade de notar uma curiosidade no relógio após fotografar e aproximá-lo. O algarismo romano correspondente ao número 4 foi confeccionado com o algarismo IIII, sendo que o correto é IV ou aprendi errado!

O velho sino de bronze permanecia imóvel enquanto os pombos repousavam e sujavam o busto de Padre Magno de Lara, fixado no local desde 1964.

O cenário é completado por um obelisco inaugurado em homenagem ao dia do trabalho de 1933, onze árvores de cada lado da praça, dois pipoqueiros e dois engraxates.

Permaneci provisoriamente localizado próximo dos três coqueiros (pouca gente repara que existem 3 coqueiros lá) em frente à Avenida Joaquim Leite, de costas para a igreja e sem a preocupação da velocidade dos ponteiros do relógio.

Em frente à nave cinza do outro lado da rua encontra-se o famoso Café Capital, antigo Café Favorito, local tradicional onde se reúnem pessoas comuns, aposentados, comerciantes, políticos, candidatos, vagabundos e outros mentirosos.





Meu tempo é livre e aquele dia foi reservado para coisas simples e banais para purificar um pouco a mente e sentir um pouco da vida sem preocupações, mesmo que por um breve período, já que se sabe que as melhores coisas da vida são simples... e não custam quase nada.

O povo perambulava pela avenida enquanto as folhas dançavam ao sabor do vento e as cores do farol se revezavam tentando organizar o caos urbano.

Os carros surgiam na tradicional Avenida Joaquim Leite, da esquerda para a direita, enquanto o semáforo autorizava as pessoas atravessarem constantemente entre as duas calçadas opostas, como formigas desorientadas que seguem uma trilha.

Voltar às origens é um hábito que repito todos os anos e me faz muito bem. Funciona como uma terapia. O eterno retorno colocado em prática. Bula recomendada para relembrar o passado, refletir sobre o tempo, descobrir um ponto de vista diferente, realizar a releitura do ambiente, enxergar o próprio envelhecimento refletido na ruga e cabelos brancos das pessoas que você conheceu na juventude e encontrar os amigos para atualizar as histórias.

Nessa breve ociosidade foi possível reencontrar os familiares, amigos, conhecidos e trocar algumas palavras, aceno ou apenas sorrir. O suficiente para matar a saudade e sentir aquele prazer de ter compartilhado com aquelas pessoas, o mesmo lugar, tempo e lutas.

Foto de Chicória e Lauro num supermercado no bairro Ano Bom


Tomei um café com pão de queijo no Café Capital enquanto observava o mundo em movimento: pessoas, carros, ônibus...

Mulheres carregando suas bolsas e suas cabeleiras com muitos litros de tintas para tentar disfarçar a ação inevitável do tempo. Outras que já foram belas no passado e que ainda não perceberam o peso da idade e do próprio corpo...

Adolescentes distraídos com seus inseparáveis celulares, um policial militar exibe sua arma pendurada no pescoço, dois guardas municipais parados na calçada revezando seu olhar entre o nada e o relógio, mães irritadas puxando seus filhos pelas mãos, senhoras carregando sacolas, jovens conversando e sorrindo enquanto caminham, homens apressados com as testas franzidas, velhos com seus inseparáveis casacos caminhando sem pressa e já acostumados com o desprezo dos jovens e as pernas cansadas...

Dentro de cada cabeça um mundo de preocupações, sonhos e problemas. Cada um transitando com seu mundo de expectativas, ritmo e disponibilidade de tempo, enquanto o relógio da vida avançava e pressionava...

Toda cidade possui a sua particularidade e importância. Se alguém me pedisse uma frase para definir Barra Mansa diria com poucas palavras que é uma cidade simples cujo maior encanto é o seu povo amigo e acolhedor. Um lugar onde você faz amigos em cada esquina, bar ou em qualquer lugar e que inevitavelmente se conversa com estranhos como se fossem conhecidos de longa data.

Bem aventurada a cidade em que seus habitantes são mais importantes do que a sua arquitetura.

É uma pena que no campo político a cidade não está recebendo a atenção que a população merece, mesmo com o revezamento das promessas em cada eleição...

Retirei essa foto no interior do SESC Barra Mansa


Nessa cidade nasci, descobri a vida, passei minha infância e me tornei um homem honesto e responsável.

