09/11/2019

Viúva corporativa





Hoje vou contar a história de Richard.
Richard era um sujeito com pedigree e vivia no planeta Corpo Ration.
Ele era tão perfeccionista e organizado, mas tão organizado, que anotava todos os seus compromissos e objetivos numa planilha de Excel. Nada escapava de Richard. Tudo descrito, conferido, avaliado, com data, prazo de execução, kpi, responsável e uma última coluna com check-list. Sua planilha continha tabela dinâmica, Procv, VBA, Dashboard, macro, gráficos coloridos e muitos hiperlinks!
O sujeito era tão organizado, mas tão organizado, que anotava até os centavos com sua alimentação, combustível e esmola.
Richard era muito bom na arte do Power Point, mas sua perfeição acabava por aí, pois seu maior talento era ser baba-ovo das castas superiores. Desgraçado de quem reclamasse qualquer coisa do planeta Corpo Ration perto dele. Reclamou perto de Richard que a beterraba servida estava ruim? Richard já soltava a sua pérola de que na África existe criança passando fome! A repreenda era automática e o sujeito logo ameaçado. Richard não tinha vida pessoal. Sua vida era limitada, mas escrito dessa forma: Ltda. O tempo passou e certo dia, o planeta Corpo Ration resolveu abolir as planilhas em Excel e foi implantado o revolucionário Project ZohoSheet. Richard além de não dominar o novo sistema, não aceitava a extinção da planilha Excel. De tanto resistir às mudanças, Richard levou um belo pé na bunda e descobriu da pior forma que o seu controle não era mais necessário.
Richard saiu da Corpo Ration pela porta dos fundos e não se conforma. Além disso se sente traído e se torna um sujeito com problemas de fígado. Aquele fidalgo traído que não se conforma com a galhada e pragueja sem piedade para o padeiro, lixeiro e até para o açougueiro! Richard se tornou um inimigo da Corpo Ration e amaldiçoava aquele planeta todos os dias. Richard destilava suas dores no Instagram e Facebook, mas ninguém ligava. O tempo passou e as pessoas que habitavam Corpo Ration foram embora para outra Corpo Ration que pagasse mais, mas Richard não conseguia esquecer aquele ambiente. Os novos habitantes do planeta nem sabiam da existência de Richard, mas ele falava de Corpo Ration como se ainda tivessem aquelas pessoas que o magoaram, não se dando conta que o planeta não era o mesmo e haviam outros habitantes que nem sabiam que Richard um dia pisou ali.
Richard se transformou numa viúva corporativa e não sabia!
Abre seu olho Richard! A fila anda!

O jovem e o velho







Na juventude todos os projetos são possíveis.
O céu é o limite e o chão para os fracos!
Na juventude somos arrogantes, prepotentes e idealizadores.
Imaginamos que para se conseguir qualquer coisa, basta querer!
É a fase do "querer é poder"!
Haha!
Acredita-se convictamente nessa frase.
Jovens são convictos!
Nietzsche disse que as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras!
Eu também já fui um desses! Acreditava que o pensamento movia o mundo e que quanto mais forte o meu "querer", mais rápido alcançaria o que eu desejasse.
Para o jovem tudo é possível: O sucesso, a beleza, o futuro e a riqueza.
Até que um dia... Cronos nos lembra que tudo será reavaliado!
Acontece com todo mundo!
Tudo tem um prazo de validade, até os sonhos!
O jovem pensa que entende de velhice sem ter ficado velho
É como querer falar de filhos sem ter filhos!
Ou como aconselhar casal sem ser casado!
Para o jovem, o mundo se divide em bonito ou feio...uma espécie de maniqueísmo!
A culpa é dos hormônios.
O jovem olha para o velho como um derrotado e sem objetivos.
Não é nada disso, querido jovem!
Um dia você também vai ser velho.
Conforme o tempo avança, aceitamos que nem tudo é possível, aliás quase tudo é impossível.
É a consciência de que somos limitados e finitos.
A luta no futuro será pautada por outras necessidades.
Manter o que se conquistou também consome energia.
O tempo é curto para grandes projetos
Nessa época, é melhor reunir todas as forças, garantir o chão e parar de sonhar com as nuvens.
Eu também já tive projetos não realizados e pior, interrompidos.
Não terminei de escrever o meu livro, não aprendi a nadar e não virei astronauta!
Sobre o livro, na verdade, eu quase terminei, mas inesperadamente parei faltando pouco para acabar!
As vezes me pergunto porque não terminei!
Acho que perdi o interesse.
Ninguém conheceu meu personagem e sua pacata vida.
Ele existe apenas em meu caderno e em minha mente.
Seu nome é Zara Crotone!
Por que Zara?
Ah! Não tem um motivo especial!
Zara foi uma homenagem ao Zaratustra do filósofo do martelo.
Quanto ao sobrenome Crotone, foi uma homenagem à uma cidade da Itália.
Nunca fui à Itália, mas o imaginei vivendo naquela terra de Leonardo da Vinci.
E porque estou falando de Zara?
Não sei! Estava falando sobre projetos interrompidos...
As vezes penso em terminar a sua história que está apenas em minha cabeça!
Mas para quê?
Quase ninguém mais gosta de leitura!
O mundo se tornou rápido demais para se perder tempo com histórias inventadas.
Além disso, histórias devem ser contadas para quem gosta de ouvir.
Hoje existe muita boca para pouco ouvido.
E haja boca suja! Ademais, não quero ser lido depois de morto!
Bem, preciso concluir esse tema... já que está ficando longo demais e também não desejo aborrecer ninguém!
Iniciei escrevendo sobre jovens e acabei falando do velho Zara?
Mas por que o rumo de nossa prosa mudou?
Ah! lembrei-me!
Zara também foi um jovem cheio de sonhos!
Ele queria contar a sua história, mas pensando bem, quem quer saber de Zara?
Bem, fico por aqui, chega de escrever histórias inventadas para ninguém.



Elaborado por Alex Gil Rodrigues em 09/11/2019