20/08/2017

Melancolia



Uma breve entrevista sobre a melancolia. Acho Pondé arrogante mas nessa matéria até que ele foi desafetado. Gostei!




12/08/2017

Papai, a culpa não é sua!






Papai, ainda estou aqui!
Quanto tempo não te vejo!
Parece que foi ontem o seu último dia!
Jamais esquecerei! 
Eu tinha apenas 14 anos quando você se foi embora para sempre! 
É duro dizer "para sempre", mas a vida real é assim. 
Muita gente vai dizer que um dia nos encontraremos, mas não tenho essa ilusão. 
Dizem às crianças que as pessoas quando morrem se transformam em estrelas no céu. 
Entretanto, aprendi nos livros de ciência que estrelas não são pessoas. 
Papai, eu já cresci e aprendi também que devo aceitar a finitude da vida como um processo natural e inevitável. 
Quando você nos deixou, eu acreditava em algumas fantasias atraentes e reconfortantes, mas durante a sua ausência, tive que buscar explicações racionais sobre o mundo. 
A literatura e alguns autores me apresentaram algumas respostas mais coerentes para as minhas necessidades. Do céu recebi apenas o silêncio, mas disso também não reclamo. A vida é assim e pronto! 
Infelizmente tenho que aceitar que nunca mais vamos nos encontrar, por mais fascinante e encanto que a ideia ao contrário possa seduzir. 
Hoje interpreto a vida de uma forma diferente, mas a culpa não é sua. 
Aceito a beleza do jardim sem as fadas como bem disse Douglas Adams e estou bem assim. 
Sei que você jamais lerá essas palavras e nem saberá como foi a nossa vida depois que partiu, mas se pudesse te "dizer" algo, seria para agradecer por tudo e que você fez muita falta, além de sentir saudades até hoje. 
Uma pena não estar mais aqui papai! 
A culpa não é sua! 
Não foi fácil viver sem você, mas sobrevivemos. 
Ainda guardo muitas memórias de sua existência e como gostaria que estivesse almoçando com a gente. 
Depois que você se foi, passamos por muitas dificuldades, mas hoje estamos bem. 
Mamãe ficou viúva com três filhos adolescentes e fez de tudo para nos criar com dignidade, honestidade e com poucos recursos financeiros. 
Na época, com quatorze anos, eu não me conformava com a sua partida. Eu pensava que a vida era controlada por um Deus. Com o tempo, descobri que não existe ninguém no controle e que os eventos da vida não são programados e, portanto, a culpa não é de ninguém. Eu sou pai e jamais deixaria três crianças em dificuldades e sem o seu pai. 
De toda dificuldade que passamos, a sua presença foi a nossa maior carência e a que mais sentimos. 
Hoje eu sei que a natureza é cega, indiferente e implacável às nossas necessidades e que os humanos criam fantasias e outro mundo para suportar melhor a vida e por não aceitar a finitude. Sei também que a natureza não é justa e nem injusta, somos nós humanos quem criamos conceitos, classificamos e rotulamos as coisas. 
O roteiro da vida não é escrito por ninguém e a história de cada um é resultado de uma série de eventos e escolhas que realizamos durante a nossa existência. Não temos controle sobre grande parte de nossa vida e tentamos sobreviver fazendo o melhor que podemos (nem sempre), trabalhando incessantemente para termos uma vida satisfatória. 
Papai, dizem que nada acontece por acaso. 
Eu não acredito nisso. Muita coisa acontece por acaso, todos os dias. 
Inclusive mortes prematuras como a sua. 
Como disse anteriormente, a natureza não tem culpa. 
Todos somos vítimas. 
A culpa não foi sua. Aliás, a culpa não é de ninguém! 
A morte faz parte do processo da vida. 
Lembro também que nunca me deu um tapa, mas com o tempo levei alguns tapas da vida e isso também faz parte do aprendizado. 
Bem, tenho que terminar esse texto, antes que pensem que eu não esteja bem de saúde mental, escrevendo coisas para um pai que não existe mais... Mas isso não tem importância. Por uns instantes pude me lembrar de meu pai e sentir grato por ter existido, recebido o seu amor e a sua carga genética. Ainda sinto muito a sua falta, mesmo depois de tanto tempo! Teria muitas coisas para conversar, mas a nossa história foi interrompida e nunca conseguiremos colocar os assuntos em dia. Sinto muito, mas a culpa não é sua! 