Meu abraço aos parentes, amigos e conhecidos e desculpem-me a falta de tempo de visitar ou entrar em contato com todos, pois hoje o tempo voa, escorre pelas mãos...


Até a próxima!

Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 18/07/2014 para registrar as érias de Julho de 2014.

12/07/2014

Um pouco de ironia sobre as redes sociais.

Antigamente a comunicação entre as pessoas era bem mais difícil, demorada e não existiam redes sociais. Atualmente a tecnologia aproximou as pessoas e somos mais felizes! hehehe.


Eu disse aproximou? Não é bem assim. Na melhor das hipóteses vamos combinar que isso facilitou o contato, a divulgação de notícias, pensamentos, recados, felicitações, fotos, crenças, vaidades, etc.                                                                       



Este será o tema de hoje! Vou escrever livremente sobre relações virtuais, num prato bem raso e com uma pitada de ironia para temperar nossa conversa, ou melhor, nosso monólogo! Comecei bem! hehehe

Hoje o mundo está tão veloz e descartável que as amizades virtuais iniciam e terminam sem conversa, sem um "oi" ou qualquer outra palavra. É só clicar "aceitar a amizade" ou a opção "desfazer a amizade” na rede social e pronto. Às vezes termina da mesma forma gelada que foi iniciada. Num clique, simples assim."

Milagres do mundo moderno!

A propósito, neste mundo moderninho ninguém mais esquece o aniversário do amigo, pois temos um robô que avisa que o meu amigo nasceu naquele dia e todos educadamente registram as seguintes palavras: Parabéns, saúde e sucesso. Ou então: Felicidades, saúde e sucesso. Ou para ficar diferente: Parabéns, felicidades e sucesso.

Agora uma pausa na digitação das palavras e pensar: Porquê eu quero escrever sobre esse tema e correr o risco desnecessário de apresentar um texto polêmico e alguém interpretar errado e se ofender?

Bem, o que eu posso dizer sobre isso? A primeira é que não devo me preocupar. Quem fala ou escreve o que pensa, se expõe e está sujeito a avaliações e reprovações. É a regra de qualquer relação e se quero agradar a todos, nem ficando em silêncio conseguirei.

Qualquer um possui o direito de não gostar ou discordar o que escrevo e nem ler também, afinal somos livres!

Como eu dizia, vivemos a era da amizade descartável e pretendo escrever algumas observações sobre o mundo virtual. Um território onde as pessoas são bem diferentes da vida real.

Estas pessoas vivem num ambiente habitado por seres especiais. 
São todas educadas, felizes, perfeitas, bonitas, de bem com a vida, amam os animais, adoram a mãe, mas não lavam um prato, são otimistas, inteligentes, revolucionárias e sem problemas psicológicos.


Habitam um mundo ideal, afinal sabemos que gente normal enche o saco! Então o que alguns fazem para agradar o mundo real? Viram personagens e representam o que não são. É claro que não são todos hehehe... e é lógico também que estou escrevendo isso só para agradar e não perder amigos.



Repare também que na rede social muitos escrevem para os outros o que no íntimo estão dizendo a si próprios. Explico melhor. Outro dia li uma publicação de uma pessoa (não posso falar o nome para não perder mais uma amizade hahaha), que ela detesta gente fofoqueira kkkk. 



Até parece que alguém escreve que adora gente fofoqueira!!! Isso é igual àquelas pessoas que dizem "adoro viajar"... Quase todo mundo gosta de viajar, eu disse quase, para não esquecer dos chatos (nossa hoje eu estou generalizando tudo! Gente perfeita não faz isso! Mas eu não sou perfeito. Tenho muitos defeitos, inclusive não ser um bom político).



Quando li a publicação dela logo pensei: Poxa! Mas essa pessoa é a maior fofoqueira que conheço!!! Como pode? Ela é grau 10, numa escala de 0 a 10 (Se quiserem me contar alguma coisa, fiquem a vontade, não te condeno hehehe). Prefiro ser bem informado por uma fofoca do que um alienado enganado hahaha). O pior de tudo é que não posso escrever nada em baixo da publicação da pessoa... Sou obrigado a manter um silêncio cúmplice em nome da "amizade".



A rede social é um ambiente onde as pessoas mais se revelam e atacam aquilo que ela possui escondido bem no íntimo. Funciona como um espelho. Pode ser algo mal resolvido, na vida da pessoa, algum coisa que ela gostaria de alcançar, realizar ou ser.

