26/02/2016

Minha filha


Hoje quero escrever sobre Júlia. Mas quem é Júlia aos olhos da humanidade?

Apenas mais uma menina nesse planetinha indiferente com mais de 7 bilhões de habitantes.

Aos meus olhos ela é uma pessoa muito importante, pois em suas veias navegam nosso sangue, nossa herança genética, nossos reflexos e nossa melhor parte. 

Antes de continuarmos, por que estou escrevendo algo tão pessoal e sem interesse ao grande público?

Simples. Este Blog também funciona como um diário íntimo e extensão de minha memória para a posteridade. E, claro, porque aqui no Blog nada é segredo. Tenho a pretensão de que lá no futuro, minha família ou algum descendente mais curioso, se desejar, tenha acesso aos pensamentos de seu pai, avô ou quem sabe bisavô! 

Meu pai não deixou nada escrito e sempre tive curiosidade de conhecê-lo melhor. Quase todas as pessoas que o conheceram não estão vivas ou tiveram contato apenas superficial.

Não falo com meu pai desde os meus 14 anos e infelizmente esse diálogo não será mais possível, pois ele não existe mais.

Voltando ao tema, deixe-me apresentar a minha "princesa" Júlia que, por falar em princesa, adora o filme Frozen. Pois bem, ela é uma menina morena, magrinha, baixinha e muito tímida. Gosta de jogos de notebook, pintar as unhas e prender os cabelos enquanto a sua franja cresce. Embora precoce, possui personalidade forte e acho que também herdou do pai esse "problema".

Nosso primeiro contato foi numa manhã de 14 de Março de 2006.

Aparentemente era mais um dia comum, mas só aparentemente, pois esse dia será lembrado até o resto de minha vida.

Eu estava sentado numa confortável poltrona do hospital, talvez lendo alguma coisa para o tempo passar, mas confesso que esse detalhe não mais me recordo. Fiquei esperando-a sem nervosismo pois estava confiante. Sabia que seria uma menina e que se chamaria Júlia.

O relógio redondo na parede marcava 8:15 h e já estava sentindo vontade de tomar um café, quando uma enfermeira apressada apareceu na minha frente, segurando-a enrolada num pano branco. Ela berrava muito, mas não era um choro normal, era uma espécie de escândalo! 

Fiquei paralisado prestando atenção naquele rostinho até então desconhecido e pensando como pode uma pessoa tão pequena possuir tanta potência vocal! 

Nem tive tempo de abrir a boca e falar qualquer coisa do tipo "Muito prazer, sou seu pai" e a enfermeira mais apressada do que aquele Coelho Branco de Alice a levou embora.

Esse foi o nosso primeiro encontro: rápido e barulhento!

Aquela imagem de sua boca vermelha, seu choro e olhos fechados foram minhas primeiras impressões. Fiquei meio assustado com a nossa apresentação barulhenta mas depois me aquietei. 

Assim que a enfermeira foi embora acompanhei ela entrou numa sala com uma porta escrita "Proibido a entrada de pessoas não autorizadas". Para a minha sorte existia um retângulo de vidro transparente na parede lateral que permitia bisbilhotar tudo que acontecia lá dentro.

Estiquei o pescoço e esquadrinhava tudo que acontecia, pois não queria perder nenhum detalhe.

Nesse momento, veio até a minha presença o médico responsável pelo parto avisar-me que a minha esposa estava bem e se recuperando. 

Agradeci-o e permaneci de plantão acompanhando a enfermeira deitar aquela menininha, numa espécie de estufa.

Quase uma década depois, Júlia cresceu, lógico.

O tempo passou e hoje vejo que ela é uma garotinha inteligente porém não gosta de conversar com pessoas fora do círculo familiar e mesmo assim apenas as mais próximas.

Ela não possui deficiência auditiva não! Apenas não gosta de falar com os outros. Nem com a professora!

Em casa até que ela solta um pouquinho a sua voz.

No geral, o seu sorriso é para poucos.

De modo geral, tornou-se uma menina silenciosa e introspectiva. Na realidade, observa mais do que fala.

Quando a cumprimentam, ela não responde. Parece que não se sente a vontade.

Braço esticado em sua direção para cumprimentá-la retorna sem o esperado aperto de mãos.

Júlia é uma menina séria e emburrada!

Na escola possui apenas duas amigas e nunca fez aula de educação física, pois não possui interesse de interagir através do esporte. Isso pode ser um problema futuro.

Herança genética? Pode ser. 

Gargalhada apenas entre íntimos em situações bem particulares.

Quando fitada, abaixa a cabeça. Às vezes realiza esse gesto até com a própria família.

Quando sorri, morde os lábios de vergonha até não mais conseguir e finalmente mostrar os dentes.

Ela fica linda quando sorri, talvez pela economia daquilo que a torna mais bela.

E também detesta ser o centro da atenção e se irrita quando muito observada.

Em seus aniversários ela nunca aparece nas fotografias. As crianças se reúnem em volta do bolo sem a aniversariante. Ele tem muita vergonha de ser homenageada. Eu também tenho esse problema. Acho que recebi poucas homenagens na vida ou tenho também um problema psicológico mal resolvido com essa questão.

Para evitar esse constrangimento de nunca estar presente em sua própria festa, resolvemos não fazer mais a festa e comemorarmos no Shopping D. Pedro que ela adora. Nesse dia, ela leva uma colega e escolhe o lanche e a diversão que quiser.

Júlia também adora animais. Atualmente possuímos uma cachorrinha chamada Sofia e um gato chamado Nino. Seu nome inicial era Paçoca, mas não pegou e ficou Nino mesmo.

Confesso que tenho ciúmes desse gato, pois percebo que ele recebe mais carinho do que eu.

Seus passatempos favoritos são computador, jogos eletrônicos e bicicleta, nessa sequência de preferência.

Júlia é introspectiva e às vezes nem nota que cheguei do trabalho de tão compenetrada que fica no notebook. Sofia nunca me ignora e sempre que chego ela é a primeira a me receber com uma saudação através do movimento pendular de seu fino rabinho.

Procuro não ligar quando Júlia não olha para mim quando chego em casa. Mas ligo sim!

Eu sei que é o jeito dela e não tento mudá-la. Um dia isso passará. Talvez o nome disso seja foco. 

Espero que esse comportamento seja positivo em sua vida profissional.

Júlia, hoje foi a primeira vez que contei um pouquinho de sua história desde o nascimento. Interromperei esse texto por aqui para que não fique longo e aborrecido. No futuro, escreverei mais sobre você.

Papai te ama hoje e sempre!

Que sua vida seja próspera, independente e feliz. 


Beijos!



Obs: Rodrigo, meu filhão, outro dia escrevo para você também! 

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