Beijos imaginários de seu primogênito Alex! 
  
Papai e mamãe
Visita à Aparecida-SP
Papai adolescente



Casamento de papai e mamãe



No Jardim das Preguiças
Papai rapaz

Ele gostava de carnaval
Papai com 26 anos

Foto rara dele sorrindo






06/08/2017

Ferro velho, eu voltei!



Fazia muito tempo que eu não entrava num "Ferro-velho", mas a vida dá voltas e a necessidade nos obriga a procurar por estes lugares. 

Hoje vou contar uma história recente que ninguém está interessado, mas que apesar disso, gosto de registrar. hehe

Meu filho teve o seu carro furtado enquanto trabalhava e felizmente conseguimos recuperar o veículo abandonado na vizinha cidade de Limeira, no interior de São Paulo. Isso só foi possível porque o motor quebrou durante a fuga do ladrão. 

O carro é um Volkswagen Gol antigo e tive que procurar um bloco num ferro-velho, pois a compra de um novo é inviável. 

O ambiente do Ferro-velho é o mesmo de três décadas atrás quando eu precisava encontrar peças para o meu velho fusquinha. Nenhuma evolução ou organização. Peças espalhadas e amontoadas em tudo quanto é lugar, no piso, nas paredes, no balcão e onde o nariz apontar. 

Entrei, cumprimentei a pessoa do balcão e perguntei se ele possuía um bloco de motor para o Gol 1.0. 

O sujeito, do alto de sua preguiça e sentado num banco de madeira, apenas levantou o braço e apontou aos fundos da pocilga. 

Fui sozinho até o local onde seu dedo indicava, para procurar a peça! Logicamente eu não consegui identificar qualquer coisa no meio daquela bagunça. Eu esperava que pelo menos ele me acompanhasse até o local! 

Depois de alguns minutos procurando a esmo um bloco no meio de um monte de tralha, desisti e quando já estava saindo finalmente o sujeito reapareceu e me perguntou: 

- O bloco que você procura é para qual Gol? 

- É um bloco para um Gol 1.0, 16 válvulas. - respondi 

- Mas você não sabe se é Gol Bola, Geração 2, 3, 4, 5...? 

- Não, eu não sei. - respondi naturalmente. 

- MAS VOCÊ NÃO CONHECE CARRO? - perguntou-me quase gritando e surpreso pela minha ignorância nessa área. 

Nesse momento, respirei fundo e me arrependi de ter entrado, mas já era tarde. Ele deduziu que se eu não conhecesse a bosta das gerações do veículo Gol eu era um idiota, só pode! 

E a coisa não parou por aí. 

- Está vendo aquele carro ali? É um Gol Bola. - ensinou-me o rei da sucata. 

E prosseguiu transmitindo seu maravilhoso conhecimento sobre modelos de carros! 

Está vendo aquele carro ali na calçada? É um XXX! - Continuou o sujeito em tom professoral, tentando me salvar da ignorância de não ter esse "valioso" conhecimento. 

- Respondi a ele que aquele carro que ele apontava eu conhecia bem, afinal era o meu e perguntei-o também irritado se ele estava me achando idiota por não conhecer os tipos de Gols existentes!!! 

Como a conversa não estava sustentável, fui embora com o "conhecimento" de merda adquirido e torcendo passar mais 30 anos para não precisar entrar novamente num ferro-velho. 

Bem, antes de terminar, gostaria de registrar que não tenho os talentos que gostaria, mas até que consigo fazer algumas coisas satisfatórias. Até gostaria de ter determinados talentos, mas infelizmente talento não depende do desejo. 

Existe gente que escreve muito bem. Outros tocam instrumentos musicais que encantam. Há gente que fala inglês de forma invejável. E há aqueles que pintam quadros ou esculpem de forma extraordinária. Algumas pessoas possuem uma memória prodigiosa. Esses são exemplos de talentos que eu gostaria de ter ao invés de saber as gerações ou tipos de motores de carros que nada acrescentam na minha vida! 

Por hoje é isso!