É como uma pedrada no reflexo de seu espelho ou em si mesma. 
                                                           

Nesse mundo, as pessoas também adoram registrar em imagens o quanto são felizes e sucedidas e paradoxalmente criticam a vaidade humana! Como pode?

Desculpem mas hoje estou muito irônico. hehehe

Existem também aqueles que você ficou "amigo" e nem sabe o porquê e depois de um tempo você até arrepende mas fica sem graça de desfazer uma "amizade" que nunca teve. Estranho isso não? Meu amigo, não estou jogando indireta, se você chegou até esse blog pelo Facebook, é sinal de que você não está bloqueado de minha rede hehehe.

Existem aqueles que nunca publicam nada e você fica até na dúvida se ele existe mesmo. Estes pelo menos não perturbam. Gosto deste grupo. É gostoso ficar fora do ar por algum tempo... O isolamento voluntário pode ser saudável.

Existem aqueles que "curtem" um comentário de outra pessoa do tipo: "soltei um pum hoje cedo" e nunca "curte" alguma coisa mais interessante do que a flatulência pública do amigo.

Existe também aquele que você é amigo no Facebook mas quando vê a pessoa na rua sente vontade até de trocar de calçada!!!! Esse é um dos piores casos. Se você sente isso quando encontra a pessoa "ao vivo" então é melhor desfazer a amizade. Isso já aconteceu comigo e tive que cancelar a amizade, pois uma amizade virtual NUNCA pode ser superior a amizade real.

Existem aqueles que vivem jogando indiretas para todo mundo e às vezes a pessoa direcionada nem fica sabendo ou nem está acessando o computador. Neste caso a fonte ainda acaba arrumando intrigas e desconfianças desnecessárias com um monte de gente sem ter nada com o peixe!

Existem também os agentes secretos. Esses ficam amigos apenas para vigiar seus passos. Cuidado, esses são muito perigosos hehehe (nossa que drama!). Se bem que quanto a isso eu não ligo, pois se quero privacidade absoluta, deleto minha conta. Quem entra nessa sabe que não está oculto. Quer privacidade total? Impossível. O mundo atual está totalmente controlado. Apenas a mente ainda é território não compartilhado, mesmo assim para poucos. A maioria já entregou sua mente a terceiros, se é que me entendem.

Existem os amigos silenciosos, ou melhor mudos. Mas em compensação enxergam muito bem o que você publica e apesar de o tratar com indiferença em público.

Vivemos a era dos paradoxos... a comunicação evoluiu tanto (até mais do que certos usuários hehehe) que muitas vezes optamos pelo isolamento voluntário, justamente para não aborrecer-nos e desfrutarmos um pouco da privacidade que tínhamos no passado mesmo com as restrições de comunicação.

Bem, vou parar por aqui e outro dia qualquer escrevo mais sobre isso e agora vou dar uma volta na minha Ferrari e sentir o vento nos meus cabelos porque essa tal rede social está lotada de gente que gosta de ostentar e eu não gosto disso.

Elaborado por Alex Gil Rodrigues exercitando um pouco de ironia em 12/07/2014 e chega de hehehe e kkkk que isso já encheu o saco! rsrsrs

11/07/2014

O futuro é mesmo um lugar que não existe.



Todos nós esperamos um futuro melhor.

Ter esperança é uma das muitas estratégias da natureza para suportarmos as dificuldades e acreditarmos que tudo passa e que dias melhores virão.

Quem não tem esperança, "morre" mais cedo.

O problema é quando esquecemos o presente a criamos expectativas demasiadas para o final de nossas vidas.

Deixar o melhor para depois é muito arriscado.

Já explico o por quê.

O futuro pode não ocorrer como imaginamos e perdermos todo o nosso presente.

O futuro é um lugar que não existe ainda...

Sua existência reside apenas na mente.

Nem sabemos se chegaremos lá.

Não é prudente apostarmos todos os sonhos numa determinada fase.

Escrevo isso porque me lembrei de Jacinto.

Jacinto era casado com Pandora.

Tiveram apenas um filho.

Ele trabalhou a vida toda para realizar o seu sonho.

Seu plano seria colocado em prática quando se aposentasse.

Para isso, fazia toda economia possível.

Sempre vendia parte de suas férias...

Na esperança de desfrutar algo melhor lá na frente...

E assim passou a vida toda esperando por esse dia mágico.

Seu sonho era construir um chalé no alto da serra e viver seus melhores momentos com sua mulher...




Possuía até a planta projetada em sua mente.

- Nesse chalé vamos ser felizes! - disse Jacinto à sua mulher.

- E se a gente não chegar até lá? - Ponderou Pandora.

Jacinto não respondeu e continuou seu projeto.

A realização era só questão de tempo...

Seu chalé seria de madeira, com lareira e duas cadeiras na varanda para sentir a brisa e o cheiro de eucalipto nas tardes frescas com sua esposa.

Projetava a felicidade nesse lugar perfeito.

A mente é uma ótima fábrica de sonhos.

Sonhar é importante para suportar as pedras do caminho.

E o tempo passou...

Jacinto aposentou-se.

Seu único filho casou-se na mesma época, formou-se e foi morar fora do país.

Jacinto e Pandora estão sozinhos novamente.

Como no início do casamento.

Uma vez por ano seu filho os visita, nas férias.

Compraram um lote de terra na serra.

Um lindo local...

O sonho de uma vida.

O Chalé estava quase pronto.

Jacinto estava feliz.

Pandora estava triste.

Tinha saudades do filho.

O tempo agora passava devagar...

Pandora ficou doente...

Morreu subitamente.

Como?

Morreu!

Jacinto sentiu o golpe...

O chalé ficou pronto...


As duas cadeiras balançam na varanda.


Jacinto se senta numa das cadeiras e se lembra da pergunta de Pandora:


- E se a gente não chegar até lá?


Jacinto suspira...


Ele chegou, ela não.

É melhor apostar no presente.


O futuro é mesmo um lugar que não existe.






Bobagens escritas sem preocupação exagerada com o futuro por Alex Gil Rodrigues em 11/07/2014.

07/07/2014

Viajar é preciso.


Quando eu era criança o meu mundo era a minha casa e o quintal.
Quase nunca viajava e nem sentia falta disso.
Os deslocamentos eram mínimos e se restringiam aos bairros vizinhos, casa de algum parente ou quando muito às cidades próximas.
Cresci sem necessidade de afastar muito de meu local de origem.
Porém, quando menos esperamos algo acontece e muda toda a história...
E quando isso acontece temos 2 opções: Ficar lamentando ou ir à luta...

Por falar em luta, deixa eu registrar um pensamento para lembrar um episódio importante que ocorreu em minha vida profissional que tem relação com o que desejo escrever (saio do tema mas já volto)... lembre-se que tenho o hábito de escrever livremente conforme os pensamentos aparecem (expliquei isso quando apresentei o Blog). Espero que isso não o incomode. rsrsrs (Obrigado pela compreensão!)

Em 2007, fui sobrevivente de uma grande empresa que funcionava a pleno vapor desde 1937 e que infelizmente fechou as portas na minha cidade natal e tive que ser transferido para outra cidade...

Tive a missão de ser o último a sair e apagar as luzes, mas essa história eu conto depois em outro tema, porque foi uma experiência extremamente marcante e merece registro, afinal não é todo dia que nos despedimos de TODOS os colegas de trabalho para SEMPRE depois de 22 anos de serviço.

Mas hoje não quero falar disso. lembrei disso porque queria falar de mudança e comportamento...

Quando mudei-me para outra cidade devido motivações profissionais, pude perceber a diferença entre uma pessoa que passou toda a sua vida num mesmo "habitat" e aquele que já "rodou" por outra cidade...

Ressalto que isso não é uma regra geral. Conheço pessoas que possuem "jogo de cintura" na arte do relacionamento às vezes até melhor do que pessoas viajadas, assim como existem pessoas "rodadas" que mantem a distância elitista, como se nunca tivessem saído do ovo, mas isso é outro caso...

Hoje entendo que a saída da casa dos pais e mudança de ares são fundamentais para a formação da pessoa, pois a torna melhor preparada para enfrentar a vida e a capacita para adaptação, relacionamento, independência... um monte de situação que se aprende apenas quando se está na "chuva".

O conforto e a segurança provisória da família pode se tornar uma armadilha àqueles momentos em que o inesperado bate à porta...

Moro atualmente 500 km distante de minha terra natal e consigo identificar alguns comportamentos...

Hoje até conheço melhor a minha cidade natal do que antes, pois agora tenho parâmetros e posso fazer comparações.

Percebi que quando uma pessoa trabalha num ramo onde possui contato com várias pessoas e diferentes pensamentos, ela perde aquela "trava de segurança" que a mantêm afastada das pessoas fora do convívio familiar...

Normalmente se relaciona de forma mais "aberta", conversada, expansível e menos desconfiada e isso facilita a vida da pessoa.

Acredito que essa exposição modifica a forma de enxergar o outro, melhora a relação. Torna-a mais acessível, quebra barreiras, facilita a aproximação com desconhecidos, sem aquele silêncio característico que denuncia que o sujeito é da "terra". Se bem que conheço gente simples com pouco contato mas com um afeto inacreditável nas relações...

Normalmente a pessoa que viveu em outros ares se torna menos bocó, menos imatura... 

Para quem não conhece esse perfil vou explicar. O sujeito é daquele tipo que observa muito, fala muito pouco e fica te observando no canto do olho até mesmo depois de um simples cumprimento.

Outro dia, precisei contratar um "profissional" para trocar o cabo de aço de meu portão eletrônico e começamos conversar de forma espontânea, enquanto ele trabalhava, sem pausas longas ou aqueles olhares típicos desconfiados típico do matuto tradicional que comentei anteriormente.


Era um senhor já aposentado que trabalhou a vida inteira com contato com gente e que pela sua desenvoltura, apesar do sotaque paulista, perguntei-o de onde ele era... Ele me disse que era realmente de São Paulo mas que vivia viajando antes de se aposentar e mudar-se para o interior... logo percebi o motivo de tal desenvoltura!

Eu disse a ele que só de conversar percebi que não era nativo, pelo modo natural de conversar com este forasteiro que escreve suas bobagens nesse blog.


Por outro lado tenho um outro exemplo oposto que valida minha tese nada confiável kkk de que a imobilidade torna a pessoa mais distante e reticente ao contato...


Em outra ocasião, precisei trocar a capa do banco de minha moto e fui até um local indicado na cidade para esse tipo de serviço, que consistia em retirar a antiga capa rasgada e substituir por uma nova. 


É um trabalho que demora uma hora e consiste na remoção do banco da moto, os grampos que mantem o couro na estrutura, recortar um pedaço de couro novo, utilizar o couro retirado como molde e montá-lo novamente na carcaça do banco. É bem artesanal o tal serviço...


O trabalho ficou muito bem feito, mas não é isso o que quero mencionar. O caso é o seguinte: Percebi que o homem que executou o serviço ficou calado por uma hora, sem esboçar NENHUM comentário, nenhum assunto e mal me olhava. Parecia um mudo. E olha que eu puxei assunto com ele e apenas o dono da loja conversava... 

O dono da loja por sinal, gostava de prosear. Era um coroa motociclista típico, com cabelo amarrado tipo "rabo de cavalo", que logo deduzi tratar-se de um aventureiro... e aventureiros como sabemos gostam de viajar, lógico e contar histórias...

Bem, o serviço terminou, paguei, agradeci e fui embora.

Um tempo depois, meio que por acaso, descobri acidentalmente que aquele rapaz que trocou o banco de minha moto trabalhava na mesma empresa a muito tempo e fazia "bico" nos finais de semana... Só descobri isso num contato casual, onde ele finalmente me falou que me conhecia e perguntei de onde...

Obs: Descobri que o camarada é gente boa...caso leia não fique chateado. Só o utilizei como exemplo...

Era o próprio que havia trocado o banco de minha moto!!! Ele me conhecia, mas preferiu ficar ouvindo a conversa em silêncio sem se identificar... 


Esses foram apenas dois exemplos bobinhos para ilustrar mas existem muitos...

Mas porque estou escrevendo isso? Bem, é que eu gostaria de passar uma dica (grátis rsrsrs) aos jovens: Viajem, explorem até encontrar o seu próprio caminho. Faça isso com planejamento (Muita mães não compartilharão essa dica, afinal mãe é parcial kkkk)... Não espere a vida te levar... escolha o seu caminha e vá.

Não te torne um escravo de seu ambiente e busque oportunidades em outros ares... No início é complicado mas depois se acerta. Isso é fundamental para ampliar seus horizontes, explorar o mundo, ter parâmetros, mais opções e não se tornar um sujeito com poucas alternativas...pois viajar é preciso.






Elaborado por Alex Gil após descobrir a pólvora em 06/07/2014.